Eu chego em casa, exausto.
Não sei o motivo ao certo, mas eu estou acabado e viver não é mais uma opção.
Jogo a mochila que carrego no chão e ando vagarosamente pelo corredor . Caminho diretamente para a cozinha e tomo água.
Respirar?
Está sendo cada vez mais difícil.
Finalmente chegou o dia que eu irei desistir de tudo.
Mas então, repentinamente, a imagem daquele menino do sonho aparece em minha cabeça.
Ele é tão lindo. Não importa se somos crianças, eu sempre o vejo. Pena que não consigo recordar-me de seu nome. Já tentara fazer isso tantas vezes, que parece ser impossível lembrar-me dele algum dia.
Delicadamente, a cena do sonho que tive com ele percorre minha mente de maneira inesperada.
Meu cérebro só pode estar brincando comigo. Não é possivel.
Éramos crianças e estávamos brincando, correndo. E o detalhe engraçado, era que meu cabelo era rosa.
Em pé, na cozinha, lembrando-me daquele sonho, pego-me rindo fraco. Um sorriso de canto aparece na minha face e eu sinto uma lágrima escorrer pelo meu rosto.
Retorno a lembrar-me daquele sonho que eu queria ter vivido.
Queria tanto que houvesse realmente acontecido, que desenhei aquela cena. Precisava marcá-la para nunca mais me esquecer dela.
Então, o menino cai por cima de mim e encara meus olhos, no lugar mais profundo. Ele olha-me através do meu corpo; ele pode enxergar minha alma, quem eu sou. E eu era capaz de amá-lo tanto, que podia ver que havia alguma coisa de diferente nele. Ele estava destinado a algo. A mãe dele parecia tão... Triste o tempo inteiro. Ela sabia de alguma coisa, ela sabia do que ia acontecer.
Largo o copo na pia e direciono-me para meu quarto, passando pelo mesmo corredor pelo qual entrei. Subo as escadas perdendo o controle da situação, do meu corpo. Com certeza notarão que terei fugido do colégio no meio das aulas e chamarão meus pais. Não chamarão, mas irão avisar que eu sumi. Talvez olhem nas câmeras para terem certeza.
Meus pais, o que farão? Bem, ligarão para mim para esclarecer essa palhaçada.
Não irei atender, porque estarei ocupado demais na banheira, esperando o quinto toque do celular para eu poder, então, tomar os 30 remédios que meu pai usa como calmante e afundarei meu ombros, deixando meu tronco coberto por água.
Dormirei de baixo d'água, esperando não acordar quando a mistura de hidrogênio e oxigênio líquida invadir meus pulmões. Espero que não. Pelo menos não muito.
Egoísmo? Suicídio é um ato egoísta?
Não, não é.
Na verdade, seria se alguém se importasse comigo. Uma vez que isso não ocorre e nem meus pais se importam, não tem problema.
E também, não só irei me matar porque ninguém se importa comigo, mas porque eu sou o meu maior desafio. E eu não consigo sobreviver a isto.
Não vejo porque continuar vivendo, já que vou morrer e já que sei que irei sofrer pelo resto dessa minha vida inútil.
A brincadeira é essa: descobrir o que vem depois da morte. Quem serei eu, onde estarei.
Não se sabe, então só me falta descobrir. E eu, certamente, irei.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Omelas | Pjm + Jjk (CONCLUÍDA)
FanfictionEssa é a história de duas almas ligadas antes mesmo do nascimento. A história de duas linhas entrelaçadas eternamente desde antigas vidas. Essa é a história do amor verdadeiro e do companheirismo. O momento em que vão descobrir coisas novas junto...