Quebra-cabeças

420 54 14
                                    

Eu chego em casa, exausto.

Não sei o motivo ao certo, mas eu estou acabado e viver não é mais uma opção.

Jogo a mochila que carrego no chão e ando vagarosamente pelo corredor . Caminho diretamente para a cozinha e tomo água.

Respirar?

Está sendo cada vez mais difícil.

Finalmente chegou o dia que eu irei desistir de tudo.

Mas então, repentinamente, a imagem daquele menino do sonho aparece em minha cabeça.

Ele é tão lindo. Não importa se somos crianças, eu sempre o vejo. Pena que não consigo recordar-me de seu nome. Já tentara fazer isso tantas vezes, que parece ser impossível lembrar-me dele algum dia.

Delicadamente, a cena do sonho que tive com ele percorre minha mente de maneira inesperada.

Meu cérebro só pode estar  brincando comigo. Não é possivel.

Éramos crianças e estávamos brincando, correndo. E o detalhe engraçado, era que meu cabelo era rosa.

Em pé, na cozinha, lembrando-me daquele sonho, pego-me rindo fraco. Um sorriso de canto aparece na minha face e eu sinto uma lágrima escorrer pelo meu rosto.

Retorno a lembrar-me daquele sonho que eu queria ter vivido.

Queria tanto que houvesse realmente acontecido, que desenhei aquela cena. Precisava marcá-la para nunca mais me esquecer dela.

Então, o menino cai por cima de mim e encara meus olhos, no lugar mais profundo. Ele olha-me através do meu corpo; ele pode enxergar minha alma, quem eu sou. E eu era capaz de amá-lo tanto, que podia ver que havia alguma coisa de diferente nele. Ele estava destinado a algo. A mãe dele parecia tão... Triste o tempo inteiro. Ela sabia de alguma coisa, ela sabia do que ia acontecer.

Largo o copo na pia e direciono-me para meu quarto, passando pelo mesmo corredor pelo qual entrei. Subo as escadas perdendo o controle da situação, do meu corpo. Com certeza notarão que terei fugido do colégio no meio das aulas e chamarão meus pais. Não chamarão, mas irão avisar que eu sumi. Talvez olhem nas câmeras para terem certeza.

Meus pais, o que farão? Bem, ligarão para mim para esclarecer essa palhaçada.

Não irei atender, porque estarei ocupado demais na banheira, esperando o quinto toque do celular para eu poder, então, tomar os 30 remédios que meu pai usa como calmante e afundarei meu ombros, deixando meu tronco coberto por água.

Dormirei de baixo d'água, esperando não acordar quando a mistura de hidrogênio e oxigênio líquida invadir meus pulmões. Espero que não. Pelo menos não muito.

Egoísmo? Suicídio é um ato egoísta?

Não, não é.

Na verdade, seria se alguém se importasse comigo. Uma vez que isso não ocorre e nem meus pais se importam, não tem problema.

E também, não só irei me matar porque ninguém se importa comigo, mas porque eu sou o meu maior desafio. E eu não consigo sobreviver a isto.

Não vejo porque continuar vivendo, já que vou morrer e já que sei que irei sofrer pelo resto dessa minha vida inútil.

A brincadeira é essa: descobrir o que vem depois da morte. Quem serei eu, onde estarei.
Não se sabe, então só me falta descobrir. E eu, certamente, irei.

Omelas | Pjm + Jjk (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora