A carta

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Jeon Sooyan estava desesperada.

Um tempo depois de que Jeongguk foi levado, ficou cada vez mais impossível de respirar, mais impossível de viver.

O peso da solidão quebrava suas costas.

Ela podia sentir a dor de seu filho. Ela podia sentir os maus tratos que ele sofria. Ela tinha a certeza total de que podia escutá-lo gritando e agonizando naquele lugar em que haviam colocado o menino.

Desde o dia em que Jeongguk fora posto nos ombros do homem do Conselho e desacordado por eles, ela não conseguia dormir.

Pesadelos terríveis corrompiam sua mente e era como se ela estivesse desmoronando sozinha, sofrendo de um jeito que nunca havia sofrido.

Em Omelas, supostamente, não deveria haver dor, porém o laço que tinha com a Criança de Omelas era fortíssimo, já que ele havia saído de seu ventre. Sangue do seu sangue.

Não mantinha mais a consciência. Comia como um pequeno pássaro e se comesse mais do que ela comia, passava mal e vomitava tudo, ou ficava com diarréia. As olheiras já chegavam em suas maçãs do rosto, vivia desmaiando pela casa e suas roupas começaram a ficar grandes demais para si.

Não era possível viver assim. Ela não aguentava mais.

E todas as noites, em seus sonhos, Jeongguk aparecia para culpá-la por tê-lo deixado ser levado. Ele gritava, a chamava nomes horríveis, terríveis, que ela nunca, jamais, fora capaz de chamar.

A inocência do seu menino havia sido deixada. Tudo o que jamais gostaria que acontecesse.

Então, numa noite de inverno, Jeon Sooyan vestiu-se com um casaco pesado e quente e passou a procurar seu menino pela cidade de Omelas. Ou melhor, pelo Parque de Diversões da cidade.

A noite não parava de passar. Neve caía e pessoas com roupas finas corriam pelo lugar, brincando de guerra de bolas de neve de um lado para o outro. Nenhuma delas pareciam sentir o frio que ela sentia. Era realmente como se Sooyan estivesse se deteriorando, por cada lágrima de sofrimento que deixava cair e por cada momento que passava se culpando e procurando salvar seu filho. Por causa disso, ela sentia fome, os efeitos da dor e uma bolha gigante de vontade de morrer.

Havia passado por cada atração do parque, por cada canto e não havia achado.

Mas no fim, depois do Túnel do Amor, viu a saída e se dirigiu até lá. Desceu lentamente a escadaria escura daquele lugar frio. Se tremia até os ossos e passava mal psicologica e fisicamente. Aquilo era demais para ela. Os degraus pareciam rebater cada vez que pisava para descer.

Então viu os homens enormes e escuros por causa da falta de luz, bem na frente da grande porta de metal escura. Aqueles dois homens que haviam tomado seu menino. Seu filho.

Chegou na frente deles, sentindo calafrios da cabeça aos pés. Seus cabelos e seu rosto estavam cobertos pelo capuz. As lágrimas desciam quentes pelo seu rosto e seu coração palpitava a cada arfada muda que dava. Aquilo era uma mistura de auto-controle e desespero em uma mulher só.

A raiva emanava de seus poros. Ela fechou os punhos e cravou as unhas na palma da sua mão, para tentar controlar-se e não matar aquelas duas pessoas horríveis que se prostravam na sua frente.

O tempo parecia não passar.

- Para você sair, só pode ser por aqui. Esta porta vai definir o seu destino - a voz mais repugnante que ela poderia escutar falou. Em seguida, sentiu uma dor na palma da sua mão e algo molhado escorrer por ela. Sangue. Estava descontando toda a raiva por eles em si mesma. Quase rosnava de ódio. Quase se jogou em cima de um e arrancou a cabeça dele. O outro que falara, ela gostaria de fazê-lo sofrer como nunca havia sofrido antes. Sim. Ele merecia aquilo. Merecia aquilo por ter tomado seu menino de si. - Tem certeza que quer continuar?

Omelas | Pjm + Jjk (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora