Erick

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Ele me deixou.

Bem no dia do seu aniversário.

Eu disse na carta que eu tinha o mandado, que deixá-lo partir não era uma opção. E a culpa era minha.

Não. A culpa era dele por ter me deixado.

Como foi capaz de fazer aquilo logo depois do nosso primeiro beijo?

Como foi capaz de me ignorar enquanto eu gritava por ele na praia, como um desesperado?

Como foi capaz de me deixar, aquele inútil?

Depois que se passaram sete meses de sua morte, em vez de progredir, eu me afundei.

Passei a vê-lo em todos os lugares da casa, falava sozinho, deitava em sua antiga cama, tentando sentir seu cheiro. Aquele cheiro cítrico suave que exalavam suas roupas. Ele adorava aquele amaciante.

Passei a procurar pertences que ele havia esquecido na casa, mas eu nunca achei.

Quando a mãe dele veio buscar suas coisas, ela estava um caco. Eu também estava.

Mas não ousei falar com ela. Apenas nos olhamos e fomos capazes de entender o sofrimento do outro. Naquele instante, ela soube que eu e Jimin éramos algo mais. Ou tínhamos a intenção de ser.

Ou eu, pelo menos tinha essa intenção.

Naquele data 10/10/10, quando eu levantei-me foi para comprá-lo uma água de coco, que havia me dito que sentia tanta falta. Eu quis agradá-lo, já que era seu dia. Ele merecia aquilo tudo por ter melhorado e mudado de posição em relação à viver.

Até eu vê-lo, no meio do mar gelado, com a água salgada batendo, violentamente, em seu peito.

Seus cabelos negros estavam encharcados.

Gritei pelo seu nome, chamei, esguelei-me, mas ele não virou. E, simplesmente, afundou. Assim, do nada.

E não voltou à superfície. Enlouqueci.

Joguei-me no oceano gelado e nadei em direção aonde eu havia visto o corpo de Jimin sumir.

Mas uma força me puxava para trás, como se não quisesse que eu chegasse perto dele. Como se eu estivesse interrompendo as próprias águas de matá-lo.

Eu não quis saber e pus-me a remar mais forte com os braços, até eles queimarem. Minhas pernas estavam dormentes, mas eu estava nadando para salvá-lo.

Enfiei a cabeça debaixo da superfície e abri os olhos.

Ele estava de braços abertos, completamente rendido. 

Estava mais pálido do que o normal.

Seus cabelos pretos não estavam mais pretos.

Estavam brancos.

Desci e o puxei comigo, nadando de volta.

Meu coração batia tão forte e meu corpo queimava tanto, que eu pensei que fosse explodir. Pensei que tudo fosse explodir e eu queria que tivesse explodido.

Ao jogá-lo na areia da praia, tentei ouvir as batidas de aeu coração, algo que mostrasse que estava vivo.

Batidas lentas e espaçadas preenchiam seu peito e o terror preenchia o meu.

Até que o coração dele parou.

Comecei a fazer massagen cardíaca.

Eu respirava tão desesperadamente, que eu pensei que eu mesmo fosse morrer.

Enquanto eu o massagiava cardiacamente, eu mirava seu rosto, pálido e quase roxo, de gelados. Seus cabelos, misteriosamente, adiquiriram o tom branco.

Mas eu estava tão desesperado, que não pude pensar em nada e meus olhos enchiam-se de lágrimas. Eu não podia perdê-lo. Comecei a gritar.

E gritei enquanto tentava reanimá-lo.

Pedi pra Deus que trouxesse meu menino de volta, pedi pra o Satanás trazê-lo de volta. Eu pedi para qualquer entidade trazê-lo de volta. Para mim. Para meus braços.

Continuei gritando e não consegui me dar conta de quanto tempo passei tentando fazer Jimin voltar à vida, mas lembro-me de sentir-me mal e acabar desmaiando ao seu lado.

Quando acordei, estava num quarto de hospital, deitado em uma cama.

Tinha soro alimentando minhas veias.

- Ora, que bom que acordou! - Disse um homem careca ao entrar no quarto. Ele estava de jaleco. Era o médico que havia me atendido. - Como está se sentindo?

- Como ele está? - Perguntei, ignorando sua indagação. Eu apenas queria saber como ele estava.

- Quem?

- Jimin. Como ele está?

O homem demorou uns segundos para entender de quem eu estava falando.

- Ah.

- E então?

- Bem, esse assunto é delicado. Você sabe alguém que possamos ligar? Algum responsável por ele?

- O que aconteceu? Me responde!

- O que você é dele?

- Namorado. Eu sou o namorado dele.

O médico arregalou os olhos e engoliu pesado.

- Então... - Ele disse, depois de suspirar. - Ele está em coma.

Naquela hora, minha cabeça viajou um pouco e eu pude lembrar-me de seu sorriso, de nós falando sobre o futuro deitados na grama dessa merda de casa de reabilitação.

Eu só queria ter sumido, ido pra onde ele foi junto com ele.

Pela primeira vez, senti que pertencia à algo. E não era à um lugar, mas sim, ao coração dele. Eu pensava ser seu, mas não foi assim que funcionou. Esse amor era unilateral: todo da minha parte.

Agora eu estou aqui, sentado na cadeira giratória do quarto antigo que Jimin dormia, girando nela, como se eu fosse um idiota. E falando sozinho como se eu fosse esquizofrênico. Contando essa história toda dos meus sentimentos para o nada, como se o próprio Nada quisesse saber.

Levanto-me e vou até seu armário, como sempre faço, procurando algo que me lembre ele. Algo que eu possa ter que seja dele que eu possa ter comigo para sempre.

Fico ali todos os dias, esperando que apareça. Que me faça uma surpresa. Que seja, apenas, uma brincadeira de mau gosto da vida comigo. Do mesmo jeito que ela sempre tem brincado com a minha cara.

Procuro em todos os lugares. 

Mas não encontro nada, como sempre, e jogo-me em sua cama.

Um barulho se faz debaixo dessa.

Levanto-me e olho, procurando algo que caiu.

É o diário dele.

♡♡♡

Obrigada por ler até aqui e não esquece de deixar a estrelinha!!

Omelas | Pjm + Jjk (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora