Presente e passado

217 43 7
                                    

Olho janela à fora. O dia está calmo e ensolarado, como sempre. Mas meu corpo, minha mente, não estão nada ensolarados.

O mar traz as ondas, pacificamente, para a praia, encostando, levemente, nas conchas. Às vezes a agua leva as conchas para dentro do oceano, às vezes não.

Passo minha mão nos meus fios rosados, de forma que eles caiam, informalmente, sobre meu rosto. Meus cabelos estão, relativamente, grandes, porém não penso em cortá-los.

Respiro fundo e viro a cabeça, mirando meu quarto. Os tons pastéis cobrem minha cama, a cortina. O quadro que Taehyung pintou de mim, dormindo, está do lado da janela.

Sinto falta dele.

Porém, ao lembrar-me de sua expressão desesperada, quando eu neguei o beijo, meu coração se parte.

Mais do que está partido.

Porém, nada é pior do que ter visto aqueles cinco meninos desconhecidos atirando-se do penhasco e não ter um desfecho decente.

Estão vivos?

Mortos?

Quem são eles?

Por que eu estou sentindo isso? Por que meu coração está batendo como se quisesse desistir?

Os dias e as noites se puseram a passar. Não consigo sair de casa, não faço muita coisa. Nem Yoongi, nem Taehyung vieram visitar-me e eu estou me sentindo estranho.

Já me senti assim, mas não parece ser natural.

Será que eu poderia estar doente? Não. Fora de cogitação, uma coisa dessas.

"Aqui ninguém fica doente e você sabe disso", disse Taehyung para mim, enquanto estávamos juntos.

Sinto falta dele. Sinto-me distante, vazio.

Sim. "Vazio" é a palavra que pode me descrever agora, porque eu não sei o que fazer com minha vida. Nem com a minha existência.

Nem com a existência daquele menino, Jeongguk.

Ele não sai da minha cabeça desde o dia em que eu pude lembrar-me de seu nome.

O dia em que eu parecia tão feliz e tudo era tão sensível, que parecia ser verdade. O cheiro da grama era doce demais para ser mentira. Parecia que aquilo havia acontecido. Parecia que eu havia respirado junto dele, rido com ele, estado com ele.

E eu sinto algo tão forte quando eu penso em seu sorriso, em seus olhos grandes. Em seus dentes de coelhinho.

É como a ressaca do mar: tão poderosa, e tão verdadeira, que arrasta todos os meus sentimentos para o menino dos sonhos, assim como a água arrasta a areia da praia junto com as conchas e as algas marinhas para a imensidão azul.

O menino dos sonhos que nunca poderei tocar.

Talvez não exista a doença em Omelas, mas, com toda a certeza, existe a loucura.

E se a loucura for uma doença?

Então eu sou o primeiro a ficar doente.

                              》》》

Nós dois estávamos lá.

De novo.

Ela não conseguia me encarar. Sentada, cruzava e descruzava suas pernas. Balançava seu pé em um ritmo nervoso. Seu rosto estava marcado pela raiva, segurando as lágrimas, bufando de uma maneira que eu nunca havia visto. Ela, geralmente, escondia-se no quarto para chorar sozinha enquanto meu pai viajava a trabalho.

Omelas | Pjm + Jjk (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora