Capítulo 15

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Tyler
 
Senti-me murchar. Não havia nada aqui. Senti quando fiz um beicinho ao passar pela porta. Não estava certa de que sala era aquela, mas parecia um escritório. Tudo na casa gritava “antiguidades”. Só havia coisas antigas, com mobiliários muito caros. Só a mesa parecia custar o meu salário de um ano, talvez dois.
Enquanto olhava a estátua da cabeça de Davi, do outro lado da sala, ponderei quem no mundo poderia viver aqui. Por algum motivo, não conseguia imaginar que o infame Sr. Gatsby fosse tão velho quanto todas as relíquias o faziam parecer. Apesar de tudo à minha volta gritar maturidade, eu tinha a sensação de que ele era muito jovem. Talvez pelo fato de que todas as pessoas na festa tinham mais ou menos a minha idade. Ou ainda, por não conseguir imaginar que um ricaço cinquentão ficaria à espreita, nas sombras, apenas espiando, em vez de agir como um bom anfitrião.
Balançando a cabeça, segui em frente, até que ouvi um barulho que quase me matou do coração. Fosse o que fosse, me fez sentir uma vontade súbita de fugir ou correr, como num filme de ação, para a parte de trás do balcão. No entanto, tudo que pude fazer era ficar lá, como uma idiota, pronta para enfrentar o que estivesse por trás daquela porta.
Como ninguém entrou, dei de ombros e saí, descendo as escadas, em busca de Louisa. Quem sabe Pete já a tivesse deixado. Quando cheguei ao final da escada, um som me chamou a atenção. Era abafado, como um grunhido. Parecia vir do porão, mas não tinha certeza. Como sempre, meu lado curioso venceu a batalha e me vi descendo as escadas. Quando cheguei na direção de onde vinha o som, havia uma porta fechada, mas eu sabia que havia alguém atrás dela. Os sons eram quase animalescos. Era assustador, mas erótico, ao mesmo tempo.
Naquele momento, me perguntei se eu seria corajosa o suficiente para entreabrir a porta. Eu não tinha certeza, mas parecia como se alguém estivesse lutando boxe. Com o coração disparado e a garganta seca, agarrei a maçaneta da porta.
Então, meu coração parou em minha boca ao sentir a mão de alguém em meu ombro.
― Senhorita, você não pode entrar aí.
Num salto, virei e encontrei o mordomo me olhando, parecendo impressionado. Então, tudo ficou em silêncio do outro lado da porta. Quem quer que estivesse lá dentro deve ter nos ouvido.
― Sinto muito. Só estava tentando encontrar um banheiro.
Encolhi-me por dentro. Que furo, Tyler. Ainda bem que não parecia uma mentira tão óbvia.
Virando na direção da escada, ele falou para mim:
― Se você subir por essas escadas, há uma porta à sua direita. Ali é o banheiro.
Encarei isso como a minha deixa para sair e o fiz o mais graciosamente possível, com o rabo entre as pernas. Quando cheguei ao topo, me virei brevemente e vi que o mordomo havia desaparecido. Ele deve ter entrado na sala proibida.
― Aí está você, Tyler! Estava te procurando.
A voz de Louisa me fez pular, quando ela falou. Tudo estava me assustando, esta manhã. Com certeza era por que eu sabia que estava bisbilhotando.
― E aí, Louisa, Pete finalmente deixou você ir?
Ela riu, suas bochechas ficando coradas.
― Sim, já nos despedimos. Viu algo de bom?
Eu sabia que Louisa estava ansiosa para vir comigo, mas, às vezes, nossos interesses pessoais venciam a curiosidade profissional. Foi o que certamente aconteceu comigo ontem.
― Não ― falei balançando a cabeça. ― Olhei em cada gaveta que encontrei pelo caminho e não tinha sequer uma folha de papel. É quase como se esse lugar fosse um museu e não uma casa.
Louisa suspirou.
― Ah… bom, talvez eu consiga descobrir a sujeira deste cara, mas parece que hoje não será o meu dia. Você está pronta para irmos?
Balancei a cabeça.
― Sim. Vamos antes que o mordomo volte.
Em dez minutos, nossas coisas estavam guardadas e nossas malas no bagageiro do carro. Estava chovendo e eu odiava chuva, mas, por algum motivo, eu me sentia pronta para me enrolar na cama, comendo chocolate e assistindo a reprises de Suits. Eu amava o seriado, especialmente o personagem Harvey. Não me oporia se ele fosse meu advogado. Na verdade, Harvey podia ser qualquer coisa que ele quisesse. Ele era absurdamente delicioso.
― Você está sonhando com ele?
Meu olhar se desviou para Louisa.
― Na verdade, estava pensando que hoje seria o dia perfeito para me enrolar no sofá, comer besteira e assistir TV.
Louisa olhou para a frente, mas sorriu.
― Hmmm, tá certo… ― Ela riu.
― Você vai vê-lo novamente?
Louisa franziu a testa.
― Quem? Pete?
― Não, o cara vestido de mordomo. Ele era gato.
Nós duas rimos e Louisa voltou a olhar para frente.
― Dei a ele meu número. Agora, cabe a ele me ligar. Mas acho que vou receber uma ligação dele, em breve.
Ela sorriu e ficamos em silêncio novamente. Perguntei-me se eu voltaria a ver meu indescritível acompanhante da noite passada. Fiquei um pouco enojada por ter deixado que um estranho completo entrasse em meu quarto e fizesse todas aquelas coisas maravilhosamente eróticas comigo. Mas precisava levar em consideração que ele havia me enganado. Ele não disse quem era e eu assumi que era Brad. Levando isso em conta, tudo que eu sabia era que, quem quer que ele fosse, tinha me dado a melhor noite de sexo que já tive. E eu estava ansiosa por mais.

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