Capítulo 25

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Tyler
 
Buckinghamshire, 1998
 
— Marco! — gritei, tentando encontrar o caminho de volta.
— Polo! — Ouvi tanto Dean quanto Ian gritarem de volta. Eu ri. Não conseguia segurar. Este parecia um jogo tão infantil para alguém da minha idade. Eu tinha treze anos, praticamente uma mulher. Bem, uma adolescente, pelo menos.
— Marco! — gritei novamente, frustrada e com medo por não saber o que estava ao meu alcance. Com medo de cair ou bater em algo que pudesse me machucar. Mas Dean estava lá. Eu sabia que podia confiar nele para me proteger. Ele sempre estaria lá para cuidar de mim. O meu melhor amigo no mundo todo. Era difícil de explicar, já que tínhamos Ian em nossa pequena unidade. Nós éramos amigos há sete anos, mas Dean sempre foi e sempre será o meu favorito. Claro que eu não deixaria Ian saber disso. Não gostaria de ferir seus sentimentos, nem que um deles achasse que tinha favorecimentos em relação a mim.
— Polo! — eles gritaram tão alto, que agi com meus instintos. Aguçando minha audição, tinha a sensação de que ambos estavam atrás de mim. Dean parecia estar mais perto, mas eu não tinha certeza.
Sorrindo, continuei. Dei um passo, depois outro, sentindo a necessidade desesperada de segurar em algo.
— Marco! — gritei novamente, sentindo minha adrenalina atingir seu pico. Eu queria muito aquilo, antes que alguém tomasse o meu lugar.
— Polo! — Ouvi-os novamente. Eu tinha certeza de que Dean estava ao meu alcance agora. Com uma descarga de adrenalina, avancei em direção à sua voz, na esperança de não tropeçar. Peguei-o, ou acho que peguei.
— Tyler, eu te subestimei. Você estava sendo tão cautelosa até há pouco.
Eu ri.
— Não sou uma garota maricas, não é?
Senti a mão de Dean subir e achei que ele iria desamarrar a bandana em meus olhos, mas ele carinhosamente acariciou minha bochecha. Respirei fundo e fiquei quieta quando meu coração começou a bater freneticamente.
Eu queria derreter com seu toque. Queria estender minha mão e segurar a sua, acariciando-o carinhosamente enquanto ele fazia o mesmo comigo. Em vez disso, apenas fiquei lá, tentando esconder o gemido que queria escapar dos meus lábios.
Senti sua mão tocar ternamente os meus lábios, me fazendo ofegar.
— Nunca falei que você era, linda — ele respondeu, antes de devolver minha visão.
****
Senti como se eu tivesse sido usada e abusada, mas não era isso que eu queria? Não o encorajei a me bater e puxar meu cabelo? Quem era essa Tyler O’Shea? A quem ela pertence? Quem deu a ela o orgasmo mais explosivo da sua vida?
Essas questões e muitas outras pairavam em minha mente. Fui deixada com uma enxurrada de emoções. Eu estava obcecada com o meu estranho, porque eu era tão doente e sombria quanto ele. Eu sabia que o que tínhamos era completamente não-convencional. Eu sabia que o que tínhamos jamais iria durar. Mas eu não podia desconsiderar que meu corpo gritava por ele. Noite após noite, eu o procurava, esperando que ele viesse até mim. Sem sucesso, tentei ganhar algum controle, mas tudo o que ele fez foi jogar minha tentativa no chão, com um aceno. Quem era este homem que comandava tudo com tanto poder? Quem era ele que, com um estalar de dedos, tinha todos baixando a cabeça a suas vontades? Acho que eu conseguiria descobrir quem ele era agora. Ele era, obviamente, bem conhecido neste clube, o que significava uma das duas coisas: ou ele era dono do clube ou ele conhecia muito bem os proprietários. Eu poderia fazer uma busca nos arredores e tentar descobrir algo.
Suspirei, pensando em como deveria parecer indigna, debruçada nesta mesa, depois de ser comida por um homem sem rosto. O que havia de errado comigo? E por que ele simplesmente levantou e saiu logo depois de gozar?
Foi então que um raio me atingiu. Ele disse que iria me punir. Sexo com o meu estranho sempre foi intenso, mas esta noite foi ainda mais forte por algum motivo. Mais eletrizante. Não é só isso, por que senti algo dentro de mim quando ele gozou?
Levantando-me, senti que estava um pouco tonta, mas usei a mesa como apoio. O orgasmo ainda zumbia pelo meu corpo, me fazendo desejar deitar. Mas eu não podia ficar lá para sempre. Precisava sair de lá.
Quando fiquei totalmente de pé, senti algo escorrer pela minha perna. Engoli em seco, colocando uma mão em minha boca. Eu não precisava olhar para saber o que descia pelo interior da minha coxa.
Olhando para baixo, vi e, instintivamente, limpei com a mão. Eu precisava de um banheiro, um lenço, qualquer coisa para me limpar.
Enquanto eu olhava para a textura pegajosa em minhas mãos, algo meu veio à mente e quase desmaiei. Ele gozou dentro de mim? Meu estranho me puniu não usando um preservativo.
Merda, e agora? O que eu deveria fazer? E se ele tivesse doenças? E se ele tivesse HIV? Ele não teve esse tipo de preocupação com relação a mim? E se ELE tivesse, para que ele se preocuparia se eu tenho ou não?
― Puta merda! ― gritei. Eu estava em pânico. Precisava pensar de forma racional sobre isso. Só para a minha própria paz de espírito, eu gostaria de fazer o teste. Será que ele era realmente tão doente que, se ele estivesse contaminado, teria deliberadamente não usado camisinha? Talvez ele achasse que me deixar em pânico seria uma boa punição. Ele provavelmente estava rindo de mim, sabendo que eu deveria estar louca de preocupação. Eu estava, mas precisava pensar nisso com calma. Ele gostava de fazer joguinhos, esse era só mais um a acrescentar à lista. Ele era doente e sombrio, mas era um jogo, puro e simples.
Tentando controlar o pânico, peguei minha capa do chão. Sacudi a poeira e coloquei-a, na esperança de esconder qualquer coisa que estivesse aparecendo. Tinha que ter algum banheiro próximo, ainda que fosse para funcionários. Seria até melhor, já que eu precisava de privacidade para me limpar.
Timidamente, girei a maçaneta e abri a porta, ouvindo o barulho abafado da música. Eu estive um pouco embriagada, mas, depois do acontecido, eu estava completamente sóbria. Eu não conseguia acreditar que o deixei me tocar no meio do clube, na frente de todos. Mas, principalmente, não conseguia acreditar na merda que ele fez. Tudo o que esse homem fazia me surpreendia e excitava. Nunca tive esse tipo de experiência com ninguém antes. Bem, tive com Dean, mas eu era mais jovem e não era tão sexualmente madura quanto agora. Ele fazia meus joelhos tremerem, meu corpo esquentar, minhas entranhas se contorcerem, meu estômago dançar, tudo ao mesmo tempo. Ele estava se tornando a minha obsessão e meu vício, além de me assustar além da conta.
Caminhando pelo corredor escuro, cheguei a uma porta onde se lia “Banheiros exclusivos para funcionários”. Eu estava apreensiva em entrar. E se tivesse alguém lá dentro? Eu nem sabia se poderia entrar em apuros por estar aqui.
― Com licença, senhorita.
A voz me assustou. Virando, vi o cara grande que deixou Louisa e eu entrar no clube na frente dos outros.
― Precisa de ajuda? ― Ele sorriu. Apesar do seu tamanho, ele definitivamente não me intimidou.
― Sinto muito. Estou um pouco perdida. Eu realmente precisava usar o banheiro. Espero que esteja tudo bem.
O grandalhão balançou a cabeça, mostrando os dentes perfeitamente brancos.
― Claro, mas você deve voltar para o salão, assim que terminar. Você não pode ficar aqui.
Sorri para ele timidamente.
― Eu sei, sinto muito. Acho que só me perdi no caminho. ― Havia um significado oculto nesta frase e acho que ele sabia disso. Seu sorriso insolente me disse tudo.
― Tô sacando ― disse ele, piscando para mim. ― Vou esperar você terminar e, então, posso levá-la de volta para lá. O clube é seguro, mas nunca se sabe quando alguém mal-intencionado pode aparecer farejando problemas.
Eu deveria ter ficado irritada ou assustada com o fato de ele ficar lá fora enquanto eu me limpava, mas eu estava era muito grata, na verdade. Eu também precisava fazer algumas perguntas, mas, quanto mais tempo eu ficava ali, mais consciente de que ele podia sentir o cheiro de sexo vindo de mim eu ficava.
Balancei a cabeça e entrei. Felizmente, os banheiros pareciam limpos e cheiravam melhor do que a sala que Lótus me levou.
Por que diabos eu estava chamando-o de Lótus, quando esse, obviamente, não era o seu nome? Eu sabia que precisava descobrir muita coisa, mas tinha que me limpar primeiro.
Pegando alguns papeis toalhas, me limpei, tentando me livrar de qualquer odor possível. Quando terminei, me olhei no espelho. Merda! Eu parecia como se tivesse sido muito bem fodida. Meu cabelo estava emaranhado e disforme, de Lótus segurá-lo com força. Meu batom estava borrado, mas não sabia como era possível, já que ele não me beijou.
 Merda, será que pareci uma prostituta lá fora? Não admira que o cara estivesse sorrindo para mim daquele jeito. Eu não tinha dúvidas de que ele sabia o que tinha acontecido, mas fez vista grossa. Isto, entre outras coisas, eu precisava descobrir.
Limpei-me o melhor que pude, me olhei no espelho uma última vez antes de me aventurar. O grandalhão estava a poucos metros da porta, encostado na parede.
― Sentindo-se melhor? ― ele perguntou, com um sorriso torto.
Sorri de volta.
―Sim, obrigada.
Ele endireitou-se e fez sinal para que eu fosse na sua frente.
― Depois de você, Srta. O’Shea.
E ali estava! Minha confirmação de que ele sabia exatamente quem era o meu estranho. Quando ele viu que não me movi, ele franziu a testa. Sorri para ele e comecei a andar.
― Qual o seu nome?
― Tony, senhorita, mas as pessoas me chamam de Teddy.
― Te chamam assim porque você parece com um grande urso de pelúcia?
― Sim, senhorita.
Considerando que ele parecia relaxado, fui direto na sua jugular.
― Diga-me, Tony. Quem é ele?
Tony ficou tenso, sabendo exatamente o que eu estava perguntando. Havia algo mais, que vi quando ele endureceu. Uma sombra de medo em seus olhos. Como alguém tão grande e forte poderia se sentir assustado com a mera menção do meu estranho?
― Não sei do que está falando, moça.
Balancei a cabeça, fazendo muxoxo para ele.
― Vamos, Tony. Não somos estranhos aqui. Chame-me de Tyler, você já sabe meu nome mesmo.
Seus olhos se arregalaram e vi seu pomo de Adão se mover, antes de ele falar.
― Sou apenas um segurança aqui, Tyler.
Ele sorriu, mas eu sabia que ele estava ficando mais desconfortável a cada minuto com esta conversa. Eu não gostava de pressionar as pessoas, mas não tinha como não fazer.
― Você fez com que eu e minha amiga entrássemos aqui na frente de todo mundo. Você surgiu do nada quando ele machucou a mão daquele homem. Você o levou, sem perguntas. Nem mesmo uma palavra para o cara. É por que você o conhece e ele mandou que você fizesse isso, não é, Tony?
Sua respiração acelerou quando ele parou diante de uma porta.
― Sinto muito, Tyler. Não sei o que você quer dizer.
Ele colocou a mão na maçaneta e estava prestes a abri-la quando o interrompi. Tony olhou para cima, o medo em seus olhos.
― Me desculpe por estar perguntando isso. Sei que você está com medo dele, posso ver. Só, por favor, me diga uma coisa e eu vou. Devo ter medo dele?
Tony fechou os olhos. Era nítido que ele estava debatendo consigo mesmo se deveria divulgar algo. Achei que ele me colocaria para fora, mas ele me surpreendeu.
― Não sei o que ele quer com você, Tyler. Não tenho nada com seus malditos negócios. Mas vou te dar um conselho. Tenha cuidado, ok?
Balancei a cabeça com um sorriso, grata a Tony por ter me dito isso. Quando soube que não havia mais nada a acrescentar, ele abriu a porta e fez um gesto para eu passar.
Apertando sua mão levemente, murmurei um “obrigada” e saí. Merda, minha cabeça estava girando. Cinco minutos com o segurança me mostraram que ele era não só poderoso, mas também perigoso.
Mas o quão perigoso ele era?

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