Dean
“Cuidado com a fúria de um homem paciente”.
John Dryden
Tenho dito a mim mesmo, por toda a semana, que eu deveria vir aqui e ver, com meus próprios olhos, como eu tinha sido um idiota. Eu tinha que testemunhar a dor irreversível que eu havia causado. Não para alimentar-me dela, ou porque sentiria prazer com isso. Não. Precisava ir lá para ver o que eu tinha causado a ela. Tinha que ver se tudo aquilo que eu fiz tinha valido a pena no final. É claro que não tinha. Era o que eu vinha falando a mim mesmo há algum tempo. A voz estava lá, pulsando em meu cérebro. Ela ficou lá, chutando e batendo até que minha cabeça estava doendo.
Eu só não dei ouvidos.
E qual foi o resultado final de tudo isso?
A dor de Tyler. A angústia de Tyler. O sofrimento de Tyler.
Não foi isso que eu quis o tempo todo? Claro! Eu só não previ que isso resultaria na morte de um rapaz inocente. Eu era o culpado pela sua morte, mais ninguém. Eu. Ele não merecia ter sido envolvido em minha vingança. Ele nada mais era do que uma vítima inocente em tudo isso.
Danos colaterais.
Apertando minhas mãos, vi Tyler deitada, completamente vestida. Ela ainda usava as mesmas roupas que tinha usado no funeral. Claro, eu estava lá e assisti a toda a cerimônia. Obriguei-me a fazê-lo, porque, de uma forma doente e sombria, era como se eu estivesse recebendo o castigo que merecia. Eu merecia ver a sua dor porque era o que eu queria o tempo todo.
Mas fiquei feliz com isso? Subi nos telhados gritando “Uhuuu, uhuuu”? Claro que não. Jeremy estava morto porque eu era um filho da puta estúpido, totalmente consumido pela raiva e pelo desejo de vingança.
Meu tio estava certo. Eu não queria admitir, mas ele atingiu o ponto certo. Eu tinha cavado uma sepultura e, como punição, eu deveria ser enterrado ao lado de Jeremy. Por uma ironia do destino, duas sepulturas tinham sido abertas. Só uma questão técnica as diferenciava.
Na semana passada, eu tinha me afogado em um mar de papelada, sacos de pancada, Bourbon e desespero. O único contato real que eu fiz com o mundo exterior foi quando Carmichael veio me agradecer novamente pela oferta da casa. Ele levou sua mulher para sair, cortejou-a como se eles tivessem vinte anos novamente e a surpreendeu com a viagem que ofereci. Sem dúvidas, neste momento, ele estava lá, tomando sol com Cynthia e as meninas, se divertindo na casa de campo. Eu estava feliz por eles. Se Carmichael queria ser um homem melhor e Cynthia deu-lhe essa oportunidade, desejava o melhor para eles. Algumas coisas valiam a pena lutar.
Tyler, por outro lado, parecia ter perdido a luta. Ela parecia tão frágil enrolada em uma pequena bola com o que parecia ser um pacote de biscoito salgadinho, em sua mão. Eu me perguntava que fascínio era esse. Muitas vezes eu vi vários pacotes abertos, jogados pela casa e no quarto que presumi que seria de Jeremy. Uma parte de mim se perguntava se, de alguma forma doentia, eu não tinha orquestrado tudo aquilo para parar os planos que tinha feito. Eu queria ter Tyler a qualquer custo.
Só que eu tinha pago o preço final.
Tyler nunca sairia dos meus pensamentos, não importa o quanto eu tentasse tirá-la deles. Olhando para ela agora, era difícil compreender como ela tinha feito o que fez contra mim. Como aquilo tudo poderia ser verdade? Eu sabia que precisava estar com ela, hoje, que precisava confortá-la. Não por querer tê-la de volta, mas por sentir que eu poderia oferecer o conforto que ela precisava. Eu tinha certeza de que ela tinha afastado todo mundo e que havia uma grande possibilidade de fazer o mesmo comigo. Mas eu tinha que tentar. Eu tinha que lhe dar a chance de encontrar conforto em mim. Era a única coisa que eu poderia fazer.
Assim, dei um passo adiante, com cuidado para não assustá-la ou aborrecê-la. Sentei-me na cama, ajoelhando na frente dela, com os pés para fora da cama. Com um leve puxão, trouxe-a para mim, passando o braço ao redor do seu corpo e sentindo imediatamente o seu aroma de coco. Não pude resistir e fechei os olhos, inspirando seu cheiro.
― Você não esteve aqui ― ela sussurrou, num fio de voz. Pude sentir o cheiro de álcool, e me fez ter a certeza do quanto ela estava sofrendo, sozinha, bebendo para superar. Ela nunca deveria ter chegado ao ponto de precisar procurar conforto numa garrafa de bebida.
Mas não era isso que eu tinha procurado? A sua destruição, sua morte, sua dor? Não era isso que eu desejara?
― Sinto muito ― sussurrei de volta, falando do fundo do coração. Eu sentia muito mais do que ela poderia imaginar.
― Mas você está aqui agora ― ela suspirou, resolutamente.
― Sim. Estou aqui agora. ― Envolvi meu braço em torno dela com mais força.
― Mas, por quanto tempo.
Fechando os olhos, fiz o meu melhor para segurar o suspiro que queria escapar. Ela não estava perguntando, ela estava meramente afirmando o óbvio. Eu vinha, tomava-a, transava com ela. Isso tudo me embrulhou num pacote doentio dos infernos.
― Você quer que eu vá embora? ― Eu tinha que perguntar. Eu tinha que saber a resposta. Ela afastou todo mundo durante toda a semana. Ela queria fazer isso comigo também?
― Não ― ela sussurrou tão baixinho, que teria sido difícil de ouvir, se não fosse o fato de que eu estava esperando um sim ou não. ― Por favor, fica.
Suspirei pesadamente e embalei-a mais carinhosamente em meus braços. Eu sabia que era isso o que ela queria o tempo todo. Em qualquer outra circunstância, eu teria negado, mas eu ansiava por ela tanto quanto ela por mim. Nosso relacionamento tinha se tornado doentio, mas tinha crescido. Nunca pensei que chegaríamos a esse ponto, mas Tyler me surpreendia sempre.
Então, tive que fazer isso. Precisei dar a ela o máximo de conforto que eu podia. Ela estava sofrendo e tinha recusado todas as ofertas de apoio. Eu não tinha forças para rejeitá-la quando ela obviamente precisava de mim. Isso desafiava a lógica, mas ela precisava de mim.
Por um tempo, nós apenas ficamos lá; ela estava tão quieta, que achei que ela tinha adormecido. Eu estava prestes a me afastar, quando, de repente, ela virou-se para olhar para mim. Sem aviso, Tyler levantou a mão para o meu rosto e acariciou minha bochecha. Não pude evitar e fechei os olhos, inclinando-me para seu toque.
― Beije-me ― ela sussurrou, fazendo meus olhos se abrirem de novo. ― Por favor, só por hoje. Beije-me.
Sofri, a palavra não prestes a sair. Eu precisava dizer isso, para o meu próprio bem, assim como para o bem de Tyler. Mas, por alguma razão, minha língua ficou presa. Ela não se moveu, permaneceu impassível olhando para mim com esperança e desespero em seus olhos.
Assim, sem pensar em nada mais, me inclinei. Coloquei meus lábios nos dela e, instantaneamente, eu estava perdido na minha Tyler, o meu anjo, a minha garota que eu costumava escalar a janela para ver, quando eu era apenas um menino ingênuo. Aquele beijo me fez sentir bem, era como se eu estivesse voltando para casa, depois de um longo período no inferno. Sua boca era quente e familiar. Seus lábios tão macios e suaves. Beijar Tyler sempre me fez pensar que nada mais no mundo importava.
Envolvido pelo feitiço de Tyler, virei meu corpo para ficar sobre o dela. Ela não me parou. Na verdade, ela abriu as pernas para que eu pudesse entrar. Mordendo seus lábios suavemente, coloquei minha mão na parte inferior do vestido e puxei para cima. Ela estava usando uma calcinha de renda hoje e, puta merda, estava perfeita nela.
Ainda beijando-a, agarrei sua coxa esquerda e apertei com força apenas o suficiente para fazê-la gemer. Suas mãos estavam por baixo da parte de trás do meu moletom, arranhando minhas costas, para cima e para baixo. Arqueei o corpo, roubando um beijo ainda mais profundo. Como sempre, ela me permitiu liderar, então me afastei e beijei suavemente a curva do seu pescoço. Sua respiração estava ofegante e entrecortada como a minha, enquanto minha ereção ficava cada vez mais dura em minhas calças. Eu sempre a quis, mas nunca dessa forma. Estava sendo diferente. De algum jeito… real.
Posicionando minha virilha na dela, empurrei um pouco, fazendo-a gemer. Era quase um gemido de agonia, tão cheio de desejo e de necessidade. Com a minha cabeça ainda na base do pescoço dela, beijei ao longo dos seus seios, até chegar do outro lado do pescoço, onde eu lambi seguindo em direção à sua mandíbula.
― Dean… ― ela sussurrou, sua voz ainda cheia de desejo.
Congelei. Eu sabia que a tinha escutado me chamar, mas, por alguma razão, não podia me mover. Depois de alguns segundos, Tyler pareceu perceber seu erro. Ela congelou também.
― Oh, Deus. Eu sinto muito ― disse ela, uma ponta de dor em sua voz. ― Não estou bem. Não tinha percebido o que estava dizendo.
Eu não queria mais ouvir. Sem falar nada, levantei-me. Eu não podia ficar depois de ouvi-la me chamar pelo meu nome. De alguma forma, ouvir isso colocava as coisas em perspectiva para mim. Não era para isso que eu tinha vindo. Eu não voltei para ela por isso. Certamente, não pela razão que ela pensaria que Dean voltaria para ela.
― Por favor, não me deixe. Não essa noite. Eu sinto muito.
Ouvi a dor em sua voz, mas eu tinha que ignorá-la. Tive que lutar contra a dor em minha cabeça, meu estômago, meu coração. Eu não podia ter um coração. Eu era um demônio. Os demônios têm corações negros, vazios de qualquer emoção. Destituídos de qualquer compaixão. Destituídos de qualquer amor.
De costas para ela, enfrentei a porta, mas não pude me mover. Eu estava preso ao chão, incapaz de me movimentar. Minha cabeça se enfureceu e gritou dentro de mim. Eu tinha que ir, mas não podia.
Você não pode deixá-la.
Eu precisava. Isso não fazia parte do negócio. Eu tinha contas a acertar e me acomodei. Vim aqui para pedir desculpas e ela me chamou pelo meu nome. Se eu ficasse, ela poderia enxergar através de mim. Ela podia ver o que tinha acontecido com Dean… o menino que subia em sua janela, o menino que a amava mais do que a própria vida.
Então, deixei-a. Meus pés começaram a se mover e deixei-a sozinha, chorando em sua cama. Ela precisava de mim e eu me apavorei.
Sim, eu sei. Eu era um babaca. Mas eu nunca prometi que seria diferente, não é?
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Sortilégio
RomantizmEste não é um conto de fadas. Ele não é um príncipe encantado que vai levá-la em direção ao pôr do sol. Esta é uma história sobre traição, luxúria, desejo e, em última análise, vingança... E a vingança só pode conduzir a uma coisa. Tyler Ele era um...