Capítulo 26

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Dean
 
“A vingança põe a prova o seu próprio carrasco”
John Ford
 
Voltei para casa, para os meus convidados e a festa que eu havia planejado há muito tempo para esta noite. Eram apenas dez horas, e eu tinha certeza de que não tinha perdido muito. Eu tinha que tê-los aqui, esta noite, como testemunhas. Algo aconteceria mais tarde, e eu tinha que ter certeza de que todos os meus pontos estavam cobertos.
Estacionei meu Dodge Challenger na garagem, e me aventurei na cozinha, onde eu sabia que Humphrey estaria esperando por mim. Com certeza, ele estava de pé, caminhando ao lado da ilha da cozinha. Ele parecia ansioso e eu sabia por quê.
No minuto em que fechei a porta, a cabeça de Humphrey virou. Vi, imediatamente, uma mistura de alívio e raiva em seu rosto.
― Puta merda, Dean. Por que demorou tanto? De todas as noites, você tinha que ter escolhido logo a de hoje para perseguir a garota?
Suspirei, jogando as chaves sobre o balcão.
― Está tudo bem, tio. Estou coberto. Ela está nas minhas mãos, agora. ― Sorri maliciosamente, mostrando-lhe o quão relaxado eu estava.
― Você está se fodendo, seu merda! Ela está dominando a sua cabeça, como você disse que não deixaria acontecer.
Era o suficiente. Bati meu punho na bancada, ganhando sua atenção.
― Chega! ― Certamente não o deixaria falar assim comigo. ― Ela não está me dominando, Humphrey. Ela saiu esta noite e vi isso como uma oportunidade. Não foi um bom momento, eu sei, mas já estou ganhando o prêmio máximo. Ela está desmoronando, Humphrey. Já posso sentir.
Balançando a cabeça, Humphrey passou as mãos pelo cabelo grisalho.
― Contanto que você não desmorone com ela, Dean. Você trabalhou muito para isso. Não pode deixar que ninguém te veja enfraquecido. Foi estupidez da sua parte ter saído hoje, com toda essa merda que está prestes a acontecer. Além disso, já pensou se ela começa a rodear o clube, fazendo perguntas? Já pensou nisso, Dean? E se alguém te delata, depois de anos, e faz a coisa toda ir por água abaixo?
Peguei uma garrafa de água na geladeira e tomei um grande gole.
― Você me subestima, coroa. Ninguém vai falar nada. Posso garantir.
Humphrey fechou os olhos por um momento.
― Bom, é melhor que você esteja certo. Odeio imaginar que você fez toda essa operação para trepar. ― Balancei a cabeça, sorrindo. Humphrey sorriu de volta.
― Menos, coroa.
Balancei a cabeça novamente, sabendo que Humphrey tinha se acalmado um pouco.
― Então, como estão os convidados?
Ele jogou as mãos para o ar.
― Como o esperado. Eles acabaram de comer, mas estavam se perguntando onde você estava. Principalmente o nosso convidado especial, o superintendente da chefia de polícia Carmichael.
Merda, eu tinha me esquecido dele. Ele era meu convidado principal hoje porque eu precisaria dele, principalmente se a merda batesse no ventilador hoje à noite e a polícia fosse chamada.
― Não se preocupe com ele. Vou sair e ir lá encontrar com o velho peidão. Tenho certeza de que posso apresentá-lo a uma das minhas meninas esta noite e animá-lo.
Humphrey balançou a cabeça, mas ainda não parecia cem por cento feliz sobre a coisa toda. Acho que eu não deveria ter saído hoje à noite. Eu estava prestes a fazer algo que exigia toda a minha atenção, e quanto mais testemunhas, melhor.
Meu telefone tocou. Peguei-o do bolso e olhei a mensagem.
― É Jimmy, ele está a caminho.
Humphrey suspirou.
― Ótimo. É melhor você levar sua bunda lá para fora agora, antes que ele chegue.
― Sim, senhor! ― Humphrey era tão paranoico, às vezes.
― Juro que não entendo como você pode estar tranquilo com essa porra toda.
Bebi o resto da minha água e joguei a garrafa no lixo, enquanto me dirigia para a porta.
― Tudo acontece por uma razão, Humphrey. Qual o sentido de ficar estressado com as coisas? Se tiver que acontecer, vai acontecer. Basta deixar que a natureza siga seu curso.
Humphrey deu um tapinha em minhas costas.
― Você e essa merda de carma. Acho que você não bate bem da cabeça. Que homem, em sã consciência, tem uma flor tatuada no ombro?
Virei para ele com uma carranca.
― Ei, é uma flor de lótus. E o que você quer dizer? Que sou um maricas?
― Não, estou dizendo que você é um idiota. ― Ele sorriu para mim, triunfante.
― Você pode ser mais velho do que eu, mas isso não significa que tenho que aturar suas merdas, coroa. ― Eu estava brincando com ele novamente, e ele sabia disso. Ele odiava quando eu o chamava de coroa.
― Agora, vai, porra. Você já está começando a me irritar.
Rindo, abri a porta do corredor. Rapidamente liguei de volta para Jimmy e, em seguida, pedi que algumas das minhas meninas viesse o mais rápido possível. Eu não tinha dúvidas de que elas estariam aqui dentro de uma hora.
Tirei meu moletom com capuz, coloquei-o no armário ao lado da porta e segui para o lounge. Com certeza, todos os meus convidados estariam bebendo, a ponto de compartilharem segredos que iriam se arrepender pela manhã. Eu não era como eles. Beber só ilude a mente. Eu nunca ficava bêbado. Isso coloca você numa posição vulnerável, e era exatamente isso que acontecia com o idiota do Jimmy. Muita bebida e boceta. Ele estava fraco e precisava acabar com essa miséria de uma vez por todas.
Sexo, drogas e álcool sempre vão vender, e eu podia oferecer muito disso às pessoas. Esta era a minha vantagem esta noite. Eu tinha um superintendente bêbado e excitado, sentado com outras pessoas na sala, provavelmente se vangloriando do seu status. O cara me deixava doente, mas ele serviria ao seu propósito esta noite. Tive certeza de lhe pagar generosamente para estar aqui.
Como esperado, quando entrei, Carmichael estava no centro do show, um copo do meu melhor scotch em uma mão e um charuto na outra.
― Caçar vermes é o meu trabalho. Faço isso há vinte anos e fiz valer cada porra das patentes que ganhei.
Todo mundo se virou ao me ver, mas Carmichael foi o último a olhar.
― Ei, Dean, meu rapaz. Como está, filho? Estava me perguntando onde você tinha se enfiado.
O cara era patético. Ele fez minha pele arrepiar. Adoraria pegar minha faca e cortar sua língua fora. Em vez disso, sorri e sentei ao lado do velhote.
― Desculpe, tive um… problema feminino para resolver, digamos assim.
Todos riram, mas a conversa continuou. Carmichael inclinou-se com uma piscadela.
― Você conseguiu dar um jeito nela?
O velho era um filho da puta pervertido, mas tive que dar o que ele queria. Eu tinha certeza de que era exatamente isso que ele queria mesmo.
― Dei-lhe o suficiente para que ela não reclame, por um tempo, digamos assim.
Carmichael me deu um tapinha nas costas.
― Esse é o meu garoto. Esse é o meu garoto.
― Me desculpe por chegar atrasado. Ela estava no Buddies, por isso demorou um pouco mais do que imaginei.
Carmichael levantou a sobrancelha.
― Buddies, hein? Tem umas vadias de alto nível naquele clube.
Balancei a cabeça com um sorriso.
― Tem mesmo, Aidan. Tem mesmo.
― Então, o que você tem feito ultimamente?
Ainda tinha isso em relação a Carmichael. Ele era um bastardo intrometido. Sem dúvidas, ele sabia que eu não trabalhava no lado certo, mas sempre fazia a mesma pergunta, na esperança de que ele conseguisse me pegar. Nunca disse a ele nada que ele não precisasse saber. Só falava para ele coisas que eu achava serem suficientes para manter sua maldita boca fechada.
Então, falei sobe uma propriedade que eu vinha pensando em comprar na Europa, tendo em visto o colapso econômico daqui. Com dinheiro na mão e os contatos certos, eu poderia conseguir uma pechincha em lugares como Espanha, Itália ou França. Eu sabia que isso o deixaria entediado, mas era exatamente o que eu queria. Isso faria com que a surpresa que estava chegando fosse ainda mais especial para ele.
Cerca de quarenta e cinco minutos mais tarde, Humphrey entrou e sussurrou em meu ouvido.
― As meninas chegaram e estão esperando na outra sala.
Sorri para ele, e me virei para Carmichael.
― Que maravilha! Aidan, tenho uma pequena surpresa para você. Tenho certeza que vai adorar.
Exatamente como pensei, seu sorriso bêbado apareceu.
― Que tipo de surpresa? ― ele perguntou, lambendo os lábios.
― Você vai ver. Posso te garantir que vai ser boa. Vamos, Humphrey vai liderar o caminho e eu estarei lá em um minuto.
Ele balançou a cabeça, erguendo-se do seu assento e seguiu. Voltei a minha atenção para as outras pessoas na sala e me desculpei.
― Fiquem e bebam à vontade. Preciso resolver alguns negócios com o Sr. Carmichael. ― Todos assentiram, sem se importarem. Contanto que tivesse comida e bebida à vontade, eles não se preocupariam com nada. Ali estava cheio de idiotas, mas eu infelizmente precisava mantê-los ali porque serviriam a um propósito.
Quando eu estava me encaminhando para a outra sala, veio a mensagem de texto que eu esperava.
Ele está pronto para você. Assim que você desejar.
Digitei uma resposta.
Esteja lá em trinta minutos. Segure o fogo.
Abri a porta do salão e, como esperava, Carmichael estava sentado em uma das minhas cadeiras, com Samantha num joelho e Katie em outro. Samantha era sempre a favorita, por ter longos cabelos loiros e seios grandes. O que a tornava tão singular era o fato de ela ser natural. Eu gostava que as minhas meninas fossem o mais naturais possíveis. Katie, por outro lado, era morena. Ela tinha seios pequenos, mas grandes o suficiente para encher a mão. E isso já era o suficiente para qualquer cara. Querer mais do que isso era ganancioso. Era isso que eu amava nos seios de Tyler. Eles se encaixavam perfeitamente em minhas mãos. Eles eram suaves e sedosos, com os mais belos mamilos. Só de pensar nela já fico duro. E, esta noite, eu precisava desempenhar o papel do perfeito anfitrião com tesão.
― Aidan, vejo que você já recebeu as meninas. ― Sorri. Sentei na cadeira em frente a ele e vi que Carmichael estava babando por elas. Elas eram exuberantes. Com as ligas de fora, era isso que tornava tudo ainda mais emocionante para ele.
Katie estava cumprindo bem o seu papel, mordiscando a orelha dele e brincando com seu peito. Samantha tinha a mão em sua barriga, enquanto acariciava seus cabelos com a outra.
― Elas são simplesmente deliciosas ― ele afirmou e as meninas riram.
― Posso te garantir que você vai amá-las, Aidan. Katie chupa um pau que é uma coisa de louco, e Samantha tem uma boceta que parece ser feita de ouro.
As meninas ofegaram, mas riram de novo, cumprindo seu papel muito bem. Eu não sabia se era verdade, mas sabia de vários clientes que ficaram muito satisfeitos com elas. Por isso elas foram escolhidas para esta noite. Precisava ter certeza de que ele seria mantido ocupado por algumas horas.
― Você já as experimentou? ― perguntou Carmichael, com o olhar vidrado de luxúria. Ele olhou para Katie, lambendo os lábios.
Fiz um gesto para Samantha vir até mim. Ela obedeceu e sentou-se diligentemente no meu joelho. Com um puxão, beijei-a suavemente, massageando seus seios. Ela gemeu sob meu toque. Eu sabia que ela estava gostando, mas, verdade seja dita, eu não estava sentindo nada. Ela não era igual a Tyler.
Pare de pensar sobre Tyler, seu idiota. Talvez eu devesse trepar com Samantha para tirar Tyler da cabeça!
Não preciso disso agora. Precisava me concentrar na tarefa que eu tinha em mãos. Afastei-me, sorrindo para Samantha, antes de voltar minha atenção para Carmichael. Ele estava observando com bastante interesse. Acho que ele estava excitado com a cena.
― Experimento sempre, tanto que sempre volto para tomar um pouco mais. ― Sorri para Carmichael e voltei minha atenção para Samantha. ― Samantha, tire seu top. Mostre a esse adorável cavalheiro os seus atributos.
Samantha sorriu, ainda no meu colo, e desabotoou a blusa. O tempo todo eu estava olhando para Carmichael, mas ele só tinha olhos para Samantha. Ele lambeu os lábios novamente, uma gota de suor se formando em sua testa. O filho da puta estava com um tesão da porra e não iria se acalmar.
Samantha se levantou e aproximou-se de Carmichael, para que ele pudesse olhar seus seios.
― Venha aqui, Samantha. Quero recompensá-la por ser uma boa menina. ― Ela fez como mandei e sentou em meu colo novamente. Imediatamente, abocanhei seu mamilo. Ela gemeu e jogou a cabeça para trás. Eu sabia que ela sempre me desejou, mas eu jamais a havia tocado, nem mesmo chupado seu mamilo.
― Dean ― ela suspirou, enfiando os dedos em meu cabelo. Porra, eu queria ouvir Tyler me chamar pelo meu nome quando eu estivesse com ela.
Afastando esse pensamento, levantei a sainha de Samantha, expondo a boceta nua tanto para Carmichael quanto para Katie.
― Ela não é linda? ― murmurei, tentando me manter no meu papel. Cada instinto me mandava enfiar o dedo na boceta da Samantha e fodê-la, dar a ela o que ela queria, só para que eu conseguisse provar a mim mesmo que Tyler não estava me controlando. Mas se eu nunca toquei em Samantha em quaisquer outras circunstâncias, por que faria agora?
Foda-se essa merda! Aquela maldita mulher com a boceta vodu estava brincando comigo novamente. Tudo o que eu queria fazer era empurrar Samantha do meu colo e dar o fora de lá.
― Sim, ela é ― respondeu Carmichael, com a respiração mais pesada do que nunca. Eu sabia que isso era o suficiente. Eu tinha o anzol e a linha prontos. Não que ele precisasse de mais incentivo. Eu poderia ter pedido a Katie para fazer um pequeno show para o nosso superintendente-chefe, mas eu tinha coisas mais urgentes a tratar. Agora era a minha vez de agir.
 ― Aidan, você gostaria de ir a um lugar mais privado, para que você possa conhecer Katie melhor? Para ser honesto, estou morrendo de vontade de conhecer Samantha melhor. ― Sorri maliciosamente para ele e dei um tapa na bunda de Samantha. Ela deu um pulo, rindo de novo, e vi o sorriso se alargar no rosto de Carmichael.
― Eu adoraria ― ele grunhiu, olhando para Katie com luxúria em seus olhos.
Com um toque na bunda de Samantha, ela se levantou. Fiz o mesmo, segurando sua mão.
― Se você me der licença, Sr. Carmichael ― falei com um sorriso, dirigindo-me para a porta. ― Katie, você poderia levar o Sr. Carmichael para o quarto trinta e seis? ― Ela assentiu, mas ainda estava sentada no colo de Carmichael. ― Aidan, quando eu acabar com Samantha, você gostaria que eu a mandasse ao seu quarto?
Ele sorriu como a porra do gato de Cheshire. Parecia que todos os seus aniversários e presentes de Natal haviam chegado num único dia.
― Se sua boceta é de ouro, como você disse, então com certeza, porra!
Eu ri, mas senti meu estômago doer. Estava na hora de acabar com essa charada.
― Samantha, depois de você ― falei apontando para a porta. Ela atravessou, blusa na mão, peitos saltando enquanto andava. Para qualquer homem, esse seria o jogo do século, mas para mim ela não fez nada demais.
Quando chegamos ao corredor, agarrei a blusa dela e ofereci para ajudá-la a colocar de volta. Ela obedientemente cumpriu, virando-se com um sorriso.
― Obrigada por cumprir seu papel ― falei, puxando as mangas da blusa para cima. ― Se você não se importa, fique no quarto trinta e quarto. Espere em torno de uma hora e vá encontrar Carmichael. Tenho que ir.
Ela assentiu e me virei para sair, quando senti a mão tocar meu braço.
― Dean, se você quiser continuar de onde parou, eu ficaria mais do que feliz de ajudá-lo. Só me dizer a hora e o lugar, e estarei lá.
Balancei a cabeça com um sorriso.
― Não toco nas minhas mulheres, Samantha. Regra número um.
Andando em minha direção, ela colocou um dedo em meus lábios.
― Você me tocou hoje ― ela ronronou, passando o dedo por meus lábios. ― Eu gostei, e quero mais.
Afastei-me, apontando para as escadas.
― Isso foi algo necessário, Samantha. Agora, faça o que eu disse e suba as escadas, antes que Carmichael e Katie apareçam. Tenho algo a fazer.
Afastei-me, vendo Samantha subir as escadas com uma expressão insatisfeita no rosto. Essa era uma das razões para eu nunca tocar nas minhas meninas. Elas podiam ficar pegajosas e complicar as coisas. Quando eu trepava com alguma, eu a vetava do trabalho de antemão. E também me certificava de que elas soubessem que era uma transa de uma noite apenas. Esse era o meu lema desde os dezoito anos. Bem, isso até eu reencontrar Tyler. Ela era a exceção à regra. Ela era o meu fantoche de vingança.
Andando pela garagem, peguei as chaves do Aston Martin Vanquish. Eu precisaria de estilo hoje. Algo elegante e suave, para me ajudar a relaxar antes de fazer o que estava prestes a fazer.
― Vai com o Vanquish, desta vez? ― Humphrey perguntou das sombras, enquanto eu colocava um pé no carro.
― Acho que estou precisando de uma mudança. Estarei de volta em quarenta e cinco minutos. ― Ele balançou a cabeça, eu entrei e, com um clique do botão, a porta da garagem foi aberta. Dirigi um pouco para a frente e, pouco antes de sair, olhei para Humphrey pela janela aberta. ― Certifique-se de que todos os nossos clientes estejam sendo atendidos, coroa.
Com isso, saí em disparada, notando Humphrey carrancudo, atirando algo em minha direção. Ri, mas logo me concentrei na tarefa que eu tinha em mãos. Pegando meu telefone, liguei para Jimmy.
― Jimmy, ele ainda está pronto para mim?
Então, o ouvi rir e o som de um tapa. Um grito reverberou no telefone.
― Sim. Estou mantendo-o aquecido para você.
― Ótimo. Estarei aí em quinze minutos. ― Jogando o celular no assento do passageiro, pressionei o pé no acelerador, ouvindo o ronco do motor V8. Isso sempre me acontecia. Era difícil não fechar os olhos e apenas ceder a esse som.
O frio que entrava pela janela encheu minhas narinas e invadiu meus pulmões. Eu precisava disso agora. Precisava me manter alerta, focado. Eu planejava isso há anos e finalmente conseguiria executar minha vingança final.
Parei na parte externa do armazém, abri o porta-luvas e tirei minha faca. Ela tinha uma boa borda serrilhada e eu iria usá-la hoje.
Quando saí do carro, o cheiro de poluição do rio Tâmisa me bateu com uma força pungente. De certo modo, isso me acalmou, saber que este seria o lugar onde os restos mortais de Antonio Pinzano estariam. Ele merecia apodrecer num rio tão poluído quanto ele.
Sentindo a adrenalina, caminhei até a porta de correr e a abri, cumprimentando Nicky ao entrar. O cheiro de carne queimada me bateu. Eu nunca conseguia superar aquele cheiro. Não importava o quão acostumado com isso eu estivesse, isso ainda me fazia vomitar.
Subi as escadas e tudo estava quieto… até que eu ouvi o som de assobio de um ferro quente na pele. Uma voz gritou em italiano, falando que Jimmy era um babaca. Eu tive que rir com isso. Mesmo depois de ser torturado por tanto tempo, Pinzano ainda tentava mostrar que tinha colhões. A questão era que ele não fazia ideia do que faríamos com ele.
Quando entrei, Pinzano estava pendurado de cabeça para baixo, sobre um poço ardente. Boa parte do seu cabelo estava chamuscado, com bolhas formando-se no topo da sua cabeça. O cheiro era ainda pior aqui, mas engoli a ânsia de vômito. Eu não entendia como Jimmy aguentava. Ele parecia tão frio quanto um pepino.
Como ele estava pendurado, vi o sangue escorrer pelas queimaduras e cortes que Jimmy tinha feito nele. Com o gotejamento, o fogo estava ainda mais vivo, fazendo com que as chamas ficassem brilhantes, o que, certamente, não era uma boa coisa para o Sr. Pinzano.
― Ah, nosso convidado de honra chegou, Sr. Pinzano. Você vai gostar. ― Jimmy sorriu para mim e Antonio Pinzano puxou contra suas restrições. Ele não podia me ver por estar com os olhos vendados. Eu havia pedido isso. Queria estar perto dele, quando ele, finalmente, me visse. Queria estar perto quando eu olhasse dentro dos olhos do homem que ordenou a morte dos meus pais, para ver o choque e o medo em seus olhos, quando ele percebesse quem estava por trás do seu súbito sequestro.
Para ser honesto, tinha sido muito mais fácil do que ele esperara. Sua paixão por álcool e mulheres era, em última análise, a sua morte. Fiz uma das minhas meninas, Serena, persuadi-lo a ir até um flat que eu possuía. Eu quase não o usava e era o local perfeito para começar a minha vingança. Eu nunca quis o flat, era apenas uma compra estratégica. Por todo esse tempo, venho planejando este dia. Pinzano estava ficando fraco e previsível. Ele frequentava sempre o mesmo bar. Ele escolhia uma mulher e deixava seus homens, enquanto saía para transar com elas. Ele estava ficando complacente, mas, como sempre, eu o estava observando. Durante anos, estudei sua rotina diária e rapidamente peguei-a. E ela foi a sua queda.
 ― Como está S.? ― perguntei me referindo à Serena.
― Está bem. Ela só precisou colocar a bunda gostosa no colo dele e ele estava perdido. Parece que ele não conseguiu colocar o pinto dele para trabalhar rápido o suficiente, já que ela precisou levá-lo até o flat. Ela parecia um pouco irritada. Foi muito interessante quando apareci. ― Nós dois rimos. Eu costumava imaginar que várias das minhas meninas se sentiam assim, algumas vezes. Eu nunca as forcei. Só pedia que, se elas não quisessem algum trabalho, que deveriam partir. Elas sempre tinham o direito de recusar um cliente. Só queria que elas tivessem um motivo decente para fazer isso.
Acalmei-me e dei uma olhada em Pinzano, pendurado lá, praticamente queimando vivo. De vez em quando, ele choramingava ou uivava, quando as queimaduras doíam demais.
Agachei, olhando para o rosto do homem que arruinou a minha vida.
Levantando a mão, desatei o nó da bandana que estava em torno dos seus olhos, me preparando para olhar para eles uma última vez.
Assim que ele estava sem a venda, Pinzano piscou algumas vezes, então seu olhar pousou em mim. Ele franziu a testa, tentando descobrir quem eu era, mas, em seguida, uma centelha de reconhecimento brilhou. Lá estava. Aquele olhar que esperei rever pelos últimos treze anos. A euforia que sentia por dentro não era igual a nenhuma outra que eu já havia experimentado.
― Pinzano, seu filho da puta doente! Como você está? ― Sorri como se ele fosse um amigo há muito perdido.
― Você! ― ele gritou, ainda que fosse doloroso. ― Eu deveria ter mandado meus homens terem voltado para acabar com a sua raça, naquela noite.
Balancei a cabeça.
― Sim, você deveria. Você subestimou o menino magro, com aparência frágil, não é? Não sou mais tão magro e frágil agora, certo?
― Mi metterò per questa! ― ele disse em italiano o equivalente de “Vou te pegar por isso!”.
Balancei a cabeça, fazendo um muxoxo, enquanto peguei minha faca.
― Isso não é jeito de cumprimentar o garoto cujos pais você matou, não é? Mas vou compartilhar um pequeno segredo, sabe? Você não vai me pegar. E sabe por quê? Porque, em cerca de, digamos, cinco minutos, você estará morto.
― Seu babaca!
Olhei para Jimmy e balancei a cabeça.
― Ele não está feliz, não é, Jimmy?
Jimmy sorriu.
― Não, chefe.
Voltando a olhar para Pinzano, fiz uma careta.
― Você acha que eu deveria colocar um sorriso em seu rosto? ― perguntei a Jimmy.
― Ah, sim ― ele respondeu, balançando a cabeça. ― É o mínimo que podemos fazer.
Posicionando a minha faca, segurei-a horizontalmente em sua boca. Pinzano começou a gritar, pânico irradiando por suas veias. Com um empurrão forte, eu enterrei tão forte quanto eu conseguia, ouvindo a carne sendo cortada. Pinzano gritou e gemeu muito, mas eu não dei a mínima.
Dei um passo para trás, o calor da fogueira chegando em mim. Fique lá com Jimmy, inclinando a cabeça para um lado, admirando meu trabalho manual.
― Acho que eu poderia ter feito um pouco melhor com o lado esquerdo do seu rosto. O que você acha, Jimmy?
 Jimmy abaixou a cabeça ainda mais, para ter uma visão melhor. Ele franziu a testa, depois assentiu.
― Sim, está um pouco torto lá, mas é melhor vê-lo sorrir, agora. Ele estava começando a me deprimir.
Inclinando-me um pouco, limpei minha lâmina nas roupas de Pinzano.
― Esse negócio de matar alguém faz uma bagunça terrível. ― Dei um tapinha em sua barriga saliente. ― Não se preocupe, raio de sol. Isso tudo vai acabar em breve. Só tem mais uma coisa que preciso fazer antes de você virar comida de peixe. ― Eu ri e pude ouvir Jimmy rindo também. Ele sabia exatamente do que eu estava falando, e pegou a espada Samurai que eu havia guardado especialmente para este dia. Jimmy voltou do canto da sala e me entregou. Admirei seu brilho por um momento. Na base da espada, havia uma inscrição de uma flor de lótus. Ela era verdadeiramente magnífica.
Pinzano viu e o pânico o tomou, quando a posicionei em seu pulso direito.
― Sabe, eu sempre quis cortar as mãos do filho da puta que matou meus pais. Agora que estou aqui, acho que preciso tomar um fôlego. Você sabe, só para conseguir admirar melhor a cena.
Fechando os olhos, respirei fundo. Pude ouvir Pinzano choramingar. Ele sabia o que estava por vir e não havia nada que ele pudesse fazer.
Quando abri meus olhos, o atingi. Não fiz muito esforço para cortar a mão direita. Ela estava no chão em uma fração de segundos. Pinzano gritou, mas foi difícil para ele, já que seu rosto estava todo cortado.
― Isso foi por matar minha mãe, Isabella Scozzari.
Não perdi tempo. Fui até o outro lado e ataquei a outra mão, observando-a cair no chão. Havia sangue por toda parte e me surpreendi por ele ainda estar vivo.
― E isso, seu merdinha, foi por meu pai, Michael Scozzari. ― Entreguei a espada para Jimmy e peguei minha faca serrilhada.
Ajoelhei-me novamente, olhando nos olhos repletos de dor do meu inimigo.
― E isso ― eu disse, colocando a faca em sua garganta ― é pela família que você destruiu. ― Com um golpe rápido, cortei sua garganta. Pinzano se contorceu, mas rapidamente seu corpo ficou frouxo.
Retirando o lenço de Pinzano, limpei a lâmina novamente, em seguida, coloquei o lenço de volta no bolso superior. Quando estava pronto para sair, me virei para Jimmy.
― Tudo bem você cuidar do resto?
Jimmy acenou.
― Nicky está esperando lá na frente. Ele vai me dar uma mão. Não se preocupe, está tudo sob controle.
Ao chegar na porta, dei um tapinha nas costas de Jimmy.
― Obrigado, meu amigo. O resto do dinheiro já está na conta.
Jimmy acenou.
― O prazer foi meu.
Acenando para Nicky, segui para o Vanquish. Eu precisava chegar em casa e me certificar de estar lá, caso acontecesse qualquer eventualidade e Carmichael quisesse sair – depois de ter trepado, é claro. Eu sabia que as meninas o fariam cortar um dobrado. Não havia dúvidas de que, no minuto em que Katie colocasse a boca em seu pau, ele gozaria, provavelmente, em dez segundos. Idiota do caralho.
Olhei para o relógio, notando que eu estava indo embora quarenta minutos após chegar. Tudo estava indo como o planejado. Eu só precisava chegar em casa rápido e sem ser notado pela polícia. Cada célula do meu corpo queria que eu aumentasse a velocidade. Queria abrir a janela e sentir a brisa fria bater em minha pele, ouvindo o rugido do V8 conforme ele alcançava a estrada. Mas eu não poderia. Teria que guardar isso para um outro momento. Por enquanto, voltar sem ser pego era meu objetivo número um.
Mas não pude segurar um sorriso ao me lembrar da imagem de Pinzano queimando, de cabeça para baixo, como o porco que ele é. Quantas vezes sonhei com esta noite e a planejei até os últimos detalhes? Agora que o canalha tinha sido eliminado, eu poderia me concentrar em Tyler. Sem dúvidas, ela deveria estar chateada comigo, por deixá-la por tantos dias e, então, reaparecer. E provavelmente estava chateada comigo por não ter usado preservativo.
Meu pau se moveu em minhas calças, em busca da sua boceta macia e úmida. Eu queria mais, ansiava por mais, como se ela fosse a batida do meu coração. Mas eu não tenho um coração. Se tivesse um, ele seria preto de raiva, preenchido com ódio e desejo. Desejo de esmagar, ferir, de vingar meu passado. A vingança corria em minhas veias como uma maré interminável. Nunca pare. Nunca desista. Nunca recue.
Manobrando o carro, voltei para a garagem, onde Humphrey estava me esperando. Ele meu deu um sorriso tranquilizador, e eu sabia que era a minha resposta para saber se estava tudo bem.
Desliguei o carro e saí.
― Cinquenta minutos, Dean. Estou impressionado. ― Ele deu um tapinha nas minhas costas quando entramos na cozinha.
― Está tudo bem aqui?
― É claro. Os sanguessugas estão mamando em suas bebidas, como se fosse a última. Katie está com Carmichael e Samantha ainda está no outro quarto, como você pediu.
Balancei a cabeça.
― Bom, vou subir. Preciso estar no quarto antes que ele saia e me pegue subindo as escadas.
Humphrey concordou, sabendo que a explicação do que aconteceu teria que ficar para depois. Imediatamente, tive uma ideia e corri até a geladeira. Tirei uma garrafa de champanhe e duas taças. Tirei minha camiseta, jogando-a na lavanderia. Humphrey, leal como sempre, me entregou uma nova e uma loção pós-barba.
― Use isso. Você estava cheirando a cigarro com essa camisa, mas, mesmo sem ela, ainda consigo sentir o cheiro. ― Balancei a cabeça, agradecido por ele pensar em tudo.
Subindo as escadas, eu estava no meio do terceiro lance, quando Carmichael apareceu.
― Ah, aí está você! Eu estava me perguntando o que estava tomando tanto o tempo de Samantha.
Eu ri, grato por ter tido essa ideia do caralho.
― Fui buscar uma garrafa de champanhe. Ela fica mais depravada quando bebe. ― Nós rimos e continuei com meu ato. ― Você já acabou com a adorável Katie?
Carmichael balançou a cabeça.
― Claro que não. Na verdade, estou feliz que você está aqui para que eu possa pedir ― ele sussurrou as palavras, então eu soube que ele queria que eu me aproximasse. Subi o resto dos degraus, para ouvir o que ele tinha a dizer, mas estava consciente de que ainda estava cheirando a fumaça. Eu não podia me foder com uma merda, não depois de ter feito tudo para que não tivesse problemas.
― As meninas ― disse ele, apontando para os quartos com a cabeça. ― Será que elas nunca, você sabe… brincam juntas, às vezes?
Com um sorriso, dei um tapinha em seu ombro.
― Você quer ver um joguinho menina com menina, não é mesmo, Sr. Carmichael? Juro, você me surpreende a cada dia.
Ele riu, sua barriga gorda balançando no roupão que ele estava usando.
― Bem, é a fantasia de todo homem, não é?
Balancei a cabeça.
― Também acho. Na verdade, eu estava tentado a pedir-lhes isso quando estávamos na sala, mas eu estava muito interessado em ter Samantha na minha cama.
Carmichael jogou a cabeça para trás, rindo. Eu podia ver a oscilação do seu queixo duplo ao rir.
― Eu entendo. Ei, por que não vamos para o meu quarto e elas podem fazer um show para nós dois? Nós podemos apreciá-las, antes de termos prazer, o que acha?
Eu não queria isso. Cada osso do meu corpo repelia esta ideia idiota, mas o que eu deveria fazer? Eu tinha que manter essa porra de charada; caso contrário, Carmichael iria ficar desconfiado. Então, respirei fundo, peguei o telefone do meu bolso e disquei o número.
― Humphrey, traga-me outra garrafa de champanhe e mais duas taças, por favor. Carmichael e eu temos uma festa para aproveitar. ― Com um sorriso perverso, olhei para ele e vi a alegria absoluta naquela cara de porco. Ele meio que me fazia lembrar do Chefe Wiggum, dos Simpsons. Ele era um idiota e estava me prendendo nisso. Ele devia saber que Samantha e Katie eram meninas que trabalhavam com sexo. O problema era que seu pau decidiu ser mais esperto do que se cérebro de ervilha, mas estava funcionando a meu favor. Nunca imaginei que minha noite terminaria assim. Achei que ele usaria as meninas, faria o que conseguisse e ia embora. Mas, agora, ele queria me envolver. Será que ele não acreditou quando eu disse que estava com Samantha? Será que ele enxergou a mentira? Balancei a cabeça por dentro. Claro que não. Ele não tinha como suspeitar. Eu estava interpretando bem o meu papel. É óbvio que ele acreditava que eu tinha subido e trepado com a Samantha. Por que não acreditaria?
Guardando meu celular, indiquei as escadas.
― Depois de você ― eu disse, fechando meus olhos quando ele se virou.
― O que diabos eu faço agora?

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