Capítulo 31

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Tyler
 
Buckinghamshire, 2000
 
Andando pelo parque, a caminho de encontrar Dean e Ian, eu estava pensando no fato de que faria dezesseis anos em breve. A perspectiva me encheu de esperança e desejos para o futuro. Bem, meu futuro e de Dean. Nas últimas semanas, ele vinha me olhando engraçado. Era quase como um olhar compreensivo. Toda vez que ele fazia isso, meus joelhos ficavam moles. Ele sempre soube como fazer isso comigo, mas, ultimamente, os olhares que ele me dava eram muito mais intensos. Ele me olhava de uma maneira que significava muito mais do que um menino olhando para a menina que gostava. Era potente, poderoso, apaixonado e muito sensual.
Sorrindo, mordi meu lábio, sonhando com a primeira vez que ele me beijaria. Ele manteve sua promessa até hoje. Ele era o perfeito cavalheiro, mas eu, às vezes, gostaria que não fosse tanto. Ele me fazia querê-lo mais e mais, se isso era possível.
— Tyler? — Uma voz soou atrás de mim. — Tyler O’Shea? — Virei na direção da voz e vi um menino que me pareceu familiar. Abri um sorriso confuso.
— Não está me reconhecendo, não é? — Balancei a cabeça. — Tim Baker, da escola primária. Estudamos juntos por alguns anos, mas depois me mudei. Voltamos há pouco tempo, estou trabalhando na Sydney Street.
Ofeguei, lembrando do dia em que conheci Dean e ele socou Tim por ter sido rude comigo. Ele parecia muito maior e mais velho agora, com cabelos loiros escuros curtos e deixando o cavanhaque crescer. Era como se ele estivesse tentando seguir essa moda, mas não combinava com ele. Era muito novo para isso.
— Ah, aquele Tim — falei, com uma risadinha.
Ele balançou a cabeça, parecendo um pouco envergonhado.
— Sim, aquele Tim. Desculpe, Tyler. Eu era um garoto estúpido.
Acenei para demonstrar que estava tudo bem. Na verdade, mais do que bem. Foi por causa dele que me apaixonei por Dean.
— Não se preocupe com isso.
Tim se aproximou e sorriu.
— Sabe, tenho uma confissão a fazer.
Levantando a sobrancelha, eu sorri.
— Ah, sério?
Tim sorriu e se aproximou.
— O motivo real para eu persegui-la e puxar seu cabelo era porque eu gostava de você. Acho que ficava com ciúmes.
Comecei a rir.
— Sério, Tim? — Não podia acreditar que o menino que tinha sido tão mau comigo gostava de mim.
— Sim, merda. — Ele riu. — E nada mudou. Você continua linda, como sempre.
Corei e desviei o olhar. Era difícil aceitar elogios. Vários garotos vinham reparando em mim ultimamente, e Dean tinha ficado irado com isso. Secretamente, eu adorava.
— Você está saindo com alguém, Tyler? Eu adoraria se pudéssemos tomar um café ou ir ao cinema, qualquer dia desses.
Sorri, mas meu coração disparou. Eu não queria sair com ele, mas, ao mesmo tempo, odiava dar o fora em alguém.
— Eu sou… hum… eu meio que estou com alguém. — Percebi que ele ficou aborrecido.
— Você meio que está com alguém? Como assim? Você não está firme? Ainda pode sair e conhecer outros caras, certo? Eu adoraria levá-la para sair. — Tim acariciou meu braço, mas me deixou desconfortável. — O que acha?
— Não posso, sinto muito — eu disse, tentando me afastar, mas as coisas ficaram ruins muito rapidamente.
Antes que eu me desse conta, Tim me agarrou e tentou me beijar. Eu o empurrei, mas ele era mais forte.
— Sempre sonhei com esse momento, Tyler — ele disse, antes de pressionar os lábios nos meus. Ele aprofundou o beijo. Quando sua excitação aumentou, ele tentou chupar meu pescoço, antes de voltar aos meus lábios.
Lutei muito, mas era inútil. Ele era forte e eu estava, rapidamente, ficando sem ar.
Do nada, Tim foi subitamente arrancado de mim e voou pelo ar. Quando vi que era Dean, meus pulmões, finalmente, começaram a trabalhar.
— É a segunda vez que tenho que te ensinar uma lição, idiota. — Dean marchou para onde ele estava, mas Tim levantou as mãos em sinal de rendição.
— Sinto muito, isso não vai acontecer novamente. Não sabia que vocês dois estavam juntos.
Era tarde demais. Dean estava em chamas. Agarrando o colarinho da camisa de Tim, Dean deu um soco com força em seu rosto. Ouvi um estalo e me senti nauseada e tonta.
— Você está bem, Tyler? — Dean perguntou, a preocupação substituindo sua fúria.
Balancei a cabeça.
— Sim, estou bem. Estou bem mesmo.
Satisfeito em saber que eu não iria desmaiar, Dean voltou sua atenção para Tim.
— Agora, se eu te vir por aqui novamente, não vou ser tão tolerante, entendeu? Tyler é minha garota e ninguém toca nela, seu merda.
Segurando o nariz que sangrava, Tim assentiu.
— Agora, dê o fora daqui antes que eu mude de ideia.
Tim não perdeu tempo. Ele correu e, assim que estava fora do nosso campo de visão, Dean voltou-se para mim, e colocou um braço em volta dos meus ombros.
— Esse filho da puta não te machucou, né? Não me importo de ir atrás dele novamente, se você quiser. — Ele sorriu com malícia e eu o cutuquei.
— Dean, acho que você já fez o suficiente, mas obrigada por ter vindo me resgatar.
Virando-se, ele segurou o meu queixo e, gentilmente, esfregou o polegar sobre o meu lábio.
— Eu vou até os confins da Terra para protegê-la, Tyler. Ninguém machuca a minha garota. Ninguém.
****
Quatro semanas passaram mais rápido do que nunca. As coisas estavam indo bem na minha coluna do jornal, Jeremy estava ficando melhor com a quimioterapia, e meu estranho ainda me visitava ocasionalmente. Eu ainda lhe pedia para me beijar, para me falar sobre ele, mas ele nunca atendia. Eu queria mais e ansiava tanto por ele; era assustador. Como eu podia me apaixonar por um homem que não conhecia? Parecia impossível. Ele não precisou fazer nada além do que já fazia. Ele me parecia familiar e certo. Parecia perigoso, mas deliciosamente tentador. Ele era perigosamente tentador, na verdade.
Durante essas quatro semanas, preparei o quarto para Jeremy, encomendei outra cama e transferi minha mesa para o meu quarto. Arrumei tudo o que ele precisaria, incluindo uma estante repleta de livros. Ele era inteligente e, quanto mais eu pudesse estimular sua inteligência, melhor. Eu sabia que ele poderia ser bem-sucedido, assim que voltasse à escola e escolhesse o que queria ser. Um dia, ele comentou que queria ser médico, pois os médicos o ajudaram por toda a sua vida. Era uma forma de retribuir.
Outra coisa que eu vinha fazendo era procurar, secretamente, a Julie de Jeremy. Sempre que eu podia, ia ao local onde ficava o McDonald’s, olhando ao redor e esperando ver uma menina com a sua descrição. Eu queria ser a pessoa que o ajudaria a realizar todos os itens da sua lista, não porque isso significaria que ele tinha cumprido tudo antes de morrer, mas para lhe dar impulso para viver. Para lhe dar o impulso tão necessário para que ele melhorasse e pudesse sair do hospital. Eu sabia que ele estava ficando louco de não poder sair de lá e, francamente, eu também estava ficando louca por ele estar lá. Eu queria-o comigo, para que ele pudesse começar sua nova vida. Queria que ele voltasse à escola e estudasse para ser médico, se fosse isso que ele queria.
Era sexta-feira à noite e eu estava me preparando para sair. Se tudo corresse bem, Jeremy deixaria o hospital em poucos dias. Ian e Louisa estavam chegando para o jantar e depois sairíamos para uma casa noturna. Eu faria espaguete à bolonhesa e Louisa aproveitaria para testar minhas habilidades culinárias.
Decidida a usar uma roupa simples, peguei um vestido branco, na altura do joelho, e calcei meus sapatos de salto alto vermelhos. Eu estava pronta para sair e para começar esta noite descontraída. Meu estranho não aparecia há alguns dias e eu estava um pouco pra baixo. Era como se precisasse que ele viesse me ver e me proporcionar um daqueles orgasmos maravilhosos para conseguir pensar com clareza. Quando ele não estava comigo, eu o desejava o tempo todo.
Fechei os olhos e imaginei o meu estranho me segurando. Ele fez isso com ternura o suficiente para me mostrar que ele se importava, mas não o suficiente para me deixar totalmente satisfeita. Deixei que ele me marcasse, mas, por alguma razão, acho que acreditava que, ao deixá-lo fazer isso, era uma forma de mantê-lo mais próximo de mim e um modo de ele ter uma parte minha. A única coisa que eu tinha, quando ele ia embora, era a semente que ele despejara dentro de mim, além das marcas em meu pescoço. Eu tinha marcas nos pulsos também, já que ele havia me amarrado em sua última visita. Eu queria isso. Eu pedi por isso. Eu até mesmo puxei as restrições, pois aumentava o meu entusiasmo. Eu ansiava por sua dominância e agressão. Era quase como se uma parte de mim gritasse para que ele me tomasse a qualquer custo.
Merda, o que havia de errado comigo? O fato de ficar louca ao ser amarrada por uma pessoa que eu não fazia ideia de quem era e permitir que ele violasse cada centímetro da minha vida era ruim? Eu tinha dificuldades até mesmo de tentar racionalizar e distinguir se esse comportamento era normal. Deixar um estranho entrar em minha casa e me foder como eu jamais havia sido fodida antes na vida era certo? Claro que não. Mas por que eu me sentia bem com isso, então? Por que, quando ele vinha até mim, eu me sentia viva, mais viva do que já me senti em toda a minha vida?
Eu não tinha justificativas nem compreendia, mas não podia negar o meu desejo. Eu não podia negar meu corpo a ele. Ele estava em todos os lugares: meus pensamentos, meus sonhos, minhas fantasias.
No meu coração.
Eu estava perdida para ele. Completa e totalmente atraída por seu magnetismo sexual. Era quase como se ele tivesse um imã que me puxava quando ele estava no mesmo lugar que eu. Eu estava tão acostumada a ele que acordava antes mesmo de ele entrar no quarto. Não me sentia amedrontada, assustada ou intimidada. Em vez disso, eu me sentia acesa, com mais de mil volts correndo por minhas veias. Sentia-me no auge do desejo, sedenta por um homem cujo verdadeiro nome eu não sabia. Um homem sem rosto, tirano… e depravado.
Meu depravado.
Ele nunca hesitava, vacilava ou esmorecia. Na verdade, era exatamente o oposto. Apesar do que ele queria me dar, eu queria mais. Muito mais. Mas eu sabia que ele jamais seria real. Como poderia? Como um relacionamento sério, a longo prazo, podia crescer de uma situação dessas? Ele me seguiu por anos, entrou em meu apartamento, comeu meus biscoitos e me comeu. Tomou tudo de mim e eu, de bom grado, permiti.
Mas agora, com Jeremy vindo morar comigo, eu sabia que isso teria que parar. Não tinha jeito de mantermos isso para sempre. Chegaria um momento em que isso acabaria, e com Jeremy aqui, esse seria o fim. Uma parte de mim ficava arrasada com o pensamento, mas outra parte sabia que essa era a melhor solução.
Minha preocupação era que fosse tarde demais. Meu coração doía com a ideia de não vê-lo novamente, de não sentir seu toque ou ouvir sua voz rouca. Eu me sentia em conflito, porque o único que amei com todo meu coração foi Dean. E eu ainda sonhava com ele. Ele ainda chamava meu nome durante os meus sonhos. Ainda me perguntava o que ele estava fazendo, se estava casado, com filhos. Doía pensar nisso. Em certo sentido, eu me sentia traída por ele. Ele prometeu voltar para mim, para mais ninguém. Só para mim. E, por não conseguir entender o que havia acontecido, era difícil esquecer.
A campainha me tirou desses pensamentos profundos. Era engraçado como você podia entrar num transe profundo e os minutos se passarem sem que você sentisse.
Saí do quarto e abri a porta. Ian estava lá, com as garrafas de vinho tinto e branco. Ele estava com o cabelo mais curto, camisa azul abotoada, ostentando seu sorriso insolente. Ele respirou profundamente, como sempre fazia, e me deu aquele sorriso de satisfação por saber que o molho estava no fogo.
― Você está linda, Tyler ― ele sussurrou. ― Praticamente perfeita, em todos os sentidos.
Eu ri.
― Não sou nenhuma Mary Poppins, Ian. ― Fiz um gesto para ele entrar e ele me seguiu até a cozinha. Tive que manter o olho nele, para que ele não roubasse um pouco do molho quando eu estivesse distraída.
― Ah, acho que você é. E sobre aquele nosso acordo? Você poderia ficar em casa e fazer espaguete à bolonhesa para mim, todas as noites. ― Ele parou por alguns minutos, me observando. ― Você parece diferente. O que é?
Balancei a cabeça, preocupada que ele pudesse enxergar o que se passava dentro de mim. Com um gesto nervoso, coloquei meus cabelos atrás da orelha e me remexi. Ele observou e, então, ofegou quando viu meu pulso e pescoço.
Correndo, ele agarrou meus pulsos para inspecioná-los.
― Que porra é essa, Tyler? Alguém machucou você? ― Tentei me soltar do seu aperto, mas ele estava afastando meu cabelo, para inspecionar meu pescoço. ― Merda. No que diabos você se meteu, garota?
Afastando-me, sorri nervosa e comecei a mexer o molho.
― Não é nada, Ian. Foi só uma brincadeira íntima. ― Não pude olhar em seus olhos, por sentir vergonha de admitir que eu gostava dessas coisas. Ian não sabia que eu estava dormindo com alguém, muito menos que eu gostava desse tipo de coisa.
Então, Ian parou muito próximo de mim, e não tive escolha a não ser olhar para ele. Seu sorriso se ampliou.
― Você é uma puta bizarra, Tyler. Eu não fazia ideia.
― Ah, vai se foder ― eu disse, jogando um pedaço de espaguete nele.
― Não sabia que você era assim, Tyler. Não sei como me sinto sobre isso.
Revirei os olhos.
― Bem, levando em conta que você tem uma terceira perna que fica animada com qualquer merda, sugiro que você guarde seus sentimentos para você.
Ian grunhiu em meu ouvido e, então, afastou-se com um sorriso.
― Se você quiser “brincar” comigo, sabe onde me encontrar.
Virando a cabeça para ele, fiz uma carranca.
― Claro, Ian. Você está sempre pronto para a ação. Falando nisso, anda se divertindo com alguém, ultimamente?
Ian se sentou e bufou.
― Não tanto quanto você, pelo que parece. Por que você está mudando de assunto? Eu não sabia que você estava saindo com alguém. Você não disse nada.
Olhei para o molho.
― Provavelmente, porque não tinha nada a dizer. Conheci alguém. Não sei seu nome, mas temos um acordo.
Levantando-se da cadeira, Ian pegou duas taças e nos serviu o vinho.
― Porra, isso é sexy. Não fazia ideia que você era assim, gata. ― Ian ergueu a sobrancelha e estava prestes a dizer algo mais, quando a campainha tocou novamente. ― Vou atender! ― ele gritou e correu para a porta. Ouvi a voz de Louisa, sua voz alegre irradiando até a cozinha.
― Algo cheira maravilhosamente bem aqui! ― Louisa gritou.
― Eu disse que ela faz um espaguete à bolonhesa maravilhoso. O melhor de Londres.
Balançando a cabeça, servi um pouco de vinho para Louisa.
― Eu não iria tão longe, Ian.
Eles sentaram e só então eu notei o que ela estava usando.
― Porra, Louisa! O que é isso? Adorei.
― Gostou mesmo? É um Donna Karan. Economizei anos para comprar.
― Impressionante. ― Eu sorri.
Olhando-me de cima a baixo, Louisa disse:
― Você também. Adorei o sapato. Lindo.
Ian revirou os olhos.
― Porra, tem estrogênio demais aqui. Qual o problema com as mulheres que, quando se encontram, precisam ficar se elogiando por mais de meia hora? Quando homens se encontram, tudo que eles se preocupam é em saber onde vão tomar sua primeira cerveja.
Louisa tomou um gole de vinho e sorriu para ele.
― Veja bem, esse é o problema dos homens. Não conseguem enxergar além dos seus próprios narizes.
Agitando o meu espaguete, eu assistia com admiração quando os dois começaram a guerra dos sexos um com o outro. Isso me fez pensar um pouco sobre minha própria guerrinha com o meu estranho. Não importava quantas vezes ele me mandasse chamá-lo de Lótus, eu sempre o chamava de meu estranho. De alguma forma, me parecia mais real e sombrio. Até mesmo um pouco sexy, honestamente.
― Tyler ― Ian chamou.
Assustada, virei para eles. Nem sequer percebi que estava sonhando.
― Ela está fora do ar ― disse ele para Louisa.
Ela olhou para mim e sorriu conscientemente.
― Saiu com Brad de novo?
Eu tinha esquecido completamente de Brad. Em pouco tempo, Louisa levantou-se e começou a inspecionar meu pescoço.
― Quem é Brad? ― Ian perguntou enquanto Louisa continuou a olhar.
― Oh, querida, o que você deixou que ele fizesse com você? ― Louisa piscou, mas eu vi uma certa preocupação em seu rosto. Ela não precisa ficar. Lótus nunca me machucaria. Não desse jeito. Eu sabia que ele me machucaria, mas não no sentido físico. Ele quebraria o meu coração.
― Ele nunca faz nada que eu não queira.
Ian apontou para Louisa.
― Viu? Eu disse que ela tinha virado uma vadia perversa.
Fiz uma careta, sabendo que eu tinha perdido parte da conversa.
― O que você falou para ela?
Louisa riu e Ian balançou a cabeça.
― Merda, você estava fora do ar pensando nessa coisa de amarrar, não estava?
Suspirei e Louisa esfregou meu ombro.
― Oh, deixe-a em paz, Ian. Tyler não pode evitar se anseia por algo um pouco mais pesado. ― Ela piscou em direção a Ian e ele dava gargalhadas.
― Oh, sim, muito engraçado. Vamos todos rir às custas da Tyler, vamos? ― Esta era uma das razões por que eu não queria contar a ninguém sobre isso.
― Sinto muito, gatinha. ― Ian fez beicinho. ― Prometo me comportar. Aliás, quem é Brad?
― É um policial sexy que ela conheceu em um bar, algumas semanas atrás.
Achei que Ian faria outra piada, mas ele me surpreendeu ao erguer a taça de vinho.
― Bem, contanto que ele te trate bem, não tenho queixas. ― Ele, então, franziu a testa e me olhou. ― Peraí. Achei que você tinha dito que não sabia o nome dele.
Louisa olhou para cima, franzindo a testa. Ah, merda. Eu deveria saber que, se Louisa se envolvesse na conversa, ela iria pensar imediatamente em Brad. Eu tinha estado tão envolvida no mundo do meu estranho e de Jeremy, que Brad era a pessoa mais distante da minha cabeça agora.
― Você está saindo com Brad ou com outra pessoa? Não acredito que Brad faria algo assim.
― Como assim? ― Ian perguntou confuso.
― Quando nós fomos para a Mansão, alguém que nós achávamos que era Brad, entrou sorrateiramente em seu quarto, lhe deu os dois melhores orgasmos da sua vida e mordeu o seu pescoço.
― Louisa! ― gritei, incapaz de acreditar que ela estava contando isso a Ian.
Ela deu de ombros.
― Estou apenas contando o que aconteceu, Tyler. Vocês dois se conhecem há mais tempo do que eu.
Senti uma pontada de arrependimento. Será que Ian ficaria chateado por Louisa saber mais do que ele? Espero que não. Pela expressão em seu rosto, ele parecia bastante calmo e sereno. Acho que eu era a pessoa paranoica aqui.
― Então, se não foi Brad, quem foi?
Dei de ombros.
― Não sei o nome dele.
― Como ele é? ― perguntou Ian.
Como ele é? Eu não fazia ideia. O pensamento me fez rir.
― Ele tem um corpo de matar, trabalha muito, é faixa preta no Tae Kwon Do, e tem as tatuagens mais interessantes que eu já vi.
Isso era verdade. Eu sabia muito sobre ele. Sabia que ele era forte, poderoso e, a julgar pelo que vi no clube e, pelo que o segurança disse, eu sabia que ele era perigoso.
― Ele parece ótimo ― disse Louisa, sentando novamente.
Ian bufou.
― Achei que só os homens costumavam pensar com certa parte de sua anatomia. Mas você não falou como ele é de verdade. Falou sobre seu corpo e coisas que ele faz.
Louisa animou-se em sua cadeira.
― E o que há de errado nisso? As mulheres também gostam de sexo, sabia?
Ian riu.
― Eu sei disso. Só pensei que as mulheres eram mais profundas do que os homens. Que elas se apegavam mais a detalhes. Não de um jeito ruim. Na verdade, isso é um elogio.
Tirando os pratos do armário, coloquei-os sobre a mesa com os talheres.
― Claro. Sem nós, o que seriam dos homens? ― provoquei.
― Provavelmente, estariam em extinção. O negócio é que os homens atiram primeiro e perguntam depois. Vocês precisam de nós, mulheres. ― Louisa sorriu na direção de Ian. ― Nós podemos manter vocês, homens maravilhosos e cabeças-duras, um pouco mais equilibrados.
Ian assentiu.
― Não discordo de você. Além disso, a boceta de vocês realmente nos ajuda. Elas sempre nos acalmam.
Eu balancei a cabeça e fiz um muxoxo para ele.
― Sabia que você baixaria o nível.
― O quê? ― ele perguntou, parecendo completamente chocado. ― Estou apenas dizendo-lhe como é. Peitos… isso é outra coisa que vocês mulheres têm a seu favor. Quando um cara entrar em uma briga, mostre os peitos. Posso te garantir que rapidamente ele vai parar de dar socos.
Louisa e eu rimos.
― Esse seu comentário só serve para mostrar como você é tacanho.
Ian tomou um gole de vinho e colocou-o de volta na mesa.
― Não falo isso como um elogio para mim, mas sim para vocês. ― Louisa e eu nos entreolhamos e Ian observou. ― Ah, qual é, garotas? Vocês nunca usaram sexo para conseguir algo de um homem? Vocês possuem esse poder que todos os homens desejam ter.
― O quê? Peitos e boceta? ― Louisa perguntou, rindo.
― Sim, vocês têm essa porra desse direito! ― Ian gritou, rindo com ela. ― Não sei como vocês, mulheres, conseguem levantar e ir trabalhar todos os dias. Se eu fosse vocês, ficaria em casa e brincaria comigo mesmo durante todo o dia. Como vocês conseguem resistir a isso?
Louisa e eu rimos.
― Ah, claro. Nós não conseguimos ter o suficiente de nós mesmas. ― Revirei os olhos para ele e coloquei um pouco de espaguete e molho em cada prato. ― Toda vez que vou para a cama nua, não posso evitar, preciso me masturbar ― eu brinquei, mas Ian arregalou os olhos.
Louisa riu, batendo na mesa.
― Acho que é a primeira vez que vejo Ian sem palavras.
Ele balançou a cabeça um pouco, como se ele estivesse tentando apagar a imagem.
― Porra. Acho que preciso usar seu banheiro. Volto daqui a pouco. ― Ian levantou-se da cadeira e arrumou a calça. Isso só fez com que as nossas risadas aumentassem.
Colocando os pratos na mesa, sentei-me com Louisa e servi mais vinho.
― Você sabe, no final das contas, acho que ele está certo. ― Louisa sorriu, tomando um gole. ― Veja como Ian está perturbado. Aposto que ele se colocaria em nossas mãos se pedíssemos para fazer algo para nós.
Bebendo meu vinho, balancei a cabeça.
― Não o encoraje, Louisa.
Louisa riu e deu uma garfada na comida. Gemendo, ela fechou os olhos.
― Oh, uau ― ela murmurou. ― Este é o melhor espaguete que já provei.
― Eu te disse ― Ian respondeu, sentando-se em frente a ela. ― Não posso acreditar que eu não estava aqui para a cerimônia de colocação dos pratos na mesa.
― Oh, há uma cerimônia? ― perguntou Louisa.
A postura de Ian se endireitou.
― Você precisa entender que levo meu espaguete muito a sério.
― Humm ― Louisa meditou. ― De fato, você leva. ― Ela piscou para ele, mas ele estava muito absorto em seu prato. Ele devorou-o como se fosse sua última refeição. Mas ele sempre fazia isso.
― Então, aonde vamos, hoje à noite? ― perguntei, mudando de assunto.
― Achei que íamos naquele clube em Baker Street. Sabe qual? O Buddies.
Tremi, relembrando a última vez que estive lá. O pensamento de ir lá novamente me encheu de saudade e apreensão. Será que ele iria me seguir novamente? Será que ele vai me reivindicar, como da última vez? Sem pensar logicamente, de repente, me senti ansiosa para a nossa noite fora.
Merda, eu estava realmente fodida.

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