Tyler
Buckinghamshire, 1996
― Você gosta de flores, Tyler? ― Balancei a cabeça com um sorriso.
― Quando nos casarmos, vou comprar-lhe uma flor todos os dias, até o dia em que eu morrer.
Meu coração explodiu de amor por este menino. Ele era tão alto e estava ficando cada vez mais forte, mas sempre com aquele sorriso torto que eu adorava. Seu cabelo ainda era escuro, quase preto, mas ele tinha os olhos azuis mais impressionantes que eu já tinha visto. Era simplesmente belo.
― Você não quer pensar em casamento aos treze anos, Dean. Não seja bobo. ― Eu ri.
Dean estava sério quando segurou minha mão.
― Não estou sendo bobo ― ele disse, olhando dentro dos meus olhos. ― Estou apenas afirmando um fato.
****
Assim que ouvi a porta bater, sabia que ele não voltaria. Não sei o que fez com que ele ficasse tão chateado comigo, mas não podia pensar nisso agora. Eu precisava libertar minhas mãos, agora que a diversão tinha, obviamente, acabado.
Balançando as minhas mãos, consegui soltar a fita e me sentar. Meus pulsos e pescoço estavam doloridos, mas não tanto quanto o meu coração. Por alguma razão, o sentimento de rejeição me atingiu, fazendo escapar um soluço.
Eu não conseguia entender. O que fiz de errado? O que eu poderia ter feito para que ele mudasse de atitude tão drasticamente?
Balancei a cabeça, perguntando-me o que havia de errado comigo. Ele era um estranho, que sorrateiramente entrava no meu quarto, fazia coisas eróticas comigo, me perseguia e sabia tudo sobre mim. Então, por que eu parecia quase obcecada, perguntando-me se ele voltaria? Era quase como se eu tivesse me perdido para ele, agora. Uma vez, fui sua obsessão. Agora, parecia que eu estava tão doente quanto ele.
Suspirando, saí da cama e me certifiquei que ele não estava mesmo no apartamento. Entrei no banheiro e vi que ele mexeu no papel higiênico de novo.
Filho da pu… Não faça isso, Tyler. Não o deixe vencer. Respire profundamente, apenas respire.
Fiquei ali por um momento, os olhos fechados e respirando a minha frustração. Tentei controlar a raiva. Isso nunca iria mudar. Curvando-me, troquei o papel higiênico de lugar antes de acender a luz. Quando o banheiro se iluminou, me senti cegar um pouco, mas não tanto que não pudesse notar a mordida do outro lado do meu pescoço. Qual o problema dele com essa coisa de me marcar?
Suspirando, passei um dedo sobre a área machucada, olhando meu reflexo. Meu cabelo parecia ter sido arrastado por uma cerca viva, mas eu tinha sido amarrada e abusada de uma maneira gloriosa.
Balançando a cabeça, percebi que o tinha deixado me tocar num lugar jamais explorado antes. Achei que iria doer, mas ele foi tão gentil e parecia tão certo, que me vi desejando mais. Nunca pensei que desfrutaria de algo assim, mas ele parecia saber exatamente o que estava fazendo. E isso tanto me assustava quanto animava.
Limpei-me e voltei para a cama, mas acho que não conseguiria dormir facilmente. Eu estava exausta, mas também estava preocupada. Nunca sabia se ele estava indo ou vindo.
Eu sabia que gostava do seu controle, mas havia algo sobre ele que eu não conseguia entender. Eu não sabia se deveria sentir medo, animação, ansiedade ou todas as opções anteriores. Tudo o que eu tinha certeza era que havia algo familiar nele. Na maior parte das vezes, ele era tão suave e tão certo, que superava todo o resto. Tratar-me dessa maneira parecia não importar, no grande esquema das coisas. Não quando ele era o único que me fazia sentir viva, desde Dean.
Por instinto, toquei nas asas de anjo, lembrando-me do dia em que ele me deu o medalhão de presente. Ele me fez fazer uma promessa e eu a mantive, mas Dean não havia mantido a sua. Ele nunca mais voltou e nunca mais ouvi falar dele novamente. Demorou mais de um ano para que eu parasse de olhar por cima do ombro, esperando-o voltar. Passei mais de um ano chorando no travesseiro, pulando a cada vez que o telefone tocava ou alguém batia na porta. Na verdade, acho que nunca o superei. Ele tinha sido o meu primeiro amor, e isso é difícil de superar. Mas meu estranho estava fazendo um bom trabalho, apesar de tudo. Ele foi o primeiro homem que me despertou as mesmas coisas que eu sentia com Dean. O primeiro a abrir meus olhos e me fazer ver quem era a Tyler verdadeira. Eu sabia que gostava de coisas “diferentes”.
Tive um namorado, há um tempo, chamado Alan. O sexo era bom, mas não parecia ser o suficiente. Uma noite, pedi para que ele me fodesse com força por trás e batesse em mim. Ele me olhou como se eu tivesse pedido para que ele pulasse de um penhasco.
Para resumir, não fizemos, porque ele não se sentia confortável com a possibilidade de me machucar. Uma semana depois, nós terminamos. Fiquei bem. Na verdade, estava chocada comigo mesma por ter sugerido aquilo e continuar normalmente, depois daquilo, seria impossível.
Suspirando, me virei na cama e vi uma sombra na parede. Eu sabia que era apenas a luz de fora, mas ainda parecia um pouco assustador. Parecia um corvo negro, com o bico aberto, suas asas abertas prontas para atacar sua presa. Talvez ele estivesse tentando me dizer algo. Talvez eu fosse a presa. Eu era a presa do meu estranho, mas amei cada segundo.
Fiquei olhando por vários minutos. Vi a sombra se transformar no que parecia ser um morcego vampiro. Uma sombra bastante apropriada, pensei na minha neblina sonolenta, considerando que meu estranho gostava de me morder.
Então, algum tempo depois, me vi no canto do quarto. Eu estava com medo e assustada, me escondendo de algo, mas não sabia o que.
Das sombras, uma figura apareceu. Achei que era um monstro que tinha vindo me pegar, mas, quando se aproximou, percebi que era Dean. Meu Dean estava aqui!
Meu coração estava acelerado, quando o garoto que amei por toda a minha vida se ajoelhou ao meu lado, sorrindo. Sorri de volta, sentindo-me absolutamente eufórica com a ideia de que ele estava aqui para me salvar. Meu Dean tinha voltado, assim como prometeu, e veio me salvar dos monstros.
― Tyler, o que você está fazendo? ― ele perguntou com seu sorriso de lado.
Então, me lembrei exatamente do motivo pelo qual eu estava lá, encolhida das sombras.
― Estou me escondendo nas sombras, assim o monstro não pode me encontrar.
Dean riu, mas chegou mais perto. Inclinando-se contra a minha orelha, pude sentir sua respiração quente.
― Tyler ― ele sussurrou, me fazendo tremer com a sensação da sua boca tão perto do meu ouvido ―, você não pode se esconder nas sombras.
― Por que não? ― perguntei, querendo que ele me levasse dali.
― Porque são as sombras que estão perseguindo você.
Levantei da cama, pingando de suor. Estava escuro e eu estava com medo. Não conseguia recuperar o fôlego. Acendi a luz do meu quarto. Tudo ainda estava escuro e silencioso.
Levantei, fui ao banheiro e liguei o chuveiro. Tudo estava no lugar, o rolo de papel higiênico exatamente como deixei.
Ao pular no chuveiro e deixar o calor me envolver, comecei a pensar no que meu sonho significava. Por que Dean, assim, de repente? Por que ele parecia tão assustador? Fechei os olhos e lembrei que meu último pensamento antes de dormir tinha sido em Dean enquanto olhava as sombras sinistras. Tudo fazia sentido agora. Senti-me relaxar ao perceber que era apenas meu subconsciente me pregando peças. Dean jamais me machucaria. Ele sempre disse que eu era sua namorada e sempre acreditei. Acredito até hoje. Só queria saber onde ele estava e o que estava fazendo. Apenas saber que ele estava vivo e feliz já era o suficiente. Não saber nada me deixava preocupada e frustrada.
Depois de me acalmar um pouco, desliguei o chuveiro, me sequei e voltei para a cama. Não havia mais sombras para me assustar agora. Tudo parecia normal, tão normal quanto poderia. Fiquei ali esperando o sono me encontrar. Acho que estava mais cansada do que imaginava, já que não precisei esperar tanto.
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Sortilégio
RomanceEste não é um conto de fadas. Ele não é um príncipe encantado que vai levá-la em direção ao pôr do sol. Esta é uma história sobre traição, luxúria, desejo e, em última análise, vingança... E a vingança só pode conduzir a uma coisa. Tyler Ele era um...