Capítulo 15

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Deito-me na cama depois de um demorado banho. Por mais cansada que eu  esteja não consigo adormecer. Minha insônia tem nome e sobrenome. Fico  pensando em como Luan tem se esforçado para vencer a disputa que travou  com Yago. O prêmio para o vencedor deve ser algo realmente interessante.  Só isso pode justificar tamanha determinação.

Acordo mais tarde do que o costume. Lavo meu rosto com água corrente  tentando afastar o sono que ainda possuo. Voltar a dormir está fora de  cogitação, porque sei que apenas vou ficar me virando de um lado para o  outro, com pensamentos nebulosos me importunando.

Sigo até a sala e encontro Luiza. A cumprimento e me sento ao seu lado no sofá.

— E Yago? — pergunto percebendo a ausência do meu irmão.

— Foi se arrumar para sairmos. — ela responde e, pela sua cara, tenho a impressão de que ele fez isso há um bom tempo.

— Ele é terrivelmente vaidoso. Definitivamente um caso a parte.

— Estou começando a perceber isso.

— Você vai ter vontade de esganá-lo, ás vezes. Mas na maior parte do tempo, vai se sentir grata por tê-lo.

— Acho que posso dizer o mesmo de Luan. — ela diz, sorrindo.

— Isso tudo é meio estranho, não é? — pontuo, perguntando-me se em uma situação normal, tudo isso estaria acontecendo.

Provavelmente não.

— Muito! — ela concorda, fitando-me atentamente. — Depois do que aconteceu com Keila, imaginei que Luan não se envolveria com alguém tão cedo.

— E ele foi se envolver justamente comigo. A grande culpada pelo fim do seu namoro.

— Confesso que no começo achei que ele havia enlouquecido ou que estava  apenas querendo se vingar. Mas agora é bastante fácil de perceber que  ele está realmente apaixonado.

Meu queixo cai. Encaro Luiza tentando encontrar algum vestígio de que  ela está apenas brincando ou algo que indique que ela sabe sobre a  aposta. Não há nada. Apenas sinceridade.

— Estou pronto! — Yago comunica, aparecendo repentinamente no cômodo.

— Até que enfim! — a garota ao meu lado exclama, levantando-se.

Agradeço mentalmente pelo foco da conversa ter se desviado de mim.

— Vamos almoçar fora. Quer ir conosco? — meu irmão indaga depois de trocar algumas palavras com sua namorada.

— Obrigada pelo convite. Mas prefiro ficar em casa. — digo, torcendo para que minha confusão de sentimentos não transpareça.

— Não fique sem se alimentar, está bem? — ele me alerta, com seu olhar preocupado sobre mim.

— Pode deixar! Irei cozinhar hoje.

— É melhor a gente ir.

Segurando a mão de Luiza, Yago a guia em direção à porta, como se a  possibilidade de depender das minhas habilidades gastronômicas fosse  algo terrível.

Talvez seja.

Sigo para a cozinha com um sorriso nos lábios, decidida a esquecer  momentaneamente a conversa que tive com minha cunhada, até porque tenho  certeza que Luan não está apaixonado por mim.

Reviro os olhos ao perceber que meu irmão não se deu ao trabalho de ao  menos lavar a louça que usou no café. Concentro-me em meus afazeres, mas  não demora para que eu sinta um corpo musculoso tocar minhas costas  enquanto minha cintura é envolvida por um braço.

— Como você conseguiu entrar? — indago, reconhecendo instantaneamente o perfume inconfundível do meu namorado.

— A porta estava destrancada. — ele responde depois que seus lábios tocaram gentilmente meu pescoço.

— Yago é um grande cabeça de vento! — reclamo, contudo, toda minha  racionalidade vai por água a baixo quando sinto o hálito quente de Luan próximo a meu ouvido.

Viro-me para ficar de frente com ele e a primeira coisa que encontro é um par de olhos atraentes.

Maldito seja!

— O que você está fazendo aqui? — peço, depois de beijá-lo suavemente.

— Vim almoçar com você.

— Vou fazer o almoço. Tem certeza que quer ficar? — levanto as  sobrancelhas de forma sugestiva, esperando que ele perceba que realmente  não levo muito jeito para isso.

— Não perderia por nada a oportunidade de provar seu tempero! — ele exclama, dirigindo a mim seu maior sorriso diabólico.

— Pois bem, trate de se sentar e não me atrapalhar. — ordeno e de bom grado ele se dirige até a mesa, sentando-se junto a ela.

Como eu e Yago temos o costume de comer fora ou de simplesmente pedir  algo para as refeições, o estoque na geladeira não conta com muitas  opções. Separo alguns ingredientes e percebo que tenho tudo o que  preciso para fazer um risoto.

— Queria lhe pedir uma coisa, mas não acho que você vai gostar. — ouço  meu namorado contar e noto certo tom de cautela em sua voz.

— Se eu não gostar, simplesmente não vou respondê-la. — dou de ombros, deixando que minha curiosidade vença meu receio.

— Tudo bem. — ele concorda, tomando uma lufada de ar. — Você não trabalha?

Deixo um sorriso escapar ao perceber que Luan está preocupado com minha reação frente a algo tão simples. Mas pudera, já iniciamos discussões por bem menos do que isso.

— Minha família é dona de um empreendimento bastante rentável. Tenho  participação na lucratividade, o que me permite pagar facilmente todas  as minhas despesas. — explico da forma mais sucinta e segura que  consigo.

— Tirando a questão monetária, você não fica entediada sem ter o que  fazer durante todo o dia? — ele pergunta, ainda usando seu tom  cuidadoso, provavelmente não querendo que seu interrogatório soe de  forma ofensiva.

— É claro que fico. — confesso enquanto lavo os temperos que vou  utilizar. — Ás vezes penso em fazer alguma coisa útil da minha vida, mas  nunca consigo imaginar o quê gostaria de fazer.

— Deve existir algo que você realmente goste.

— Provavelmente. Mas acho que podemos eliminar "cozinhar" da lista. — faço uma careta, enquanto tiro as sementes do tomate.

— Qual o seu problema com as sementes? — Luan questiona, agora sorrindo abertamente.

— Só não gosto de encontrá-las no meio da comida.

— Suas manias são bem interessantes. — ele comenta distraidamente.

Enquanto termino de preparar o almoço, fico imaginando se de fato Luan  tem reparado em mim a ponto de conhecer minhas manias. Enterro o  pensamento no fundo da minha mente e sento-me ao lado dele, disposta a  desfrutar de uma refeição tranquila.

Não acho que minha comida seja uma verdadeira maravilha, mas Luan acaba  afirmando de forma tão veemente que o risoto está saboroso que acabo por  acreditar no que ele diz. Admiro cada vez mais sua capacidade de fazer  com que eu me sinta bem.

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