Capítulo 03

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Estou na cozinha, comendo um sanduíche, tendo em vista que acordei depois do almoço, quando Yago aparece visivelmente nervoso.

— Você precisa escolher alguma coisa para eu vestir hoje à noite.

— Você sempre fez isso sozinho.

— Mas agora é diferente.

— Você já foi a inúmeros jantares e nunca precisou de mim. Sendo franca, sempre achei que você tem um excelente senso de estilo.

— Esse jantar é mais importante do que os outros.

— Tudo bem! Depois dou uma olhada no seu closet e separo algo.

— Obrigado. — ele murmura e por um instante, tenho a sensação de que ele está perdido no "fantástico mundo de Yago". — Sei que estou parecendo patético, mas é realmente importante para mim.

— Eu entendo. — digo para tentar confortá-lo, mas a verdade é que por mais que eu tente, simplesmente não consigo me ver na situação que ele está vivendo. — Mas eu tenho certeza que vai dar tudo certo. Não tem porque não dar.

— Você tem razão. — ele concorda, balançando discretamente a cabeça, como se quisesse se livrar de alguns pensamentos.

— Eu sempre tenho razão! — brinco enquanto me levanto para lavar a louça.

Yago mantem-se visivelmente distraído o restante da tarde. Concluo que ele está com a cabeça cheia de ideias, planejando o que acontecerá a noite. Por fim, acabo desistindo de tentar conversar com ele, depois de ter que repetir várias vezes algumas coisas, sem obter realmente sua atenção.

Como prometi, fui até o closet dele e deixei sobre a cama o que considero apropriado para a ocasião. Satisfeita com minha escolha, vou para meu quarto decidida a ficar pronta mais cedo, porque caso haja algum imprevisto que me faça atrasar, certamente eu perderei o irmão.

— Acho que já podemos ir, não é? — Yago aparece em meu quarto, mais cedo do que o combinado, aparentemente nervoso. Concordo sem levantar qualquer objeção, considerando que já estou pronta. — Você está linda! — ele comenta enquanto seguimos para a casa de Luiza.

— Obrigada. Meu grande objetivo dessa noite é não fazer você passar vergonha. — digo e enfim vejo-o sorrindo.

— Tenho certeza que não vai, caso contrário, você corre o risco de ficar desabrigada. — ele brinca e me sinto satisfeita por ao menos ser útil para deixá-lo um pouco mais relaxado.

De certa forma, fico aliviada ao perceber que não demoramos muito para chegarmos ao nosso destino. "Quanto antes isso começar, mais cedo terminará", penso assim que Yago toca a campainha.

Somos recebidos por Luan, que cumprimenta seu amigo com o mesmo sorriso que me deu na noite passada, quando nos conhecemos. Porém, seu sorriso se desfaz assim que seus olhos recaem sobre mim.

Isso não é um bom sinal!

— Você foi embora com ela ontem a noite, não foi? — Luan fita Yago, como se estivesse exigindo explicações.

— Sim. — meu irmão responde de sobrancelhas franzidas.

— Então por que diabos ela está aqui? — o outro retruca, com a voz áspera.

— Parece bastante óbvio. — me intrometo na conversa, porque uma pequena desconfiança começa a crescer dentro de mim.

— Não parece não! — ele responde dirigindo a mim um olhar de desaprovação. — Isso só pode ser uma brincadeira de mau gosto. — Luan resmunga, mais para si mesmo do que para nós.

Percebo então duas figuras se aproximarem. Reconheço a namorada de Yago sem muito esforço e deduzo que a outra seja a namorada de Luan no instante em que eles entrelaçam as mãos.
Sinto uma raiva enorme se apoderar de mim.

— O que está acontecendo aqui? — Luiza pergunta, possivelmente sentindo o clima tenso que nos envolve.

— É o que eu estou tentando descobrir. — Luan responde visivelmente incomodado com minha presença.

— Não é nada, Luiza. — esclareço, tentando ao máximo controlar o tom da minha voz. Ela não tem culpa de ter um irmão tão idiota. — Só fico me perguntando por que as pessoas não conseguem ver a mim e Yago como irmãos e começam a nos julgar tão ridiculamente.

— Como é? — Luan indaga, agora espantando.

— Essa é a Lara, minha irmã, Luan. — Yago explica e tenho certeza que ele entendeu tão bem quanto eu o que Luan vinha pensando de nós.

— Eu não acredito que ele fez isso! — Luiza esconde o rosto entre as mãos e parece impossível decidir quem está mais constrangido.

— Tudo bem, só não tem mais clima para mim.

— Lara, por favor. — Yago pede, mas dessa vez terei que desapontá-lo.

— Vai ser ainda pior se eu ficar. — digo a ele, que acaba concordando, já que me conhece há tanto tempo.

— Eu sinto muito, de verdade. — Luiza lamenta, sem ter coragem suficiente para me encarar.

— Não se preocupe. Nós conversamos outra hora, está bem? — tento ser educada e recebo um sorriso aliviado em troca. Mas aí, meus olhos encontram o cara que estragou completamente à noite. Respiro fundo, mas não consigo evitar, quando me dou conta, as palavras já estão saindo da minha boca.

— Yago não é como você que não fica satisfeito com apenas uma mulher. 

Confesso que eu não sei se Luan se envolve com outras mulheres ou não, mas depois do que ele insinuou, seria completamente injusto eu deixar barato. Apanhei demais da vida, mas agora eu aprendi a bater também.

O ato de pegar um táxi e ir parar em casa pareceu bastante inconsciente para mim. Há muitas perguntas sem respostas zanzando em minha mente. O que aconteceu essa noite poderia ter sido algo absolutamente normal se viesse de um estranho qualquer, mas se tratando do melhor amigo do meu irmão é completamente estranho e sem sentido.

Esforço-me para imaginar alguma justificativa plausível, mas parece impossível entender sozinha o que aconteceu. Deito-me no sofá já conformada com o fato de que terei que esperar Yago chegar, para talvez, conseguir algumas respostas.

Me pego pensando então, em como o clima deve ter ficado pesado depois que fui embora. Começo a torcer para que meu irmão seja um pouco compressivo e não queira me matar pelo que fiz essa noite.

Mas, afinal de contas, por que é que o irmão de Luiza tem que ser tão babaca assim? Por que não posso ter um momento de sossego em minha vida e fazer com que pelo menos as coisas possam dar certo para Yago?

São apenas mais perguntas, que não possuem repostas. 

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