Capítulo 02

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Quando estou na companhia de Yago, as horas passam sem que ao menos eu me de conta. Já anoiteceu e estamos no sofá, assistindo um episódio da nossa série favorita.

— Se realmente vamos sair, precisamos nos arrumar. — comento, assim que o episódio termina.

— Claro que vamos. — ele confirma já se levantando. — Em 20 minutos, aqui na sala?

— Nenhum minuto a mais, nenhum minuto a menos. — concordo, mas sei que isso dificilmente acontecerá.

Yago é a pessoa mais vaidosa que já conheci. Sou muito prática quando o assunto é me arrumar, fazendo isso em pouquíssimo tempo. Ao contrário do meu irmão, que nesse quesito deveria ser considerado a mulher da casa.

— 20 minutos, não é mesmo? — provoco Yago assim que ele finalmente aparece, com um atraso de mais de meia hora.

— Você precisa começar a considerar uma margem de erro. — ele ri, animado como sempre e só então seguimos para nosso destino.

Sair com Yago, diga-se de passagem, sempre foi sinônimo de diversão. Passamos boa parte do tempo juntos, mas como ele é o proprietário da casa de shows onde estamos, em determinado momento da noite, ele precisou me deixar para lidar com alguns pequenos contratempos.

Já percebi, depois de todo esse tempo, que dificilmente um homem se aproxima de mim enquanto Yago está por perto. Certamente imaginando que ele é meu namorado e não meu irmão. Hoje, não foi diferente.

A primeira regra que criei em relação a qualquer homem, é: nunca, em hipótese alguma, passe seu número. Costumo sair à noite única e exclusivamente para curtir, definitivamente não tenho paciência para lidar com um cara pós-balada.

— Está na minha hora. — sussurro, quando os lábios de um moreno, bastante interessante, se afastam dos meus.

— Posso te acompanhar? — ele pergunta, deixando um beijo em meu pescoço.

— Eu adoraria, mas vim com meu irmão. Ele já deve estar me esperando. — uso a desculpa de sempre e me despeço, deixando para trás um cara com um número de telefone que não é meu e com esperanças de que realmente estou interessada.

Consigo encontrar Yago em um dos camarotes, conversando com outro homem. Encaro-o a distância por alguns instantes e só então o reconheço. Luan Bastos. Apesar de sócio e melhor amigo do meu irmão, é a primeira vez que o vejo pessoalmente.

— Olá. — cumprimento os dois ao me aproximar.

— Oi. — Luan responde com um belo sorriso no rosto.

— Vamos embora, Yago? — pergunto, porque de alguma maneira, a companhia de Luan me deixa desconfortável.

— Vamos sim. — ele concorda e em seguida estende a mão para o amigo. — Resolvemos isso amanhã, pode ser?

— Claro. — Luan retribui o gesto e em seguida desvia sua atenção para mim. — Até mais.

— Até. — respondo de forma automática e respiro aliviada quando Yago pousa o braço em meu ombro e me guia rumo ao estacionamento. — O cara que estava com você é seu sócio, certo? — questiono assim que entramos no carro.

— Certo.

— E por que eu nunca o vi aqui antes?

— Porque ele estava morando no Rio de Janeiro. Foi para lá na época em que iriamos inaugurar mais uma de nossas filiais e acabou ficando.

— Então ele está só de passagem? — pergunto, mas intimamente estou tentando entender qual foi o problema que vi em Luan e que me causou esse repentino interesse.

— Na verdade não. A família dele mora aqui e por isso ele resolveu voltar. Chegou ontem à noite, junto comigo. — Yago esclarece, mas em seguida sinto um ar tenso se apoderar do ambiente. — Sem querer ser chato, mas Luan tem namorada. — completa, cheio de cautela.

— Não! — exclamo, ao perceber o que se passa na cabeça do meu irmão. — Não estou interessada nele, pelo contrário. Só lhe perguntei por curiosidade.

— Fico aliviado em ouvir isso. Luan já é meu sócio, melhor amigo, cunhado... Namorado da minha irmã seria demais para mim!

— Credo, Yago! Não há a menor possibilidade de isso acontecer! — afirmo convicta.

— E o cara que estava com você hoje à noite? — questiona, lançando-me um olhar de canto.

— Advinha?

— Você não deu seu número para ele...

— Exatamente!

— Quantos homens você já iludiu?

— Essa é uma conta difícil de fazer. — respondo e tanto eu quanto Yago acabamos rindo.

— Eu ainda espero pelo dia que você vai passar o número certo para um cara.

— Espere sentando, porque isso definitivamente não acontecerá.

— Já parou para pensar que talvez você só esteja magoada demais pelo o que aconteceu? Não acho justo você eliminar todas as opções de uma única vez. — ele argumenta, enquanto guarda o carro na garagem de nossa casa.

— Eu prefiro continuar assim, porque, com todo o respeito, homens não prestam.

— Assim você me ofende.

— Você sabe que é minha única exceção.

— Talvez possa existir outra.

— Talvez nós devêssemos ir dormir e esquecer essa conversa. — sugiro assim que chegamos à sala.

— Tudo bem. — ele suspira derrotado. — Mas não se esqueça do jantar na casa da Luiza.

— Não esquecerei. — afirmo e Yago deposita um beijo no topo da minha cabeça. — Boa noite.

— Boa noite e obrigado por não me deixar sozinho.

Quando me deito na cama, me pego pensando instantaneamente no moreno que conheci essa noite. Apesar de ser absolutamente bonito e o mais importante, ser um cara interessante em uma conversa, torço para não encontrá-lo novamente. Ou se caso isso venha acontecer, que ele simplesmente me ignore e não venha pedir explicações a respeito do número que passei errado.

Infelizmente isso já me aconteceu algumas vezes. Poucas, na verdade, mas que ocasionaram situações absolutamente chatas. Alguns homens simplesmente não aceitam o fato de serem dispensados por uma mulher. Voltam com aquele ar de "acho que você se enganou" ou "devo ter entendido errado".

Não seria muito mais fácil se eles apenas aceitassem a derrota e seguissem em frente?

Decido esquecer esse assunto por hora, para me concentrar em algo que agora é muito mais importante: Yago está namorando. Até que ponto isso irá interferir ou modificar nossas vidas? Eu não faço a menor ideia. Sei apenas que meu irmão merece mais do que ninguém ser feliz. E se a felicidade dele está relacionada à Luiza, o mínimo que posso fazer, é apoiá-lo.

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