Capítulo 28

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Quase três meses já se passaram depois de todas as revelações que fiz para Luan. Naquela noite ele ficou ao meu lado até que eu dormisse. Entretanto, quando acordei senti apenas o cheiro de seu perfume em meu quarto.

Lembro-me perfeitamente bem de quão mal eu estava, justamente por isso, prometi a mim mesma que nunca mais colocaria uma gota de álcool na boca.

Nesse meio tempo vi Yago e Luiza cada vez mais apaixonados. Presenciei também a inauguração de minha boutique, que até agora está indo muito bem, obrigada. Luan, por sua vez, continua namorando a Keila e quanto a mim... Bom, continuo sozinha.

Criei uma rotina que se baseia em ir de casa para o trabalho e vice-versa. Passo a maior parte do meu tempo imersa em minhas novas criações. Mas a maior novidade de todas é que eu e Luan, ironicamente, nos tornamos amigos. Parte de mim acreditava que depois de tudo o que eu contei nunca mais o veria. No entanto, ele não me abandonou.

— Lara? — sou arrancada do meu mundo particular quando meu irmão aparece no meu quarto.

— Sim?!

— O que você acha de cozinhar hoje à noite? — franzo as sobrancelhas estranhando sua proposta. — Eu convidei Luiza e um amigo para o jantar.

— Você convidou Luiza e Luan para o jantar, não é mesmo? — indago, sabendo exatamente onde essa história de amigo vai dar.

— Parece que minha irmã tem uma bola de cristal. — ele ri animadamente.

— Você deveria fazer o jantar, já que os convidados são seus.

— Eu pensei em fazer, mas como você é a pessoa mais gentil que conheço, achei que não se importaria em assumir essa responsabilidade.

— Talvez eu deva colocar um pouco de veneno no seu prato. — comento em um tom divertido.

— Eu não duvido que você o faça. — ele diz fazendo uma careta. — Bem, preciso sair agora. Volto mais tarde.

— O que devo preparar para o jantar? — indago, antes que ele deixe o cômodo.

— O que você preferir. — responde já próximo a porta. — Confio em você.

Eu definitivamente odeio ficar só. São nesses momentos que algumas lembranças do passado dominam minha mente. A boutique vem sendo uma ótima distração, mas ainda assim não parece ser suficiente.

Já no fim da tarde a possibilidade tão iminente de ver Luan faz com que eu estremeça. Acho que nunca estarei preparada para tê-lo tão próximo e ainda assim não poder tocá-lo como gostaria.

Quando a campainha toca, a primeira possibilidade que me vem em mente é a de que meu irmão esqueceu a chave de casa. Entretanto, quando abro a porta sou surpreendida.

— Oi. — Luan me cumprimenta, parecendo um pouco sem graça.

— Oi. — sorrio, tentando fazê-lo se sentir mais à vontade.

— Yago e Luiza estão?

— Ainda não chegaram. — respondo, percebendo que mesmo depois de termos virados amigos, não conseguimos agir de forma natural quando estamos sós. — Entre. Eles não devem demorar. — digo, dando a ele passagem.

Não me recordo de ter visto Luan tão constrangido em alguma ocasião como ele está agora. A sensação que tenho é que ele simplesmente não sabe como agir. A ideia de que ainda sou capaz de causar algum efeito nele, me agrada.

— Como você está? — pergunto com a finalidade de diminuir o muro que pareceu se formar entre nós.

— Eu não sei ao certo. — confessa, de forma bastante sincera. — É tudo meio estranho.

— Eu entendo.

— Você não usa mais o anel que te dei? — questiona, mudando o assunto.

— Não faz mais sentido usá-lo aqui. — afirmo, mostrando a ele minha mão. — Uso-o como uma espécie de pingente agora. — confesso tirando o colar debaixo da minha camiseta para que ele possa vê-lo.

— Gosto dele assim.

— Sua namorada também tem um? — indago sem que ao menos me dê conta.

— Não. — ele responde, fitando o chão. — Você continua chateada comigo por ter voltado com ela, não é?

— Você teve bons motivos para fazer isso.

— Só estava tentando te esquecer.

— Não quero que você me esqueça. — sussurro, porque a ideia me machuca.

— Eu duvido que vou conseguir, mas preciso tentar.

— Não entendo porque você continua perto de mim mesmo depois de tudo o que aconteceu.

— Eu lhe fiz uma promessa. Pretendo cumpri-la.

— Acho que você foi liberado dela quando terminei com você.

— Esse é apenas um detalhe. Eu disse que estaria sempre por perto para protegê-la e é isso que farei.

— Mesmo que isso nos machuque?

— Longe ou perto iremos nos machucar. Sendo assim, prefiro que seja perto, pequena. — ele argumenta e instantaneamente um sorriso se forma em meus lábios.

É como se algo que estivesse adormecido dentro de mim, voltasse à vida.

— Minha mãe costumava me chamar assim quando eu era criança. — conto e me sinto uma tola ao perceber que as lágrimas chegaram aos meus olhos.

— Hey, não quero ver você chorando. — ele fala, colocando uma mecha solta do meu cabelo atrás da minha orelha.

— Sinto tanta falta deles.

— Não posso imaginar pelo que você passou, mas posso parar de te chamar de pequena se isso te incomoda de algum modo.

— Não me incomoda. Pelo contrário, adoro quando você me chama assim. — afirmo e vejo uma expressão satisfeita ganhar forma no rosto de Luan.

— No começo você detestava.

— Em minha defesa, eu era uma verdadeira idiota naquela época.

— Já falamos sobre isso e minha opinião continua a mesma. — ele ergue as sobrancelhas de forma sugestiva. — Você não é idiota. É a garota mais incrível que já conheci.

— Mesmo com todos os meus traumas.

— Mesmo com eles. — sorrindo Luan acaba me abraçando.

Desfruto do momento. Eu realmente estou com saudade de tê-lo tão próximo. Mas ainda assim, acabo me afastando. Um pouco tarde, percebo que não me distanciei o suficiente.

Nossas bocas estão apenas a centímetros uma da outra. Nossos olhares estão grudados. Nossas respirações entram em sincronia em questões de segundos. É como se cada pequena parte de nós estivesse implorando pelo toque das peles.

Percebo que o que sentíamos um pelo outro ainda continua presente, mas de uma forma mais intensa e devastadora.

— Preciso fazer o jantar. — balbucio, não querendo me deixar levar pelo momento.

Já fiz muita besteira em minha vida, não pretendo fazer mais uma.

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