Capítulo 29

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Caminho em direção à cozinha e percebo que Luan me segue.

— Já decidiu o que vai fazer? — ele pergunta curioso.

— Ainda não.

— Que tal bife acebolado e arroz?

— Algo me diz que essa é sua comida preferida.

— Exatamente. — ele sorri, empolgado. — Posso lhe ajudar se você quiser.

— Sendo assim, você pode cortar os temperos.

Entrego a ele os utensílios e fico observando-o por alguns instantes. Parece que não sou a única que não leva muito jeito na cozinha.

— Você ainda tem a mania de tirar a semente dos tomates? — ele indaga como se estivesse proferindo um pensamento aleatório qualquer.

— Sim. — respondo, mal sendo capaz de conter um sorriso. — Você ainda lembra?!

— É claro que sim. — ele afirma e noto certo tom de orgulho em sua voz. — Lembro-me de todas suas manias, Lara.

No exato instante em que meus olhos procuram por os de Luan, o vejo largar bruscamente a faca e começar a sacudir uma de suas mãos no ar.

— O que foi? — questiono, começando a ficar preocupada.

— Cortei o dedo.

— Deixe-me ver. — peço aproximando-me.

Fazendo uma careta, possivelmente de dor, ele estende sua mão em minha direção e percebo que seu polegar está sangrando.

— Lave com água corrente. Vou buscar algumas coisas para fazer um curativo.

Ele apenas assente e sigo até o banheiro em busca de uma pequena caixa que contém alguns itens básicos de primeiros socorros. Quando retorno encontro Luan sentando sobre o mármore da cozinha, segurando um guardanapo em volta de seu dedo.

— Deixe-me cuidar disso. — falo e ele volta a estender sua mão para mim.

Com cuidado, pressiono o local do corte com uma gaze até que o sangramento seja detido. Em seguida, coloco um band-aid no local.

— Obrigado. — Luan sorri quando se dá conta que terminei.

— Não por isso. Só tente ser um pouco mais cuidadoso da próxima vez. — o alerto e quando tento me afastar sinto as pernas dele se entrelaçarem em volta do meu quadril.

Lanço a ele um olhar intrigado, mas sou ignorada. Seus dedos deslizam delicadamente pela pele do meu rosto e acabo fechando os olhos querendo apenas degustar a sensação.

— Luan?! — o advirto, porque sei que a possibilidade disso acabar mal é considerável.

— Eu sinto tanto sua falta, pequena. — ele sussurra e percebo uma nota de tristeza em sua voz.

Sou tomada por uma vontade absurda de dizer que sinto o mesmo, mas antes que eu possa fazê-lo, Yago e Luiza entram na cozinha.

— Pelo visto a comida vai demorar a sair. — meu irmão comenta, um tanto quanto malicioso.

Afasto-me de Luan rapidamente, mas não consigo prestar atenção na resposta que ele dá a Yago. Estou absorta demais em meus pensamentos para conseguir me concentrar em outra coisa.

Gostaria de entender apenas que sentimento é esse que faz meu coração praticamente sair pela boca quando estou próxima a Luan. Não entendo como alguém pode fazer tanta falta a ponto de você duvidar que seja capaz de seguir em frente sem a sua companhia.

A única certeza que tenho é a de que nunca senti nada parecido. E que existe algo dentro de mim afirmando com convicção que nunca sentirei a mesma coisa por qualquer outra pessoa que não seja Luan.

O que foi que esse homem fez comigo?

Termino de preparar o jantar sem muita animação. Vejo todos se servirem e engatarem uma conversa animada, mas a única coisa que consigo fazer é remexer na comida que está em meu prato.

— Está maravilhoso! Você já pode casar, Lara. — minha cunhada comenta e pelo seu tom de voz, parece estar sendo sincera.

— Obrigada! — agradeço, com um sorriso tímido nos lábios.

— Acho que devo me candidatar a marido. — Luan declara, fitando-me com atenção.

Sinto minhas bochechas corarem.

— Pare de dar em cima da minha irmã! — Yago retruca visivelmente animado.

— Não estou me sentindo bem. Se vocês não se importarem vou subir para meu quarto. — comunico em um murmúrio.

— Você ao menos tocou na comida. — meu aspirante a marido observa, encarando-me pouco satisfeito.

— Estou sem fome. Mais tarde faço um lanche. — sorrio tentando parecer convincente e me retiro da cozinha antes que mais alguém faça uma reclamação.

Deito em minha cama e acabo me recordando de uma parte da conversa que eu e Luan tivemos na noite em que lhe contei sobre meu passado.

"Você disse que me amava e eu só fui capaz de machucá-lo", eu tinha dito a ele.

"E apesar disso, eu continuo sentindo o mesmo por você. Isso sim é amor, Lara", ele me respondeu de forma bastante convicta.

Será que o que estou sentindo por ele é amor?

Balanço a cabeça bruscamente querendo afastar o pensamento intruso.

É claro que não!

— Lara? — levo um pequeno susto quando vejo Luan apoiado no batente da porta do meu quarto.

— Pode entrar. — falo enquanto me sento na cama.

Ele vem até mim e se acomoda ao meu lado.

— Está tudo bem?

— Sim. — acabo mentindo. — Só estou com um pouco de dor de cabeça.

— Quer que eu traga um remédio?

— Não precisa. Logo vai passar. — respondo, dando a ele um sorriso de canto. — Você continua se preocupando comigo da mesma maneira que antigamente.

— E sempre vou me preocupar.

— Gosto de saber disso.

— Não quero que nada aconteça a você.

— Por quê?

— Porque você é importante para mim. — ele diz, fitando-me com ternura. — Você tem algum compromisso para amanhã?

— Acredito que não. — dou de ombros, estranhando a repentina mudança de assunto.

— Quero te levar a um lugar.

— Posso saber em que lugar?

— Não.

— Luan, por favor. — peço, mal conseguindo esconder a curiosidade.

— Considere isso como uma surpresa.

— Pois bem, não posso aceitar seu convite sem saber para onde vamos.

— Lara?! — ele me repreende, com um sorriso discreto nos lábios. — Você vem comigo ou não?

— Vou. — acabo cedendo, desejando aproveitar qualquer momento a mais ao lado dele. — Mas eu realmente acho que você deveria me contar para onde vamos.

— Você irá descobrir amanhã.

— Isso é completamente injusto!

— Eu sei. — ele ri, esbarrando levemente seu ombro no meu. — Passo bem cedinho para te pegar.

— Conte-me, por favor. — insisto uma última vez.

Luan finge não ouvir meu apelo. Apenas deposita um beijo entre meus cabelos e se levanta.

— Até amanhã, Lara.

— Até amanhã, Luan. — suspiro, derrotada.

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