Capítulo 05

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Consciente de que mexi em uma ferida ainda muito recente, tomo o cuidado de manter uma distância segura entre mim e Luan, mas sem perdê-lo do meu campo de visão, afinal, não quero que ele desconte sua frustração em Yago e Luiza. No entanto, algo me diz que é exatamente isso que vai acontecer.

Dito e feito!

Não demora muito para que ele siga em direção ao casal e eu faço o mesmo, disposta a não deixar nada e nem ninguém estragar com a noite do meu irmão.

— Vamos dançar! — puxo Luan pelo braço, que meio confuso me segue até a pista de dança.

Percebo imediatamente que deve existir alguém conspirando contra mim, quando uma música lenta ecoa pelo espaço, substituindo a anterior que era bem mais agitada.

Um Luan constrangido se aproxima de mim e leva uma de suas mãos até minhas costas. Sem muitas opções, sou obrigada a fazer o mesmo. Nossa proximidade faz com que eu perceba duas coisas: ele é muito mais forte do que eu julgava que fosse e seu perfume é definitivamente um dos melhores que já senti.

Quando me dou conta a respeito do que estou pensando, procuro de forma quase involuntária os olhos de Luan. Praticamente paramos no meio da pista e o inesperado acontece: ele me beija.

Confesso que poucos caras beijam dessa forma. No entanto, não é só o beijo em si que é surpreendente. Luan é intenso e sabe o que fazer exatamente na hora certa. Ele conseguiria facilmente me fazer perder a cabeça, caso eu tivesse me esquecido da nossa conversa de mais cedo.

Mas eu não esqueci.

Quando sinto os lábios dele se afastarem dos meus, sussurro algumas palavras:

— Eu disse que você não resistiria, não disse?

Luan se mantem completamente imóvel, possivelmente assimilando o significado do que acabou de acontecer. Sorrindo, eu ainda mordo levemente o lábio inferior dele e só então vou embora, triunfante.

Opto por voltar para casa de táxi e mando uma mensagem para Yago avisando-o para não se preocupar comigo. Torço para que ele não tenha me visto com Luan, porque se ele viu, estou certa de que não terei mais um minuto de paz.

Somente quando deito na cama é que começo relembrar de fato os acontecimentos da noite e inevitavelmente me vejo pensando em Luan. Concluo que se não fosse por mim, ele não teria ficado com nenhuma outra mulher, como havia dito que faria.

— Acorda, Lara! — quando abro os olhos, tenho a sensação de que não faz cinco minutos que me deitei, mas pela claridade que entra pela janela já deve ter amanhecido faz tempo.

— O que você quer? — peço para Yago, cobrindo minha cabeça com a coberta.

— Só vim avisar que vou sair um pouquinho. — jogo um travesseiro em meu irmão e o fuzilo com os olhos.

— Dá próxima vez deixe um bilhete na cozinha.

— Que mau humor!

— Não sei se você percebeu, mas não tive uma noite tão boa quanto sua.

— Pensei que você tivesse, pelo menos, dormido bem.

— Como assim? — pergunto, sem entender a razão do seu comentário.

— Você não gritou essa noite.

— Tem certeza?

— Tenho sim. — ele responde bastante convicto, já caminhando em direção à porta. — Acredito que a explicação para isso é aquele beijo de ontem. — e antes mesmo de eu poder brigar, ele some porta a fora, me deixando sozinha.

Decido que não é muito seguro ficar pensando nas suposições de Yago e desço até a cozinha para tomar café. Assim que termino de guardar a louça, ouço a campainha tocar. Abro a porta e sou surpreendida por Luan. Ele avança para dentro e me encurrala contra uma parede.

— Você conseguiu o que queria! — ele rosna e seus olhos parecem soltar fagulhas de raiva.

— A única coisa que quero de você é distância, mas infelizmente ainda não consegui isso. — rebato, na vã tentativa de me defender.

— Você acabou com meu namoro!

— Ah, francamente! Estou pouco me lixando para você e seus problemas com sua namorada.

— Se você não tivesse me beijado ontem, isso não estaria acontecendo.

— É claro! A culpa é toda minha agora. Você não tem a mínima responsabilidade sobre o que aconteceu. — retruco e apresar de toda minha irritação, eu sinto um desconforto enorme tendo em vista que o rosto de Luan está a poucos centímetros de distância do meu.

— Se um não quer dois não beijam.

— Não sei se você se deu conta, mas isso significa que se você não quisesse, o beijo não teria acontecido. — as palavras saem da minha boca como um jorro.

Luan me fita por um instante parecendo completamente perdido e finalmente vai embora, sem dizer mais nada. Rezo para que eu tenha conseguido me livrar dele de uma vez por todas.

Mal tenho tempo de me sentar no sofá e ouço a porta da frente se abrindo. Em um momento de delírio penso que pode ser Luan novamente, mas logo me lembro de que tranquei a porta depois que ele saiu.

— Oi, pensei que você ainda estivesse dormindo. — Yago sorri, se jogando no sofá. — Você está bem? Parece que viu um fantasma.

— Vi sim. — murmuro e deito minha cabeça sobre as penas dele.

— Eu desconfiei, porque vi um saindo daqui. — conta, acariciando meus cabelos. — Luan parecia bastante perturbado.

— Ele veio aqui para me culpar pelo fim do namoro, acredita? — questiono incrédula.

— Convenhamos que você não é totalmente inocente da acusação.

— Você está defendendo ele, é isso mesmo?

— A questão não é essa. Mas pense comigo: você colocou uma pulga atrás da orelha da Keila quando deixou a entender que Luan se envolvia com outras mulheres.

— Eu só falei aquilo porque estava irritada.

— Eu sei disso. Mas depois do que aconteceu ontem, fica difícil para o Luan encontrar um argumento. — Yago observa. — Pelo que Luiza me disse, uma amiga de Keila contou para ela que viu vocês dois juntos.

— Vai me culpar pelo beijo também? — pergunto completamente aborrecida.

— Claro que não. Mas o fato é que o beijo aconteceu e isso colocou Luan em uma situação bastante complicada.

— Você pode fazer um favor para mim?

— Claro. O que você quer?

— Quero que você nunca mais me peça para ir a algum lugar onde Luan possa estar, ok?

— Mas, Lara... — Yago tenta argumentar, porém eu o interrompo.

— Já está decidido. Posso conviver tranquilamente com Luiza, mas não me peça para aturar aquele idiota de novo!

— Ok. — ele concorda, mas noto que faz isso contra a vontade. — Vou viajar hoje à tarde. — para meu alívio, ele decide mudar de assunto.

— Para onde? 

— Rio Grande do Sul.

— Mande um abraço para seus pais. 

— Pode deixar. — ele concorda, sorrindo. — Eu devo estar de volta no final de semana, você vai ficar bem até lá?

— Vou sim. Não se preocupe comigo.

As frequentes viagens são possivelmente a parte que Yago mais gosta do seu trabalho. No entanto, para mim elas não possuem um significado tão atrativo. Significam apenas que mais uma vez, estou sozinha.

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