— Ele me levou até um hospital. — conto a Bela, enquanto a ajudo organizar a cozinha.
— Até as crianças, aposto.
— Como você sabe? — indago surpresa.
— Ele costuma visitá-las com frequência. Já comentou a respeito.
— Ele vem me surpreendendo a cada dia.
— Luan é dono de um coração puro e gentil.
— Ao contrário de mim.
— São as diferenças que nos completam. — ela afirma, parecendo animada como há tempos não a via. — Ainda acho que vocês serão muito felizes juntos. — me mantenho em silêncio, talvez por desejar secretamente que isso realmente aconteça.
A visita que fizemos e as palavras que ouvi naquela ocasião estão mudando minha perspectiva em relação a algumas coisas. Estou inclinada a concordar com Luan a respeito de meu pai.
Não deveria culpá-lo. E acho que somente o fiz, porque estava destruída e precisava canalizar minha raiva em alguém. Naquela circunstância, ele foi à escolha.
— Gostaria de fazer uma coisa, mas não sei se consigo sozinha. — revelo para Bela, assim que termino de secar a louça.
— Eu adoraria lhe ajudar, mas tenho uma casa inteira para limpar. — ele faz uma careta, um pouco exagerada. — Por que você não liga para Luan? — sugere em tom inocente.
Semicerro os olhos sabendo exatamente aonde ela quer chegar. A mulher não se importa, apenas sorri e me deixa sozinha.
Encaro o celular, tentado definir se devo ou não fazer a ligação. Concluo que se realmente vou fazer o que estou prestes a fazer, preciso de Luan ao meu lado.
— Lara?! — a voz do outro lado da linha se revela um misto de surpresa e apreensão.
— Atrapalho? — pergunto um pouco insegura.
— É claro que não!
— Ah bem... É que pensei em ir a um lugar, mas não acho que tenho coragem suficiente para ir sozinha. — falo e sei que minha voz possui um tom de hesitação.
— Posso ir com você. — ele se oferece e acabo sorrindo, grata por sua disponibilidade. — Para onde você quer ir?
— Por ora, isso é segredo.
— Você vai mesmo fazer isso comigo? — ele questiona e apesar de tentar esconder noto uma ponta de diversão em sua voz.
— Vou. — afirmo, lembrando-me que ele também já fez isso comigo.
— Já tinha me esquecido quão vingativa você é.
— Não exagere.
— Eu deveria me recusar a acompanhá-la.
— Eu sei. Mas você não vai fazê-lo, não é?
— Não. — ele solta o ar. — Daqui a meia hora estou aí.
— Obrigada!
Depois de avisar a Bela que irei sair, vou para meu quarto e me arrumo apressadamente. Estou nervosa. Por isso, acabo esperando por Luan no quintal.
— Deveríamos ir com o meu carro. — informo, assim que ele chega.
— Por quê?
— Porque você não sabe para onde estamos indo. Sendo assim, eu preciso ir dirigindo. — explico e sou surpreendida quando percebo que ele está estendo a chave do seu carro para mim.
— Você pode dirigir o meu.
— Tem certeza? — indago, porque sei bem como os homens são em relação a seus carros.
— Claro. — ele dá de ombros, encaminhando-se para a porta do carroneiro.
O percurso que faço não é tão distante e assim que chego a meu destino, sinto a tensão tomar conta do ar. Encaro Luan e percebo uma mistura de confusão e nervosismo em sua expressão.
— Você tem razão. — falo com o objetivo de explicar porque estamos aqui. — Meu pai não teve culpa. Eu sei que é um pouco tarde para isso, mas acho que devo me desculpar por ter jogado essa responsabilidade sobre ele.
Luan não diz nada, apenas desafivela nossos cintos e me abraça. Acho que finalmente estou fazendo algo certo e ele parece se orgulhar disso.
Entramos no cemitério de mãos dadas. Luan ainda está namorando, mas parece cada vez mais difícil esconder o que sentimos um pelo outro. Ao contrário de antes, já não estou mais tão magoada pelo fato de ele estar com outra. É claro que eu queria que ele estivesse comigo, no entanto, antes de tentarmos novamente, eu preciso mudar.
— Sinto tanta saudade deles. — murmuro entre lágrimas.
Estamos parados em frente às lápides dos túmulos de meus pais. Luan está ao meu lado, com a mão repousando em minha cintura.
— Eu sei. — ele sussurra, apertando ainda mais o braço em volta de mim, tentando me confortar.
Ficamos conversando por mais alguns minutos. Acabo descrevendo meus pais para Luan e contando algumas das lembranças felizes que tenho do passado. Ele parece não se importar com o fato de eu estar falando descontroladamente. Pelo contrário, presta atenção em cada palavra que sai da minha boca.
— Já podemos voltar para casa. — digo, sentindo-me psicologicamente cansada.
— Claro.
— E agora você já pode se apossar do volante novamente.
— Tem certeza? — ele pergunta relutante. — Descobri que observar você dirigindo é algo fascinante.
— Você já teve a oportunidade de me admirar, agora é minha vez. — brinco, esbarrando levemente meu ombro no dele.
— Faz sentindo. — ele sorri, aceitando a chave do seu carro de volta.
— Obrigada por me acompanhar. — agradeço, assim que paramos em frente à minha casa.
— Você sabe que sempre pode contar comigo. — afirma, enfático.
— Sempre! — repito com um sorriso grato nos lábios.
Despeço-me, mas antes de deixar o quintal, espero o carro de ele desaparecer pela rua. Parte de mim deseja loucamente que nosso próximo encontro não demore a acontecer.
— E essa cara de felicidade? — Luiza questiona, assim que me vê entrando na sala.
— Não é nada. — desconverso, sentando-me junto a ela no sofá.
— Você e Luan estão se aventurando muito ultimamente. — comenta como quem não quer nada.
— Ele tem namorada, caso você tenha esquecido. — pontuo, mas sem conseguir tirar o sorriso de meu rosto.
— Aquilo está longe de ser um namoro. — ela declara com veemência. — Eles mal se encontram e quando isso acontece, passam o tempo todo discutindo.
— Eu e Luan também discutíamos com frequência quando estávamos juntos.
— Mas se suportavam, porque amavam um ao outro. — ela contrapõe. — Não duvido que Keila goste de Luan, mas certamente não é algo recíproco.
— Devo ficar feliz com a notícia, afinal.
— Certamente. — ela sorri e noto que está debatendo internamente se deve ou não fazer algo. — Que mal lhe pergunte, mas posso saber para onde você e Luan foram?
— Para o lugar menos provável de todos.
— Como assim?
— Fomos visitar o lugar que meus pais estão. Yago pode lhe contar o que aconteceu com eles. — falo, assim que percebo a presença do meu irmão.
— Você está certa disso? — ele questiona, possivelmente tendo ouvido parte da minha conversa com sua namorada.
— Sim. — afirmo com a voz confiante e em seguida, sigo para meu quarto.
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Revelações
Любовные романыComo a vida de alguns parece tão certa, enquanto a de outros não passa de uma grande e inacabável confusão? Lara vem se perguntando isso desde que uma grave notícia mudou completamente o rumo de sua vida. A garota doce, de futuro promissor, que sonh...