Capítulo 20

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Estou em uma chácara, na companhia de alguns amigos de Luan e Yago. Estamos sentados em círculo e há uma fogueira acesa no meio, aquecendo-nos. Volto minha atenção ao fogo. As chamas não trazem boas lembranças, pelo contrário, fazem com que eu volte para o passado e me pego revivendo os momentos difíceis pelos quais passei.

Deixo as lembranças para trás, quando Luan surge com um violão. Ele entrega a um de seus amigos e acaba se sentando do lado oposto ao meu. Ele está no centro do meu campo de visão e sorri alegremente para mim. Retribuo seu sorriso, mas assim que ouço as primeiras notas de uma música tranquila começar, sinto uma onda de tristeza me invadir.

Me vejo relembrando da época, não tão distante assim, em que meus sentimentos eram escassos. Eu odiava o mundo por ter me obrigado a passar pelas coisas que passei, sendo assim, a única coisa que eu realmente era capaz de sentir, era raiva.

Desvio minha atenção para Luan e encontro seus olhos atentos procurando pelos meus. Graças a ele me tornei uma pessoa melhor. Mas ainda assim, eu preciso deixá-lo ir. Sinto minha visão se embaraçar.

Não posso chorar aqui.

Levanto-me e discretamente me afasto de todos.

A lua cheia ilumina o céu deixando tudo mais belo. A brisa faz com que meus cabelos sejam jogados para trás e fecho os olhos, deixando que as lágrimas caíssem livremente.

Quero ficar sozinha, porém não demora para eu sentir um casaco sendo posto em meus ombros e depois, meu corpo é envolvido em um abraço. Solto um suspiro satisfeito ao sentir o perfume de Luan.

— Estou aqui. — ele sopra em meu ouvido. — E não pretendo ir a lugar algum. Você pode contar sempre comigo, está bem?

Suas palavras fazem com o que resta do meu mundo desmoronar. Luan está apaixonado por mim e começo a desconfiar que sinto o mesmo por ele. Uma paixão completamente intensa, voraz e insana.

Me viro para poder encontrar seu rosto. Deslizo minhas mãos entre seus cabelos e o puxo para junto de mim. Nossos lábios se tocam de forma urgente e tudo o que mais desejo nesse momento é a oportunidade de voltar no tempo e fazer com que tudo seja diferente.

Mas ninguém é capaz disso.

Sendo assim, preciso encerrar minha relação com Luan antes que ele acabe se machucando ainda mais.

O pensamento faz com que eu me afaste e vire de costas para ele novamente. Sou capaz de sentir seu hálito frio em meu pescoço e por algum motivo sei que nunca me esquecerei dos pequenos detalhes que envolvem esse homem.

— Eu sei que nós temos nossas diferenças, Lara. — ele diz, e começo a me perguntar por que justamente agora ele decidiu falar tanto sobre nós. — Acho que ainda não aprendi totalmente a conviver com você, mas venho me esforçando para isso. Posso cometer erros às vezes, mas sempre irei tentar corrigi-los porque não gosto da ideia de ficar sem você. Não estou disposto a perdê-la e farei tudo o que puder para isso nunca acontecer.

O que foi que eu fiz?

Sinto que sou o pior ser humano da face da Terra. Não consigo ao menos imaginar o tamanho do estrago que irei causar na vida de Luan.

— Podemos ir para casa? — murmuro, secando as novas lágrimas que se acumularam em meus olhos.

— Você está bem? — ele questiona, talvez percebendo meu tom de voz triste.

— Sim. Com sono apenas. — conto mais uma mentira e volto a me virar para fitá-lo.

— Ok. — ele concorda, mas posso ver que meu argumento não o convenceu inteiramente. Contudo, para meu alívio, ele não faz nenhum comentário a mais.

Passo a noite toda acordada. De certo modo isso me faz bem, já que a claridade que entra pela janela me permite ficar olhando o homem que está deitado em minha cama. Analiso cada característica sua, certa de que vou sentir saudades de cada pequena parte dele.

Quando o relógio aponta para seis e meia da manhã, acabo levantando. Silenciosamente sigo até a sala e ligo a TV na esperança de me distrair. Estou decidida a terminar o namoro assim que Luan acordar. Fecho os olhos e visto minha armadura. Não posso deixá-lo me fazer mudar de ideia em hipótese alguma.

— Bom dia, pequena. — depois do que parece uma eternidade sozinha, a voz dele chega até mim.

— Precisamos conversar.

— O que foi? — ele questiona, visivelmente preocupado.

— Quero terminar. — respondo, mantendo minha voz firme.

— Como é?

— Quero terminar. — repito, dessa vez de forma mais enfática.

— Posso saber por quê?

— Porque cansei.

— Ninguém se cansa assim, de uma hora para outra.

— Pois eu cansei!

— Diga a verdade! — ele exige, agora parecendo irritado.

— É o que estou fazendo.

— Lara, fale logo!

— Você está nervoso assim por que vai perder a aposta? — indago, sem pensar nas consequências que minhas palavras podem ter.

— Do que é que você está falando?! — ele retruca e sua expressão me diz que ele está confuso.

— Não se faça de desentendido!

— Que porra, Lara! Fale o que tem para me falar de uma vez por todas! — ele ordena, com o tom de voz um pouco mais elevado.

— Não fale comigo dessa forma! — retruco entre dentes. — Como você acha que me senti quando ouvi você e Yago falando de mim como se eu fosse um mero objeto?!

— Você ouviu nossa conversa? — ele questiona de olhos arregalados.

— Parece que enfim sua memória está voltando. — ignoro sua indagação e deixo que um sorriso irônico surja em meus lábios.

— Eu desisti dessa aposta! Pelo amor de Deus! Você realmente acredita que estou com você por causa dela?

— Qual era o prêmio?

— Não tem merda de aposta nenhuma! — ele afirma, fuzilando-me com os olhos. — Eu desisti logo no começo, porque queria ficar com você de verdade e não por conta de uma porcaria de aposta.

Fico sem reação por alguns instantes. Observo Luan se sentar no sofá e passar nervosamente as mãos pelos cabelos. Quando seus olhos se erguem novamente, em direção aos meus, sinto um arrepio de medo percorrer meu corpo. Ele acaba de vestir sua armadura. Vejo apenas uma fagulha de raiva em seu rosto.

— Você ficou ao meu lado durante todo esse tempo por causa da aposta? — ele pergunta enquanto se levanta. — Você estava fingindo! — ele me acusa, mas não me defendo, porque no fundo sei que não tenho argumentos suficientes para isso. — Quando lhe perguntei se você me amava, percebi quão surpresa você ficou. Agora entendo por que.

— Bem como eu entendo porque não tive nenhuma resposta quando fiz a mesma pergunta a você.

— Não! Você definitivamente não entende! — ele declara com convicção. — Fiquei em silêncio porque você havia dito que não acreditava no amor. — ele encara o chão e tenho a impressão de ver lágrimas se acumularem em seus olhos. — Eu te amo, mas você não sabe o que isso significa.

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