Capítulo 08

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As três semanas seguintes passaram rapidamente e vi Luan começar a entrar em minha vida aos poucos. Nesse meio tempo, chego à conclusão de que ele consegue ser extremamente chato quando quer, mas também sabe ser gentil em determinadas situações.

No entanto, mesmo nos dias em que sua companhia não é tão terrível assim, quando olho para ele, lembro-me apenas da aposta e em como nós dois estamos fingindo para conseguir o que queremos.

— Oi, Lara! — Luiza abre um enorme sorriso assim que abro a porta para ela. — Pronta para o show? — pergunta visivelmente animada.

— Prontíssima! — afirmo enquanto a acompanho até a sala. — E Luan? — peço, porque a ideia de sairmos hoje a noite partiu dele.

— Ficou esperando no carro.

— Vou avisar a ele que você e Yago ainda vão demorar um pouquinho. — aviso ao ver meu irmão descendo as escadas, sorridente.

Deixo os dois sozinhos e saio de casa decidida a fazer com que as coisas entre mim e Luan evoluam. Já estou cansada dessa história de sermos apenas amigos.

Meu futuro namorado está apoiado em seu carro, com sua postura descontraída de sempre, mas essa noite em especial, ele está de tirar o fôlego.

— Oi. — ele me recebe com um sorriso sedutor e eu me aproximo para abraçá-lo.

— Oi. — sussurro em seu ouvido e fico absolutamente satisfeita quando ele leva as mãos até minha cintura, puxando-me para ainda mais perto do seu corpo.

— Yago e Luiza? — ele questiona, sem desviar os olhos dos meus.

— Ainda vão demorar.

— O que significa que teremos um tempo só para nós.

— Exatamente! — concordo ao perceber certa malícia surgir em seus olhos. — Acho que é nossa obrigação aproveitar esse tempo da melhor maneira possível.

Entrelaço minhas mãos em volta do pescoço de Luan e assim que seus lábios tocam os meus, percebo que talvez eu não tenha sido a única a sair de casa decidida a fazer nosso relacionamento engrenar.

— Você está linda! — ele sussurra quando nosso beijo é interrompido devido à escassez de ar. Ainda estou com os olhos fechados, mas posso sentir o nariz dele roçando o meu de leve.

— Você também está. — respondo e abro os olhos somente porque sei que vou ver um Luan radiante em minha frente.

Acho que esse foi o primeiro elogio que ele recebeu de mim.

Por mais durona que eu seja não posso simplesmente negar o que é óbvio. Luan está realmente bonito, mesmo vestindo uma camiseta totalmente branca e uma calça jeans preta, há algo diferente nele.

Gostaria de, pelo menos por mais uma vez, me sentir tão feliz como ele parece estar se sentindo agora. 

— Você está triste. — ouço Luan dizer e solto um longo suspiro, incomodada com o fato de deixar meus pensamentos transparecerem tão facilmente.

— Não é nada. — tento fazer com que minha voz soe convincente e aproveito nossa proximidade para abraçá-lo novamente. Tanto para esconder meu rosto, tanto para poder encontrar a fonte de seu perfume, que agora se tornou oficialmente o melhor que já senti.

Luan aceita sem relutância meu abraço e não faz qualquer menção de encerrá-lo mesmo depois de longos minutos.

Nos afastamos somente quando Yago e Luiza aparecem, nenhum deles parecendo surpreso com o fato de eu e Luan estarmos juntos e, para meu alívio, acabo não ouvindo qualquer comentário sobre o assunto.

De certo modo, acho engraçada a forma como Luan se dispõem em segurar minha mão e em se manter ao meu lado durante o restante da noite. Aventuro-me a dizer que grande parte das mulheres se apaixonaria facilmente por ele, no entanto, estou convicta de que não pertenço a esse grupo.

Não nego que com o passar dos dias o fato de eu estar com Luan por conta de uma aposta, começa a me incomodar. Porém, isso parece tão natural para ele que me obrigo a deixar a culpa de lado.

Você não é a única que está mentindo aqui!

Meu eu interior alega, quando penso que estou agindo de forma totalmente inescrupulosa.

Tentando criar argumentos inquestionáveis para seguir em frente com tal loucura, vejo o mês passar com uma rapidez absurda. Imagino que isso se deva porque agora Luan também começou a fazer parte dos meus dias e requerer minha atenção.

O grande problema nisso tudo, é que ainda não estamos namorando.

Deixo Luan em nosso camarote da Estação 296 para ir até o banheiro, tentando fingir que esse pequeno detalhe (mas de uma importância inegável) em nossa relação não me incomoda.

Sou pega completamente de surpresa quando uma mão segura meu braço, fazendo com que o lugar que sela nosso contato doa instantaneamente.

— Ei, me larga! — falo para o cara que me segura, tentando me desvencilhar.

— Vem comigo. — ele ordena e para minha aflição noto que ele está completamente bêbado.

— Me solta! — grito quando ele começa a me puxar em direção à saída e só então tomo consciência da gravidade da situação.

As lágrimas começam a se acumular em meus olhos e mesmo estando rodeada de pessoas ninguém parece perceber meu desespero. Todos estão concentrados demais na atração que está tocando no palco ou simplesmente não se importam.

Esforço-me para pensar no que fazer e só percebo que não há mais pressão alguma em meu braço quando vejo o homem que estava a causando cair no chão.

As lágrimas tornam-se ainda mais intensas quando encontro Luan e percebo que foi ele quem me salvou.

— Está tudo bem agora. — ele sussurra para mim, envolvendo meu corpo em um abraço. — Cara, eu só não bato mais em você porque você está bêbado, mas nunca mais se meta com a namorada dos outros! — a voz de Luan soa ameaçadora e o homem que agora está sendo levantado por dois seguranças parece atordoado.

Fico absolutamente grata quando percebo que estou sendo tirada do meio da aglomeração sufocante de pessoas e sendo levada até o lugar onde mais cedo deixamos o carro.

— Obrigada! — tento expressar toda a gratidão que estou sentindo, mas minha voz sai entrecortada.

— Não precisa agradecer. — Luan me fita com atenção e posso ver em seus olhos, que no fundo, ele está tão assustado quanto eu. — Ele te machucou?

— Não. Mas se você não tivesse visto... — começo, mas sou calada por um beijo.

— Sempre estarei por perto para te proteger. — ele promete acariciando meu rosto com uma das mãos.

Sua promessa e seu gesto afetuoso fazem com que eu me acalme.

— Posso te perguntar uma coisa? — sou vencida pela curiosidade, certa de que não vou conseguir deixar escapar a oportunidade que surgiu, mesmo em um momento tão impróprio.

— Claro. — ele responde prontamente, talvez até imaginando o que vai acontecer.

— Que história foi aquela de "não se meta com a namorada dos outros"? — ergo as sobrancelhas e vejo um sorriso encantador se formar no rosto de Luan.

Eu já notei como o sorriso dele é bonito?

— Me dê um segundo. — ele pede, destravando as portas do carro e procurando por algo lá dentro. — O que você acha de me levar um pouco mais a sério?

— Não seja dramático! — o advirto, mas a sensação que tenho é de nada seria capaz de fazer o sorriso dele desaparecer.

— É simples. Igual ao que eu já uso. — ele avisa, estendendo uma pequena caixa para mim, cujo conteúdo é um anel. — Você quer namorar comigo? — Luan pergunta, com os olhos brilhando de expectativa.

— É claro que quero. — respondo e então ele coloca o anel em meu dedo.

Só mais dois meses.

E tudo volta a ser como era.

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