Prólogo | Aposta

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Terceiro ano do ensino médio.

E não, eu não estava feliz porque eu poderia andar pelos corredores dos anos anteriores com a cabeça levantada e me sentir um ser superior, ou porque seria meu último ano no colégio, ou porque agora eu frequentaria a sala dos garotos lindos e sarados todos os dias — tudo bem, eu admito que há uma parte nisso pela qual meu sorriso se rasgava nos lábios. Mas eu estava mesmo alegre por causa de uma coisa que eu sempre almejei frequentar desde que eu entrei aqui: o teatro.

Ah, o teatro...

Três vezes na semana — segunda, quarta e sexta — e dois tempos finais em cada dia eram mais que suficiente para me dar um incentivo em qual profissão exercer após terminar os estudos, pois eu não era nem de Humanas, nem de Biológicas e muito menos de Exatas. Eu era apenas um passarinho que gostava de voar sem rumo definido — no meu caso, os garotos sexys do colégio eram o vento que me direcionava à frente. Sim, eu era tão viciado neles quanto qualquer ser humano é viciado em algo que ama.

Fiquei, exageradamente falando, com metade do colégio, inclusive com os que se diziam ser héteros. "Não conte a ninguém", pediam eles antes de praticarmos atitudes que nenhum deles fizeram ou fariam com outros garotos, e eu sempre dava a minha palavra de que eu nunca contaria a alguém — com exceção de Alex e Victoria, claro, meus amigos mais íntimos.

E que inclusive estavam andando comigo à sala de teatro agora.

— Tá pensando em macho de novo, Austin? — murmurou Victoria, emoldurando aquela expressão de tédio que ela sempre fazia quando eu mostrava fotos de homens sem roupa.

— Não dessa vez.

— E esse sorriso, o que é?

Suspirei e apontei para frente, especificamente para o fim do corredor, onde estava a sala de ensaios teatrais.

— Não sabia que se interessava por artes — observou Alex, e depois formou um toque de malícia em sua expressão. — Ah, é claro... Vincent.

— Quê?

— Que Vincent? — Victoria ajeitou seu cabelo ruivo e curto para trás, os olhos verdes indicando curiosidade também.

— Não souberam?! — Alex exclamou. — Meu Deus, estou falando do novato! Todo mundo, na verdade, tá falando dele. "Misterioso" e "sensual" foram os dois elogios mais usados para defini-lo, além de que ele é lindo pra caramba.

Minhas orelhas ficaram atentas subitamente. Então ele já o viu...

— E o que isso teria a ver com o teatro? — indaguei, só para ter o prazer de ouvir o óbvio.

— Ele fará também — explicou Alex. — É uma das únicas três matérias onde estaremos juntos com ele, pelo que sei.

— Ah, é? — Meu sorriso largo saiu contra minha vontade.

— Larga de ser puto, puto — censurou Victoria, contendo o riso.

— E você, cala a boca — falei para ela em um tom igualmente risonho, voltando a atenção para Alex. — O que mais sabe sobre Vincent, hein?

Ele abriu a porta do tetro com um rosto misterioso.

— Veja você mesmo.

Segui seus olhos para as pessoas internas e o vi.

Eu já havia entrado aqui antes inúmeras vezes — o lugar era um conjunto de arquibancada, sendo o meio livre para passarmos, vários holofotes no centro do palco sustentados por tripés e alguns deles nos suspensórios metálicos, cadeiras extras, papéis nas mesas dos alunos, tintas para ocasiões mais apropriadas... —, então nada do que minha visão estava vendo era novo. Mas ele era. E foi como se todos os alunos e a própria professora — que estava conversando com ele — não existissem mais.

Alto; magro como eu, havendo algumas regiões musculares aqui ou ali — principalmente nos braços; cabelo preto, liso e brilhante penteado para frente... Forcei minha vista. Era uma franja, na verdade. Uma linda e chamativa franja, as pontas convergindo no olho esquerdo, como se ele penteasse somente para esse lado. O rosto era incrível — me parecia aqueles atores que exibem todo o seu charme nas telas e, no fim, opta por ficar sozinho do que acompanhado —, o maxilar quadriculado. Como eu, não havia um fio de barba sequer.

Somente a roupa era o traço mais próximo à normalidade dos demais: calça cor de vinho e justa, mas não da forma da minha; a camisa regata branca; e o tênis preto. Nada a mais.

Nossa!

Então ele sorriu e virou-se, colidindo contra minha face. Olhos castanhos como o mel e sorriso branco... Puxa. E ele ainda mantinha o gesto, e eu não consegui sorrir de volta — não porque não era uma atitude destinada a mim, e sim porque eu estava paralisado. Nenhum outro garoto no colégio me trouxe esse efeito — nem chegaram próximo — em tão curto período de tempo. Isso tá errado, eu vou começar do zero... Vou fechar os olhos e, quando eu abri-los, verei que Vincent é feio e que ele está aqui somente para atuar no próximo filme do Shrek...

— Mas já? — sussurrou Victoria no meu ouvido, a provocação tangível.

Dei de ombros para afastar o impacto que acabei de sentir. Após um bom período arquitetando meus sentidos em seus devidos lugares, consegui dizer algo.

— Nada demais. — Tive ainda a coragem de fazer beicinho. — Tão normal quanto os meninos que eu já fiquei.

— Desculpe aí, gostosão — riu Alex. — Admitir não arranca pedaço.

— Espera — pediu Victoria, segurando meu ombro e semicerrando o olhar. — Está dizendo que não sentiu atração por ele?

SENTI, CARAMBA, ELE É LINDO! Mas eu não me chamaria Austin se não me fizesse de difícil.

— Eu deveria?

— Pelos céus! Mesmo que ele seja gay, o que é bem provável, eu gostaria de ter uma chance. E você simplesmente diz que o achou normal?

Não.

— É.

— Você viu errado, vê de novo.

— Aposto vinte dólares que em um mês você o beijará — desafiou Alex, tirando uma nota de dinheiro da bolsa e direcionando-a para mim.

Hesitei, transitando meus olhos entre seus dedos e seu rosto. Victoria apenas me fitou. Agora pronto...

— Vamos lá — incentivou ele. — Se está tão seguro assim de que não pegará Vincent em menos de trinta dias, não precisa temer por nada. Mas precisa me prometer antes que não haverá trapaça.

Respirei fundo e peguei os vinte dólares. Um mês... Minha nossa.

— Eu prometo.

🎭

Instagram: _pequenoponei

DEPOIS DO "EU TE AMO"Onde histórias criam vida. Descubra agora