9 | O que você está fazendo comigo?

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Em casa, fiquei me fitando no espelho por minutos longos a fim de compreender a mim mesmo. Meus olhos azuis não denunciavam nada, nem mesmo meu sorriso que eu forçava ou as bochechas rosadas diziam algo sobre o que eu estava suspeitando. Penteei meu cabelo castanho clarinho, mexi no meu alargador, mudei meu comportamento em pé — tudo isso em busca de alguma explicação para minha mudança que eu sabia existir dentro de mim. Dentro de mim...

Arregalei os olhos e toquei os lábios enquanto pensava. Era isso... Não tinha nada a ver com meu exterior; nada do que eu fizesse ou deixasse de fazer em relação às minhas atitudes não iria mudar o que meu coração sussurrava. Não, não posso estar me apaixonando por ele. Bufei de raiva e sentei-me na cama, olhando para o teto depois. Pelo amor de Deus, todo mundo que se apaixona se dá mal no fim, e eu não quero passar por isso...

Notei essa estranheza hoje na aula de teatro. Não sou cínico a ponto de não saber que eu quero Vincent mais do que um dia eu já desejei outro garoto, mas havia um problema nisso, eu sentia. E era a forma como eu estava trilhando esse caminho, rápido demais para pensar em frear minhas atitudes. Era irônico, pois eu não fiz nada — não era como se eu tivesse já pedindo minha nova paquera em casamento. Ainda assim suspeitei de que já fiz um progresso enorme.

Engoli em seco, puxei um livro de romance da minha prateleira de materiais escolares e fui à minha cama ler um pouco, esperando ter alguma noção do tempo estimado para que os protagonistas começassem a ter suas primeiras percepções de estar apaixonados. Eu sabia que tudo isso não passava de ficção, mas a ideia da comparação me incentivou a criar coragem e ler. Enquanto eu estava começando a folhear as primeiras páginas, porém, meu vizinho, que normalmente tocava instrumentos musicais todas as noites antes de dormir, deu início aos toques Halo no piano. Foi a partir daí que ergui meus olhos da minha leitura e observei o nada à medida que associava a letra da música.

Dei um longo suspiro, movi meus joelhos abaixo do queixo e descansei minha cabeça entre eles. Bem, a última vez que namorei foi no meio do ano passado, e não me lembrava de ter sentido um desejo tão forte assim antecipadamente antes de me relacionar com meu ex — nem com qualquer outro garoto com quem já tive um relacionamento sério, pelo que eu me lembrava. Sempre comecei o namoro conhecendo aos poucos meus namorados, o que significou que essa paixão pelos mesmos veio com o tempo. Mas agora as coisas estavam invertidas.

Já havia lido várias vezes romances onde acontecia esse tipo de coisa, ainda que eu nunca acreditasse que um dia fosse acontecer comigo. E parece que minha primeira vez chegou. Eu tinha um sério problema quanto a essas situações nos livros, pois os parceiros nunca ficavam juntos no fim. Okay, livros não são realidade, mas boa parte do que eles nos mostram já funcionaram com muitos.

Eu queria saber se Vincent estava trilhando a minha mesma loucura cerebral.

Droga, por que você não me pede em namoro primeiro, Vincent?

Meu pai bateu na porta momentos depois — ela já se encontrava aberta.

— Sua mãe e eu já estamos indo jantar — avisou ele.

Mostrei um sorriso e fechei meu livro como se tivesse feito algo errado.

— Tudo bem.

Seu rosto ficou preocupado.

— Você está bem?

Depende.

— Estou. Eu vou... hã... Vou tomar um banho. Bom jantar.

Levantei-me da cama.

— Valeu. Devemos voltar lá pelas dez.

Assenti, indo ao guarda-roupa. Ele fechou a porta em seguida, e eu voltei à minha introspecção estranha direcionada àquele garoto de olhos dourados que estava confundindo minha cabeça.

DEPOIS DO "EU TE AMO"Onde histórias criam vida. Descubra agora