17 | O passado distorceu o futuro

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2 semanas depois

Era incrível acompanhar o ritmo do tempo quando eu estava amando.

De repente, uma semana se tornava um dia, e um dia se tornava um minuto, e um minuto se tornava um átimo de segundo. O tempo corria rápido demais, e as sensações que vinham com ele se ferviam em mesma velocidade. Eu acordava sorrindo e mandava mensagens do tipo "Como está seu dia? Você está bem?" a Vincent e permanecia uns bons minutos encarando o aparelho só para responder às suas perguntas a tempo.

Ah, o amor...

Já não era mais a gravidade que mantinha fixo à Terra — era ele. Entre bobagens mentais e comentários clichês, eu afirmava que Vincent era uma das razões que me levava a acreditar que nem tudo ao redor era preto e branco; a perfeição podia não existir a ponto de eu achar que jamais discutiríamos, mas nos forçávamos muito para isso.

Corríamos sem saber que estávamos correndo.

E todas as vezes que ele sorria... Ai, aquele sorriso... Era como se todas as pessoas que nos envolviam momentaneamente se tornassem inexistentes. Ele dizia que meu sorriso era gratificante, mas o dele obviamente era mais — e admitir isso não era o fim do mundo como eu esperava que fosse. Normalmente eu não aprovava a ideia de que alguém possuía algum traço melhor que eu, só que boa parte das regras que eu seguia era quebrada quando se tratava de Vincent.

Na Educação Física, no dia de terça-feira, decidi não jogar vôlei porque passei um tempo sentado na arquibancada escutando música, especificamente as que Vincent me propôs — descobri que ele gostava muito de Lana Del Rey e Adele. Nunca pensei que ele fosse tão melancólico assim. Não me importei com isso e baixei os álbuns preferidos dele das respectivas cantoras. Lucky Ones, da Lana, estava tocando quando Bruno veio ao meu encontro.

Ele inclinou-se para beijar minha bochecha — um gesto que tive que retrair com um olhar meio assustado, algo que obviamente ele percebeu. E então, com muita lentidão, ele sentou-se ao meu lado na arquibancada, o olhar um tanto chateado.

Tirei os fones de ouvido e o observei por um tempo, enquanto esperava ouvir o que presumia.

— Então é verdade? — perguntou baixinho e surpreso, as mãos deslizando pela sua calça jeans em forma receosa. — Você e Vincent?

Abri a boca, a fechei — só pelo tempo suficiente para associar a resposta — e concordei com a cabeça.

— Pensei que o desprezava — relembrou-me, o tom ainda soturno. Se eu não estivesse confuso, poderia sentir o cheiro de álcool em seu hálito.

Eu sei a que ponto ele queria chegar. Na última vez que Bruno e eu ficamos, na lanchonete, eu ainda me encontrava zangado pelas atitudes de Vincent. O problema era que eu não mencionei a parte de que, mesmo o detestando, eu ainda assim o queria na minha vida.

— Desprezava — concordei com um aceno de cabeça. — Mas acho que fui infantil demais, Bruno. — Meu rosto ficou terno. — Ele não é assim.

— Ah, Austin, não... Por favor, não me diga isso.

Ele quase gemia enquanto falava, dando a entender que o desespero falava mais por si do que a clareza de seu pensamento.

— Está namorando? — tentou, a testa franzida. — Sério? E quanto às vezes em que ficamos?

— Águas passadas.

— Austin, não pode estar falando sério.

— Tô falando sério. — Suspirei e pus meu aparelho na bolsa. Fitei seus olhos verdes por alguns segundos só para fazê-lo compreender que eu não estava brincando. — Quero sair dessa vida de pegador.

DEPOIS DO "EU TE AMO"Onde histórias criam vida. Descubra agora