28 | Decisão

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— Hey — falei em animação quando ele apareceu em casa.

Vincent me deu um sorriso que não foi recebido pelos olhos. Uma olhada rápida em suas mãos me mostrou que Vincent carregava um papel bege e de conteúdo um tento interessante — isso me deixou na dúvida do que seria —, pois seu rosto parecia... o quê?

— Oi.

Sua voz, ainda mais em contrapartida, não perecia das melhores. Era totalmente oposta àquela em que eu ouvi direto hoje no teatro.

— Entre — pedi, dando passagem a ele. Eu estava cauteloso demais com meus gestos e falas depois de sua mensagem. — Quer subir lá para meu quarto?

— Sim.

Assenti e caminhei ao seu lado até lá. Ele não me disse quase nada, mas eu sabia — eu sentia — que alguma coisa não ia bem, e não consegui entender bem o quê — se tinha ou não a ver com seu teste. Para se ter uma ideia, enquanto eu pensava profundamente, não vinha em nenhum momento a coragem para beijá-lo como eu era acostumado a fazer, embora eu não tivesse certeza se precisaria de uma ordem para isso. Tudo pareceu soar tão confuso na minha mente em tão poucos segundos.

Como pode a emoção dele ter mudado repentinamente?

No meu quarto, sentamos juntos um do lado do outro e nos olhamos por um tempo arrastado, sem saber o que dizer — até cogitei começar a conversa, mas sabia era ele quem deveria dizer algo. E talvez, no fundo, eu já não quisesse mais saber. Se o problema for uma suposta reprovação no teste ele não precisa ficar envergonhado...

— Olhe o que chegou hoje pelo correio — falou, estendendo-me o papel.

Sim, tem a ver com minha suspeita.

Sorri lateralmente e o aceitei, abrindo-o com receio. Era uma carta, na verdade. Seja lá quem tivesse mandado para ele, essa pessoa ainda apreciava gestos antigos. Comecei a ler. Pelas palavras no título, uma informação referente ao teste que Vincent fazia para seu tão sonhado caminho de autor me dizia que ele foi aprovado, havendo até duas assinaturas de pessoas que eu desconhecia no fim. Pensei que o resultado seria mandado por e-mail ou algo do tipo ao invés desse jeito formal.

— Nossa — comentei lentamente ao entender que ele conseguiu o que tanto almejava. — Meus parabéns! Mas já sabíamos que passaria, né? — Tentei melhorar o clima.

Bem quando eu iria tirar meus olhos da carta e visualizar Vincent, uma parte da mensagem, que havia passado despercebido na minha leitura, destacou que ele, ainda que tenha conquistado seu papel de ator, teria que fazer um pequeno sacrifício para segui-lo: viajar.

Para Canadá.

E então eu entendi sua expressão contrária à que era esperada de se ver.

Com essa pontada profunda no meu coração, pisquei os cílios várias e várias vezes ao reler a parte da viagem só para ter certeza de que eu não estava delirando. Mas ela estava bem evidente, bem à minha frente, em negrito e em letras maiúsculas.

— C-Canadá? — sussurrei, enfim olhando para seu rosto.

A expressão de Vincent era sem vida e surreal demais, provavelmente até para si mesmo. Ele não disse nada.

Engoli em seco, dobrei sua carta e o observei, novamente, por alguns segundos lentos, compreendendo, por maior que fosse minha resistência ao afastar isso, o que isso significava para nós dois. E o impacto foi tão forte para mim que o silêncio que se formou ao redor conseguiu perfeitamente me fragilizar. Eu havia entrado numa situação que esteve prevista o tempo inteiro e eu nunca quis enxergar... até agora.

DEPOIS DO "EU TE AMO"Onde histórias criam vida. Descubra agora