29 | Seja feliz, meu amor

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Era como se eu estivesse vivendo sem vida.

Quando Vincent foi para casa na manhã seguinte, não consegui sair da cama. Fiquei em inércia total, encarando a janela do meu quarto enquanto tentava expulsar a dor que de pouquinho em pouquinho me sufocava. Liguei para a Srta. Rose e avisei que não estava bem o suficiente para trabalhar, então ela me permitiu faltar. Essa foi a primeira vez que faltei.

Essa sensação de angústia crescente era tão ruim que uma vontade absurda me subia por querer arrancá-la num gesto físico, como se ela fosse um tipo de coceira ou sei lá ou sei lá o quê. Cada segundo que passava representava um aviso de que, em questão de um dia e algumas horas, eu já não seria tão feliz assim. E isso era o túmulo da minha vida colorida e sorridente.

Quantas vezes eu já tive o coração rompido?, perguntei a mim mesmo. A resposta era óbvia: inúmeras, seja por decisão minha ou por decisão do meu parceiro. Mas em nenhuma dessas vezes eu tive que romper meu romance à força, e essa diferença me machucava. Me machucava porque eu tive que abrir mão da pessoa que eu jurava que passaria a vida inteira ao meu lado — ou o suficiente para acreditar que um dia eu veria nossos netos correndo pela casa enquanto Vincent e eu ficávamos sentados na varanda, encarando o pôr do sol, nossas mãos unidas e nossos cabelos grisalhos sendo balançados pelo vento. Então eu diria que eu estava feliz por todos nossos anos juntos até agora, e ele apertaria minha mão e mostraria aquele sorriso lindo e iluminador.

Mas toda essa esperança se foi, me dando uma razão para acreditar que ela não voltaria com nenhum outro garoto. Era tolice pensar numa coisa dessas, pois a vida prossegue e, de repente, você está com outra pessoa. O problema era que, durante a dor, nada mais parece fazer sentido; ela nos cega a ponto de acharmos que a felicidade é algo inalcançável.

Eu não me considerava uma pessoa dramática, mas naquela manhã — naquela lenta e terrível manhã — eu desejei nunca mais sair de casa. Não queria que meus amigos me vissem e automaticamente descobrissem que perdi o amor da minha vida pela enésima vez.

Passei a mão no rosto. Ah, Deus... Isso só acontece comigo ou com os outros também? Será que não mereço mesmo ter um amor que dure ao menos um ano? É pedir muito?

Ouvi alguém bater. Preferi me fazer de mudo e continuar encarando qualquer parte do meu quarto imenso, frio e amedrontador do que me dispor a levantar e abrir a porta. Pelo canto do olho vi a cabeça da minha mãe logo depois de ouvir o clique da fechadura.

— Pensei que tivesse que trabalhar hoje — disse ela.

Engoli em seco.

— Eu também pensei que fosse ser feliz por mais de seis meses — sussurrei tão baixo que nem eu mesmo ouvi.

— O quê?

Virei meu rosto para ela.

— Nada não. Não me sinto bem para trabalhar.

Minha mãe vagou o rosto pelo quarto.

— Vincent já foi?

Fiz que sim.

— Vocês brigaram?

Fiz que não.

— Aconteceu alguma coisa?

Aquela pergunta dilacerou meus sentimentos com tanta força que tive que virar minha cabeça para o lado oposto para não ter que fitar minha mãe. Ah, não... Não vou chorar... Terei tempo o bastante para fazer isso quando Vincent for embora...

— Só estou com febre — menti, a voz forçada a sair robótica. — Vou dormir mais um pouco para ver se passa.

Ouve um momento de silêncio após isso.

DEPOIS DO "EU TE AMO"Onde histórias criam vida. Descubra agora