Era como se eu estivesse vivendo sem vida.
Quando Vincent foi para casa na manhã seguinte, não consegui sair da cama. Fiquei em inércia total, encarando a janela do meu quarto enquanto tentava expulsar a dor que de pouquinho em pouquinho me sufocava. Liguei para a Srta. Rose e avisei que não estava bem o suficiente para trabalhar, então ela me permitiu faltar. Essa foi a primeira vez que faltei.
Essa sensação de angústia crescente era tão ruim que uma vontade absurda me subia por querer arrancá-la num gesto físico, como se ela fosse um tipo de coceira ou sei lá ou sei lá o quê. Cada segundo que passava representava um aviso de que, em questão de um dia e algumas horas, eu já não seria tão feliz assim. E isso era o túmulo da minha vida colorida e sorridente.
Quantas vezes eu já tive o coração rompido?, perguntei a mim mesmo. A resposta era óbvia: inúmeras, seja por decisão minha ou por decisão do meu parceiro. Mas em nenhuma dessas vezes eu tive que romper meu romance à força, e essa diferença me machucava. Me machucava porque eu tive que abrir mão da pessoa que eu jurava que passaria a vida inteira ao meu lado — ou o suficiente para acreditar que um dia eu veria nossos netos correndo pela casa enquanto Vincent e eu ficávamos sentados na varanda, encarando o pôr do sol, nossas mãos unidas e nossos cabelos grisalhos sendo balançados pelo vento. Então eu diria que eu estava feliz por todos nossos anos juntos até agora, e ele apertaria minha mão e mostraria aquele sorriso lindo e iluminador.
Mas toda essa esperança se foi, me dando uma razão para acreditar que ela não voltaria com nenhum outro garoto. Era tolice pensar numa coisa dessas, pois a vida prossegue e, de repente, você está com outra pessoa. O problema era que, durante a dor, nada mais parece fazer sentido; ela nos cega a ponto de acharmos que a felicidade é algo inalcançável.
Eu não me considerava uma pessoa dramática, mas naquela manhã — naquela lenta e terrível manhã — eu desejei nunca mais sair de casa. Não queria que meus amigos me vissem e automaticamente descobrissem que perdi o amor da minha vida pela enésima vez.
Passei a mão no rosto. Ah, Deus... Isso só acontece comigo ou com os outros também? Será que não mereço mesmo ter um amor que dure ao menos um ano? É pedir muito?
Ouvi alguém bater. Preferi me fazer de mudo e continuar encarando qualquer parte do meu quarto imenso, frio e amedrontador do que me dispor a levantar e abrir a porta. Pelo canto do olho vi a cabeça da minha mãe logo depois de ouvir o clique da fechadura.
— Pensei que tivesse que trabalhar hoje — disse ela.
Engoli em seco.
— Eu também pensei que fosse ser feliz por mais de seis meses — sussurrei tão baixo que nem eu mesmo ouvi.
— O quê?
Virei meu rosto para ela.
— Nada não. Não me sinto bem para trabalhar.
Minha mãe vagou o rosto pelo quarto.
— Vincent já foi?
Fiz que sim.
— Vocês brigaram?
Fiz que não.
— Aconteceu alguma coisa?
Aquela pergunta dilacerou meus sentimentos com tanta força que tive que virar minha cabeça para o lado oposto para não ter que fitar minha mãe. Ah, não... Não vou chorar... Terei tempo o bastante para fazer isso quando Vincent for embora...
— Só estou com febre — menti, a voz forçada a sair robótica. — Vou dormir mais um pouco para ver se passa.
Ouve um momento de silêncio após isso.
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DEPOIS DO "EU TE AMO"
RomanceE se você tivesse que abrir mão da pessoa que mais ama para deixá-la ser feliz? Austin Fontennelle - um exemplo claro de vício anormal pelo sexo masculino - passa por essa situação no instante em que vê um novato de seu colégio: Vincent. Apostando t...