20 | Impacto

2.1K 272 104
                                    

Ele aproximou-se cautelosamente de mim, a língua dobrada, típico de quem não curtia muito ver uma cena. Não estava com raiva propriamente dita.

— Sua clientela está aumentando — começou, o tom nada plausível. — Esse não era o garoto com quem você estava ficando naquela lanchonete?

Suspirei. Ao menos Vincent não estava tão depressivo quanto demonstrava estar nos dias passados, o que já era bom.

Era. Falou certo. — Curvei meu lábio, com zero interesse de falar sobre Bruno. — A quê devo a essa honra de tê-lo no meu trabalho?

Eu vi que ele queria prolongar sua expressão nada contente — e enciumada, o que era lindo —, mas ele rendeu-se à minha pergunta e aproximou-se do balcão, o mistério no olhar.

— Minha tia veio visitar um amigo da banda dela e eu resolvi aparecer — explicou. — Vim matar a saudade.

— Nos vimos ontem — o relembrei com um sorriso largo.

— É, já faz algumas horas. E é muito para mim.

Balancei a cabeça e dei-lhe um beijo duradouro, as mãos fixas em sua cintura. Um belo par de olhos clarinhos me recebeu ao abrir os meus.

— Eu também senti sua falta — sussurrei. — Principalmente dessa sua versão. Vou começar a convidar mais garotos para me ver no trabalho enquanto nós estivermos juntos, assim eu poderei ver você com mais vida.

— Por favor, não faça isso. Não me dou muito bem com ciúmes.

— Tá — concordei com uma condição futura. — Então vá comigo à festa de sábado.

Ele arquitetou seu rosto de bondade.

— Não posso, amor, eu lhe disse. Sinto muito. Mas isso não significa que pode aprontar sem mim lá — provocou.

Seu celular tocou logo em seguida.

— Só um minuto — pediu, verificando quem era. E seja lá quem fosse, seu sorriso foi desmanchado e reestruturado depois como disfarce, mas não foi mais rápido que minha percepção. — Hum... Minha tia.

Mordi a boca.

— Eu preciso ir, unicórnio. — Ele beijou minha bochecha, enquanto eu permaneci em inércia e boquiaberto. — Te ligo mais tarde, está bem?

Mas já? Ele acabou de chegar!

— Espera... O que foi?

— Eu te conto depois.

— Promete?

— É. Tchau. — Vincent acenou alegremente e saiu da minha loja.

Quê?

Estreitei meus olhos, abandonei o balcão e fui à porta da entrada, curioso demais para dar minha total confiança no que ele tinha acabado de me dizer. De fato Karen estava esperando por Vincent ao lado do seu carro, e um cochicho da parte dele a deixou também esquisita — presumi que ele tivesse contado a tia sobre a ligação que acabou de receber. Assisti à cena com cuidado. Notando-me, ela me deu um "oi" e sorriu daquele jeito extrovertido, mas ainda assim faltava algo.

Na verdade, faltava algo para ambos. Era como se eles estivessem guardando um segredo que de alguma forma me afetava.

Sem conseguir descobrir, devolvi o gesto e, assim que eles foram embora, voltei a me sentir desconfortável, assim como vim me sentindo esses dias. Parado na porta, fitei o nada por um longo tempo, o cérebro indo à deriva. Senti um calafrio atravessando a minha espinha, e eu tinha certeza de que não era decorrente ao clima frio.

DEPOIS DO "EU TE AMO"Onde histórias criam vida. Descubra agora