— Que cara de luto é essa? — questionou meu pai quando passei pela porta de casa enquanto mexia em sua planilha de arquitetura. — Quem morreu?
— Minha safadeza. — Meu sorriso sem graça não alcançou meus olhos. Sentei-me com ele e dei um longo suspiro. — Garotos são insuportáveis, não são?
Ele me olhou esquisito.
— Estranho dizer isso. Não é deles que gosta?
— É, e é exatamente por isso que estou dizendo.
— Tudo bem. — Ele deixou seu lápis de lado e tirou seus óculos de descanso. — O que houve?
Dei de ombros. Se meu pai fosse ou não a melhor pessoa para conversar sobre isso, eu não sabia, mas iria descobrir agora.
— Por que corremos atrás de gente que não se importa conosco? — perguntei, uma forma de chegar ao ponto certo. — Por que gostamos de pessoas que sabemos que não vai dar certo?
— Está apaixonado por alguém que não curte garotos, não é? — Meu pai ergueu uma sobrancelha.
Ele me conhecia melhor que minha mãe.
— Não diria apaixonado. Só... gosto. É um novato do meu colégio. — Meu corpo pareceu pesar uma tonelada quando confessei isso. — Fazemos teatro juntos e outras aulas, mas o teatro é onde o clima mais esquenta entre nós dois.
Ele piscou os cílios, o rosto ainda natural.
— Você o acha bonito? — perguntou.
— É. Quer dizer, acho.
O rosto do meu pai formulou algo compreensível.
— Talvez seja essa sua queda, então: beleza. Mas não se pode confiar apenas nisso, filho — aconselhou. — Só porque teve sorte com seus outros namorados por eles terem fisionomia agradável para você, não significa que os próximos também serão assim.
— Pois é, descobri isso também. — Relaxei-me na cadeira e cruzei os braços, encarando a mesa pensativamente. — Só não sei o que fazer depois disso. Quer dizer, não consigo esquecê-lo mais. E não foi por falta de tentar, o que é engraçado, pois mal nos conhecemos.
Ele demonstrou uma expressão frágil.
— Posso não entender desse tipo de assunto como sua mãe, mas sei que as coisas que vêm rápido demais em nossas vidas vão embora na mesma proporção — falou.
O observei novamente.
— Hoje você gosta desse garoto, amanhã pode não gostar mais. Só precisa de tempo. Lembro-me que você conversava comigo após terminar os namoros, se perguntando quando iria superar os términos. E uma semana depois já tinha superado. Pode ter as suas fraquezas, todo mundo tem. Só sei que ficar com o coração partido por um longo tempo não é uma delas.
Senti-me forte depois disso.
— Vou levar isso como inspiração — prometi mordendo o lábio.
— Eu sei que vai. — Ele levantou-se com seu mais afável dos rostos. — Vou pegar um compasso e já volto.
Assenti. Antes que ele sumisse de vista, porém, algo me chamou a atenção — algo que eu estava cego demais para entender quando foi dito.
— Hum... Pai? — o chamei, parando-o.
— Pois não?
— Como soube que eu estava gostando de um garoto hétero? Poderia ser um garoto como eu que poderia estar me rejeitando, não acha?
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DEPOIS DO "EU TE AMO"
RomanceE se você tivesse que abrir mão da pessoa que mais ama para deixá-la ser feliz? Austin Fontennelle - um exemplo claro de vício anormal pelo sexo masculino - passa por essa situação no instante em que vê um novato de seu colégio: Vincent. Apostando t...