7 | Recomeçar

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— Que cara de luto é essa? — questionou meu pai quando passei pela porta de casa enquanto mexia em sua planilha de arquitetura. — Quem morreu?

— Minha safadeza. — Meu sorriso sem graça não alcançou meus olhos. Sentei-me com ele e dei um longo suspiro. — Garotos são insuportáveis, não são?

Ele me olhou esquisito.

— Estranho dizer isso. Não é deles que gosta?

— É, e é exatamente por isso que estou dizendo.

— Tudo bem. — Ele deixou seu lápis de lado e tirou seus óculos de descanso. — O que houve?

Dei de ombros. Se meu pai fosse ou não a melhor pessoa para conversar sobre isso, eu não sabia, mas iria descobrir agora.

— Por que corremos atrás de gente que não se importa conosco? — perguntei, uma forma de chegar ao ponto certo. — Por que gostamos de pessoas que sabemos que não vai dar certo?

— Está apaixonado por alguém que não curte garotos, não é? — Meu pai ergueu uma sobrancelha.

Ele me conhecia melhor que minha mãe.

— Não diria apaixonado. Só... gosto. É um novato do meu colégio. — Meu corpo pareceu pesar uma tonelada quando confessei isso. — Fazemos teatro juntos e outras aulas, mas o teatro é onde o clima mais esquenta entre nós dois.

Ele piscou os cílios, o rosto ainda natural.

— Você o acha bonito? — perguntou.

— É. Quer dizer, acho.

O rosto do meu pai formulou algo compreensível.

— Talvez seja essa sua queda, então: beleza. Mas não se pode confiar apenas nisso, filho — aconselhou. — Só porque teve sorte com seus outros namorados por eles terem fisionomia agradável para você, não significa que os próximos também serão assim.

— Pois é, descobri isso também. — Relaxei-me na cadeira e cruzei os braços, encarando a mesa pensativamente. — Só não sei o que fazer depois disso. Quer dizer, não consigo esquecê-lo mais. E não foi por falta de tentar, o que é engraçado, pois mal nos conhecemos.

Ele demonstrou uma expressão frágil.

— Posso não entender desse tipo de assunto como sua mãe, mas sei que as coisas que vêm rápido demais em nossas vidas vão embora na mesma proporção — falou.

O observei novamente.

— Hoje você gosta desse garoto, amanhã pode não gostar mais. Só precisa de tempo. Lembro-me que você conversava comigo após terminar os namoros, se perguntando quando iria superar os términos. E uma semana depois já tinha superado. Pode ter as suas fraquezas, todo mundo tem. Só sei que ficar com o coração partido por um longo tempo não é uma delas.

Senti-me forte depois disso.

— Vou levar isso como inspiração — prometi mordendo o lábio.

— Eu sei que vai. — Ele levantou-se com seu mais afável dos rostos. — Vou pegar um compasso e já volto.

Assenti. Antes que ele sumisse de vista, porém, algo me chamou a atenção — algo que eu estava cego demais para entender quando foi dito.

— Hum... Pai? — o chamei, parando-o.

— Pois não?

— Como soube que eu estava gostando de um garoto hétero? Poderia ser um garoto como eu que poderia estar me rejeitando, não acha?

DEPOIS DO "EU TE AMO"Onde histórias criam vida. Descubra agora