25 | Vidro que não corta mais

1.9K 276 178
                                    

Bastou que o olhar do pai de Vincent pairasse sobre mim que instintivamente me arrependi de ter vindo. Sério. Eu me perguntei brevemente o que diabos eu vim fazer aqui. A mãe dele não ficava para trás: seu rosto deixava pistas fáceis de que era daquelas mulheres que apoiavam o marido independentemente da decisão que ele fosse tomar. Recatada e do lar, sussurrou meu pensamento o que já insinuei antes.

— O que foi? — perguntou o pai.

Vincent deu uma olhada suave para mim e pediu, sem dizer nada, para que eu me aproximasse junto a ele do sofá, onde estavam seus pais. Obedeci com um pé atrás e sentei-me ao seu lado, sem coragem suficiente para encarar as duas pessoas à minha frente por mais de três segundos. Eu queria ter um pouco da ousadia do meu namorado nesse momento.

— Quero conversar com vocês sobre algo. — Vincent me observou sutilmente, para então voltar sua visão para a família. — Algo que eu gostaria que soubessem há muito tempo.

Os dois — os dois! — franziram a testa, deixando que a cautela tomasse conta de seus rostos aos poucos.

— Okay... — O pai arrastou a palavra. Parecia que somente ele tinha voz. — O que é?

— Estou namorando.

A mãe soltou o ar em alívio.

— Vincent, que coisa boa! — exclamou ela. — Nunca pensei que fosse chegar a nos contar sobre iss...

O pai levantou a mão para ela, sem observá-la, e fincou seus olhos no filho, não antes de me olhar ligeiramente.

— Certo. Com quem?

Era possível detectar a leve frieza na voz, como se soubesse no fundo o que viria.

Vincent não respondeu imediatamente: ele ficou em silêncio, natural, sem um indício sequer de que estava com medo — por conta disso comecei a acreditar mesmo que minha presença era a razão pela qual ele permanecia neutro.

— Sei que não estavam esperando por isso — começou Vincent, unindo ambas as mãos —, mas agora que moro com minha tia, sinto que posso ser livre...

— Vincent — cortou o pai, mais rígido. — Com quem?

De repente o clima ficou pesado, e eu era o único que parecia desejar fugir dali desesperadamente.

— Eu sou gay, mãe e pai. E meu namorado é ele. — Vincent segurou minha mão.

Ca. Ram. Ba.

— O quê?! — O pai dele quase gritou. — Que cacete de brincadeira é essa, Vincent?!

— Não é brincadeira.

Ai, Deus, estou até vendo onde isso vai dar...

— Então decidiu virar gay por quê? — A mãe estava quase tão estridente quanto o pai.

Eu prendi a respiração de novo quando um olhar severo caiu sobre mim.

— Você... — murmurou. — Você fez a cabeça do meu filho!

Fiquei com medo. Minha nossa, olha esses olhos...

— E-Eu...

— Pai, deixe-o em paz!

Como você pode fazer isso com sua própria família, Vincent? — A mãe, indignada, levantou-se do sofá, o rosto severo. — Agora está virando baitola?!

— Isso é o que eu sou — explicou Vincent.

O pai interveio.

— Desgraçado... Eu vou te ensinar a virar homem, moleque... E quanto a você... — O rosto dele veio na minha direção. — O que diabos você fez com meu filho?

DEPOIS DO "EU TE AMO"Onde histórias criam vida. Descubra agora