26 | Flores quentes

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Eu já estava tomando café quando Vincent acordou e me viu na cozinha, o sorriso encantador e o cabelo rebelde — melhor ainda era vê-lo com as pupilas dilatadas, deixando aquele ar de sensualidade. Mesmo que eu adorasse ver suas íris brilhando em dourado, era bom visualizar essa sua versão. Eu ainda sentia minhas bochechas coraram pela cena do banho ontem à noite, mas escondi isso muito bem.

— Oi, lindo — falou ele secretamente enquanto caminhava para perto de mim. — Já estava enjoado da minha cara o suficiente para não querer ficar mais lá no quarto comigo?

— Na verdade eu não queria que você me visse sem maquiagem.

— Engraçadinho. — Ele apoiou as duas mãos na cadeira e me beijou com ternura, os lábios gelados me excitando. Sem pressa, seus olhos abriram-se com fulgor. — Usei sua escova. Esqueci de trazer a minha.

Sorri lateralmente.

— Esse era seu plano, né?

— É. — Vincent puxou uma cadeira ao meu lado e apoiou o rosto numa das mãos, o cotovelo dobrado na mesa. — E seus pais?

— No trabalho.

— Ah...

Ele fitou a mesa.

— Olha, fui eu que fiz o café da manhã. Então... tente não condenar tanto assim minha comida, por favor. Normalmente são meus pais que fazem tudo.

— Tudo bem. — Um riso gostoso saiu dele. — Hã... Minha tia me ligou agorinha.

Ergui minhas sobrancelhas.

— Sério? E o que ela disse?

— Parece que meus pais foram embora. — A voz dele, embora natural, trazia traços melancólicos, e eu sabia que parte disso tinha a ver com o fato de que, mesmo que a família dele fosse homofóbica, ela ainda assim, como Vincent mesmo disse, era a família dele. — Partiram ontem à noite mesmo.

Ele uniu os dedos acima da mesa e ficou mudo. Okay, é aí que eu entro.

— E-Eu sei... — comecei. — Eu sei que gostaria que fosse diferente. Sei que gostaria de ter pais mais amorosos, ninguém pode jugar você por ter feito o que fez. De verdade, sinto muito mesmo. — Toquei seu braço com carinho e passei o polegar pela sua pele. — Mas eu estarei aqui se precisar de amor, tá? Se eles não podem dar isso, eu posso.

Seu belo rosto ficou emocionado.

— Você é maravilhoso — murmurou, de modo que a emoção fosse a responsável pela sua voz sair confortável.

— Depois eu mando o boleto dessa sessão.

— Quê?

— Ninguém dá conselhos de graça, Vincent — brinquei, mas não consegui manter a postura tropical por muito tempo. — Não, não leve a sério o que eu disse. Estou brincando.

Ele sorriu e beijou meu pescoço.

— Eu pagaria sua sessão de outras formas, Sr. Fontennelle — sussurrou ele bem no pé do meu ouvido.

Ah, quero.

— Com certeza pagaria. — Deixei meu copo de lado e encostei minha boca à sua, beijando-o num estalo e depois em outro e depois em outro, tendo que limitar o gesto até certo ponto porque outra parte de mim estava acordando. — Mas não hoje. Tenho que estar na loja dentre quinze minutos.

— Seu trabalho é mais importante que eu?

— Depende, se eu me demitir você irá me sustentar?

DEPOIS DO "EU TE AMO"Onde histórias criam vida. Descubra agora