18 | Preocupações

2.5K 303 44
                                    

Os pingos de chuva agora estavam se transformando em uma garoa leve e suave quando Vincent decidiu dizer algo. Nós dois ainda nos encontrávamos na inércia total após minha pergunta nunca dita antes a alguém — mesmo quando minha vontade de namorar algum garoto era imensa demais.

— Austin...

— Posso lhe dar o tempo que quiser. — Ergui minhas mãos, o sorriso ainda firme. — Me responda quando estiver pronto.

Quando eu já estava na determinação de ir embora, ele interveio.

— Não, espera.

Virei-me para Vincent novamente. Foi só o tempo para eu receber um beijo gelado e firme, as mãos determinadas no meu quadril eu não me deixar ir. A suavidade veio aos poucos, a sua língua acariciando a minha até que eu enfim entendesse que estava tudo bem.

Quando o afeto encerrou, um par de olhos ensolarados me fitou; os lábios, que já eram vermelhos naturalmente, ganhou mais cor, deixando-os mais desejáveis. Não há dúvidas de que é Vincent que eu quero.

— Eu claro que eu aceito o namoro — sussurrou encantadoramente, o sorriso vindo aos poucos. — E me perdoe por ser tão... cego. Eu só fiquei com receio de que...

Toquei meu polegar delicadamente em sua boca.

— Eu sei — falei baixinho. — Não precisa explicar nada. Só precisa acreditar que meus sentimentos por você são verdadeiros.

— Eu acredito. — Seu olhar ficou afável. — E mesmo se não acreditasse, faria um esforço. Não sou louco de deixar um belo garoto como você sair da minha vida.

— Eu concordo. Nem eu me deixaria.

Ambos rimos.

— Venha, precisa se enxugar. — Ele pegou minha mão. — Está com fome? Minha tia costuma fazer algo à tarde.

Sorri em afirmação.

Dentro da casa de Vincent, Karen nos encontrou, aquele jeito dark que surpreendentemente eu senti falta. Com um sorriso largo e seus olhos afáveis, ela me cumprimentou.

— Oi, Austin, querido... Como vai?

— Vou bem. — Seus braços carinhosos me aqueceram do frio. — Quase perdi meu namorado, mas estou bem.

Vincent fez que não para ela, dando a entender que eu estava exagerando.

— Cuidado, sobrinho, nem cogite fazer isso — alertou Karen docemente, entregando-lhe um celular depois. — Seus pais estão na linha — sussurrou.

De repente as feições alegres de Vincent se tornaram pedra — sua mão no meu quadril admitiu o mesmo traço rígido.

— Meus... pais?

Em dúvida, ele pegou o aparelho e olhou para mim, como se eu tivesse algo a ver com a ligação de alguma forma. Ou ele queria que entendesse algum tipo de recado.

— Eu... posso ir tomando banho — falei para confortá-lo (e também para dar privacidade a ele). Beijei sua bochecha em seguida. — Já, já eu volto.

Ele assentiu um tanto atordoado, mostrando-me um sorriso que não alcançava os olhos. Eu sabia que crédito disso tinha a ver com o fato de que os seus pais eram homofóbicos, mas essa impressão parecia ser superficial demais, como se tivesse algo além. Não fiquei para saber o que era.

Sem esperar por mais nada, me despedi de Karen com um rosto gentil e subi para o quarto de Vincent, a minha testa franzida e o olhar fixo ao chão à medida que eu mecanicamente subia a escada de madeira. Ouvi os cochichos de Vincent lá embaixo, entretanto não parei para prestar atenção neles. Pela forma como ele pegou o telefone da mão de sua tia, me veio uma impressão de que os pais dele eram o pior tipo de família existente.

DEPOIS DO "EU TE AMO"Onde histórias criam vida. Descubra agora