Vincent voltou a transparecer angústia conforme os dias iam passando. Minha tentativa de reerguê-lo não funcionou, não importava o quanto eu tentasse. Eu pensei que, se eu não fosse o problema de seu comportamento, ao menos eu podia ser a razão pela qual ele pudesse ao menos sorrir. Mas, pelo visto, houve fracasso da minha parte.
E o pior não era nem aceitar que ele estava ficando triste: o problema era que essa tristeza parecia se prolongar mais e mais, como um vírus. Um vírus lento e incurável. Eu não sabia o que de fato aconteceu para que ele agisse dessa forma, mas com certeza havia alguma relação com seus pais. Só não sabia o que exatamente era.
Na quarta-feira eu já havia chegado ao meu limite. Tudo bem ter que aguentar sua passividade na sexta, na segunda e na terça-feira passada — dando um desconto no final de semana, onde eu nem o vi. Só que isso me sufocava, e eu suspeitei de que em algum momento eu fosse gritar com ele e perguntar o que diabos houve.
— Tenho que passar no shopping mais tarde para comprar um terno novo para meu teste — disse Vincent ao chegarmos ao colégio. Mais uma vez ele me trouxe em seu carro, embora eu me perguntasse no fundo se isso foi mesmo uma boa ideia. Ele parecia depressivo demais, mais do que nos outros dias.
— Tudo bem. — Dei um sorriso sem graça, a mão na porta, pronto para sair. Alguma coisa, porém, me impedia de abandonar o estacionamento, e eu sabia que essa coisa era minha preocupação com Vincent. — O-Olha, eu não vou... fingir não me importar com você...
Ele levantou seu olhar para mim, que há segundos atrás estava fixo ao volante.
— Não precisa — confortou-me.
— Okay. — Suspirei e refleti comigo mesmo por alguns segundos, pensando em uma maneira de seguir a conversa sem acordar uma briga. — E se eu estivesse agindo assim? — o desafiei.
Sua testa franziu.
— Assim como?
Fiz beicinho e indiquei o corpo dele como resposta.
— Se eu estivesse distante, você gostaria de uma satisfação — continuei. — Então eu quero uma satisfação. Por favor.
— Austin, não há nada de errado comigo, amor...
— Então por que age como se tivesse? — Ajeitei-me no banco e o fitei com carinho. — Você nem sorri mais.
Ele sorriu.
— Não, não dessa forma — protestei, ajeitando uma mecha do meu cabelo para atrás. — E ver você triste me deixa triste também.
Seu rosto ficou terno.
— Vem cá. — Ele pegou minha mão e me puxou para perto, de modo que minha cabeça descansasse em seu ombro. — Não fique preocupado comigo, tá bom?
— É o mesmo que pedir para você parar de respirar.
Ignorando-me, ele começou a acariciar meu cabelo, e, apesar de eu estar sentindo o cheiro do shampoo que eu usei hoje, o aroma dele era o que se sobressaía.
— Estou preocupado com o resultado do meu teste — falou baixinho. — Ele é muito importante para mim. Tudo o que eu fiz desde que me apaixonei por atuação até agora foi para isso. E se eu não conseguir passar...
— Vai passar. — Toquei seu peito. — Você é muito bom. Mais do que eu, pelo menos.
Ele riu. E mesmo sendo uma risada curta, isso me deixou consideravelmente mais tranquilo.
— Obrigado. — Uma pausa foi formada. — Mas... há outro problema também.
E eu sabia do que se tratava.
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DEPOIS DO "EU TE AMO"
RomanceE se você tivesse que abrir mão da pessoa que mais ama para deixá-la ser feliz? Austin Fontennelle - um exemplo claro de vício anormal pelo sexo masculino - passa por essa situação no instante em que vê um novato de seu colégio: Vincent. Apostando t...