DEPOIS DO "EU TE AMO"

11 | Crush

Acordei na manhã seguinte num sobressalto, pensando que tudo não passou de um sonho. Poderia muito bem ser uma dessas vezes, mas, quando percebi que eu não estava na minha cama, e sim na cama de Vincent, a confirmação de que tudo foi real veio, embora eu não me lembrasse de absolutamente nada. Até fiz um esforço para pensar em ontem, mas minha cabeça doía.

Casa de Vincent...

Arregalei os olhos, esfreguei minhas pálpebras várias vezes e vaguei minha visão pelo quarto imenso resumido em madeira linda, vidros, lençóis limpos e... uma rosa amarela na cômoda ao meu lado. Rosa? Okay, mas cadê ele? Num papel bege abaixo da rosa e da minha máscara da noite anterior, havia uma pequena mensagem escrita à mão, típico daquela época onde tudo era dependente de cartas. Isso até me fez dar o primeiro sorriso da manhã.

———
Bom dia, Austin.

Como eu não contava que fosse ter uma companhia para dormir, decidi fazer umas compras no supermercado. Devo voltar em torno das 8h30. Tem roupa e toalha limpa no meu closet, então não precisa se preocupar com sua higiene.
Sinta-se à vontade para fazer o que quiser.

Vincent.
———

Caramba, quanta formalidade. Achei engraçado ele mencionar que eu poderia aproveitar a casa sem hesitação, pois era quase como se eu já tivesse vindo aqui outras inúmeras vezes. Certo, ele foi fazer compras... por minha causa. Meu Deus, dormi com ele! Dormi com um garoto que eu sou louco para namorar — e ironicamente não fizemos nada a noite inteira. Ou fizemos? Não nos beijamos ontem, não foi? Suspirei. Melhor ter uma confirmação vinda dele.

Determinado em sair da inércia, levantei-me da cama extremamente macia e peguei a rosa amarela, levando-a ao nariz. Um doce perfume me encantou. Que gesto nobre... Meu iPhone estava bem ao lado de um colar — o meu colar — e de um copo com suco de laranja, trazendo mais surpresa para mim. Apertei o único botão na frente do meu aparelho para ver as horas: 08h12. Não havia nenhuma mensagem, nenhuma ligação perdida, nada. Pelo amor de Deus, como eu vim parar neste quarto? Não me lembro de nada. E meus amigos? E por que meus pais não me ligaram?

Minha cabeça doía um pouco, deixando a resposta um pouco clara: bebi demais. Eita, Austin, parece que seu segundo vício, perdendo apenas para os garotos, é a bebida... Sentei-me na cama, peguei o suco de laranja e bebi um gole. Havia também um comprimido na cômoda bem à minha frente o tempo inteiro e só agora vim ver. Céus, que doidice... Estou tão grogue... Pisquei mais meus cílios para me adaptar ao meu redor e peguei um comprimido, tomando-o com o suco. Uma rápida olhada através da janela de vidro larga me indicou que estava chovendo. Não consegui deduzir se ontem também estava, mas tinha quase certeza que sim.

Tá bom, vou ligar para meus amigos...

Respirei fundo e efetuei a ligação, já preocupado. Nem Alex nem Victoria me atenderam, o que piorou a situação. Resolvi mandar uma mensagem para ambos, deixando meu aparelho acima da cama e partindo para o closet ao terminar. Oh, Vincent tem um closet! E eu achando meu guarda-roupa já imenso o suficiente para que eu não o renovasse tão cedo.

Apostando que o closet era no corredor aberto no canto à frente da cama, fui lá. E acertei: não havia portas, era simplesmente aberto, de modo que eu ficasse de cara com as paredes contornadas pela mesma madeira que envolvia a casa. Várias e várias roupas estavam disponíveis diante de mim, posicionadas em diferentes formas, sejam em cabides, dobradas acima de mais sustentações de madeira ou descansadas em partes metálicas. Eu poderia passar mais tempo babando pela luxúria, mas eu precisava saber a qualquer custo onde se encontravam meus amigos. Por isso puxei logo uma toalha limpa bem ao meu lado, fui à seção de camisas, optando por uma regata preta, depois à seção de calças, escolhendo uma jeans azul rasgada e justa e, por último, peguei a primeira boxer que eu vi. Entrei no banheiro e fiz tudo o que tinha que fazer às pressas.