23 | Sinto sua falta também

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Se eu faltei na segunda e na terça-feira, Vincent decidiu fazer o mesmo na quinta e na sexta. Presumi que fosse para descontar o fato de eu ter faltado, mas ele não seria tão infantil assim, seria? Qualquer que fosse a reposta, engoli minha versão que passava todo o momento sozinho chorando e decidi me reerguer daquilo que estava tirando meu ânimo.

Decidi que seguiria adiante.

Quando o sábado chegou, porém, recebi um lembrete bem cedo do meu celular de que o teste que Vincent faria seria hoje, e a maneira com a qual ele me pediu para ir vê-lo foi reprisada na minha mente. Ah, aqueles olhos bondosos e dourados me observando... Relembrar disso era bom, mas me machucava. Tudo o que fosse relacionado a ele me machucava. Então eu optei por não ir ao teste.

Trabalhei pela manhã, o que foi um tédio, e fiz algumas tarefas de casa pela tarde. Tentei me ocupar com qualquer coisa que estivesse ao meu alcance, mas parecia que nenhuma delas de fato supria meu desejo de esquecer Vincent. Eu não sabia o que eu faria se o visse agora mesmo — se eu arremessaria a primeira coisa à minha frente em sua direção ou cairia em lágrimas.

Para. De. Ser. Trouxa!

— Que saco! — grunhi na cozinha quando vi que não conseguia frear os caminhos que meu cérebro seguia. Soltei a faca que eu estava usando para cortar cebola e encostei-me na pia.

Eu me encontrava sozinho preparando o jantar, então eu podia falar aos quatro ventos pelo tempo que eu quisesse sem ninguém me acusar de ser louco. Suspirei fundo, puxei meu aparelho celular do bolso e verifiquei novamente o horário do teste de Vincent, pesando comigo mesmo que, se eu não fosse, estaria fazendo algo nada maduro. Isso só provaria minha birra por não querer ver aquele par de olhos gentis. Tirando o momento em que não são afetados pelos pais, pois nesse caso eles se tornam frios...

Eu teria que estar no endereço que ele me pediu às oito. Faltava nada menos que quarenta minutos para isso. Pendendo entre os dois lados da balança, fiquei encarando a tela do meu celular enquanto analisava as opções que eu tinha — duas, na verdade, mas que significavam muito. Se eu fosse, minha saudade seria amenizada. Se eu não fosse, eu estaria sendo infantil, e minha ausência lá implicaria em dizer que Vincent era mais forte que eu. E se ele soar estúpido novamente?

Desencostei-me da pia, limpei minhas mãos e corri para meu quarto. Eu vou. Essa é a única forma de saber.

Tomei meu banho apressadamente, vesti a primeira roupa que puxei do guarda-roupa — um macacão jeans com suspensório — e usei meu perfume predileto. Parei por um minuto e me analisei diante do espelho, pensando comigo mesmo que, independentemente do que fosse acontecer hoje, eu poderia reverter o jogo e ser feliz de novo, com ou sem Vincent. Era óbvio que eu iria preferir com ele, mas eu não me humilharia. Talvez eu pudesse decidir nosso futuro agora, se é que já não estivesse definido.

Peguei as chaves do meu carro e deixei um bilhete na geladeira avisando que eu sairia. Deus me ajude...

🎭

O lugar era grande, limpo e com uma mistura de vermelho e branco. Bem, o tapete que era vermelho, e as paredes apresentavam uma brancura tão surreal que não era possível ver uma mancha de dedo sequer. Com lustres e estrutura antiga, mais parecia um monumento do que um prédio destinado a teatro. Mas só por fora.

Quando entrei — dez minutos atrasado propositadamente, pois não queria ver Vincent cedo —, dois homens estavam na entrada, ambos vestidos casualmente. Ou seja, de terno e tudo.

— Nome, por favor? — perguntou um deles.

Eu já esperava por isso. Vincent havia me dito que passaria meu nome para eles, embora agora eu estivesse na dúvida de que nosso término tivesse rompido isso.

DEPOIS DO "EU TE AMO"Onde histórias criam vida. Descubra agora