Capítulo Dez: Sonho

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Ana.

Eu não conseguia acreditar. Os lábios macios tocavam os meus com tamanha delicadeza, e o sabor frutado era realmente real. Era naturalmente doce. Sonhei com aquilo tantas noites que mal acreditei quando as mãos delas enlaçaram minha cintura. Nem acreditei quando pude segurar o rosto dela sentindo todos os cachos que por tanto tempo quis segurar. Sentia as galáxias colidindo dentro de nois. Senti um big bang acontecendo como um estalar de dedos de Deus, criamos uma galáxia completamente nova no momento que meus lábios encontraram os delas. Nossas línguas pareciam a Bela e a Fera na valsa, feitos um para o outro. Eu poderia passar o resto dos meus dias me afogando no mar que encontrei na boca dela.

Queria ela mais perto, mais junto, queria tirar o espaço que havia entre nós e ao mesmo tempo expandi-lo, para nosso universo particular tomasse conta do mundo, e então tudo estaria bem em todo canto. Tudo era lindo dentro dela, e cada toque de sua língua na minha parecia ter sido ensaiado tantas e tantas vezes em tantas outras vidas. Nossas almas se deixavam no outro corpo e eu me vi cheia de luz e ela de estrelas. Eu tinha ido pra marte sem traje de astronauta e o ar me faltava agora. Me afastei da boca dela e a abracei forte. Parecia crime diminuir a intensidade de contatos entre nós. Sentia duas mãos acariciando minhas costas, mas agora tão diferentes, agora carregado de tanto amor recíproco. Plantei no peito de Vitória e por sorte, floresceu. Nosso amor estava na primavera.

-- Vi...? -- Sussurrei. -- Me diga que esse nosso eclipse não demorará anos para ocorrer de novo.

-- Oiá, Aninha... -- sua voz estava rouca. -- Espero que a terra não se preocupe de um eclipse eterno. Avisa que roubei a lua do céu, que agora eu tô com a dona da noite comigo. Aqui, guardadin no meu peito, prinxesa.

-- Avisa o céu que roubei o sol pra mim. -- Murmurei, segurando seu rosto com as dias mãos.

-- Avisa que te tatuei no meu peito. 

-- Avisa que já pode me beijar de novo... -- A olhei com cara de pidona. Vitória não resistiu e me encheu de selinhos por todos rosto.

Meu corpo estava quente, dormente, não era real. Aquelas mãos na minha cintura, aqueles cachos entre meus dedos. Vitória estava ali agora, pra mim. E eu não conseguia acreditar. Era como se eu fosse acordar na minha cama a qualquer instante de novo. Foi tudo tão rápido, tão veloz, tão bom. Peguei a mão dela e fiz carinho em seu dedo.

Não sabia o que dizer. Nem tinha o que falar, estávamos nos reconhecendo, nos reaprendendo, nos descobrindo de novo. Seus dedos foram contornar meu rosto. Delicadamente. Naquele momento era como ela escrevesse uma música dentro de mim. O ritmo virou a batida do nosso coração, a letra foi escrita com a ponta de seus dedos e o tom veio na voz rouca e baixa dela:

-- Você é a coisa mais linda que eu já vi, NaClara, tu parece que foi feita a mão. -- Ela sorriu, me olhando. -- Deus te fez com os dedos, esculpiu cada curva desse corpo. Te fez a obra prima Dele. -- encostei nossas testas.

-- Nunca pensei que ia ouvir você falar desse jeito sobre algo que num fosse o céu no pôr-do-sol. -- Ri, baixinho, sentindo o choro voltando.

-- Você é meu pôr-do-sol, Aninha. 

Foi ali que meu coração derreteu no peito. Eu queria falar tanta coisa e ao mesmo tempo nada. Eu queria contar dos olhos dela, de cada música que fiz pensando nela. E ao mesmo tempo, no mesmo compasso, no mesmo ritmo, só queria aproveitar aquilo. O silêncio a dois. Queria só curtir o silêncio dela, compartilhar o meu e no vácuo de som criar a melhor canção de amor. O nariz dela estava esfregando no meu, num beijin de esquimó.

-- Eu não quero abrir meus olhos, Cachin, tenho medo de ser um sonho. -- sussurrei.

-- Se for sonho, menina, estamos sonhando com a mesma coisa. -- Ela me beijou de novo.

Dessa vez com mais vontade. Dessa vez com mais força. Mas manteve o nível de poesia. Virei barquinho de papel naquela boca, e ela me deitou no sofá, deixando minhas pernas entrelaçar a cintura dela. Meu coração disparou. O tamborzin da minha bateria nunca foi tocado tão rápido. Eu nunca senti algo tão intenso quanto o beijo de Vitória. Ela escorou a cabeça no meu ombro e eu fiquei de olhos fechados, aproveitando o cheiro daqueles cachos loiros.

Se for sonho, Deus, não me deixa acordar.

Ana&VitóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora