Capítulo Onze: Canetas e Papéis

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 Ana.

 Estava eu e a Vitória no escritório. Tínhamos acabados de saber que nosso produtor iria mudar, porque Felipe disse que tinha planos pra Tiago Iorc e um novo profissional, da confiança dele, ficaria conosco. De canto de olho, vi que Vitória sentia o mesmo que: algo daria errado.

 Já fazia umas semanas desde nosso beijo, porém não assumimos nada. Não houve pedido. Não houve conversa. A gente só foi nós, nos dias que tivemos de folga. O pé de Vitória já tinha melhorado, mancava um pouco e não podia subir escadas, mas estava bem. O nosso novo produtor, então adentrou a sala.

 Ele parecia ser simpático. Barba rala, cabelo bem cortado, usava jeans e camisa social. Os olhos eram grandes círculos negros. Nada nele chamava muito atenção. Era só um cidadão normal, que trancou toda a poesia no fundo da alma. Ele se sentou na nossa frente e sorriu.

 -- Meninas, eu sou Marcos. -- Ele apertou nossas mãos. -- Serei o novo produtor de vocês. Vamos manter basicamente tudo o que Felipe já fazia com vocês, mesmo estúdio e tudo, estarei apenas "supervisionando" vocês neste quesito, já que nada na gravação vai mudar, só Simas que terá mais tempo pra Tiago. Eu também providenciei um pessoal para fazer a gestão e assessoria das coisas para você. Como imprensa, marketing, imagem pública e tudo mais. Eles vão entrar agora para serem apresentados.

 Três rapazes entraram na sala. Olhei Vitória. Dois deles pareciam gêmeos e realmente eram, o outro era um pouco menor e usava óculos. Era muita informação para mim. Teríamos uma equipe completa agora? Isso era realmente profissional e com certeza aumentaria nosso alcance como duo. Me arrependi de não ter pensando no preço que seria pago por isso.

 -- Esses são Thomas e Carlos, cuidaram de agendar entrevistas, coisas assim e do marketing. -- Os gêmeos eram musculosos, cabelos castanhos e olhos cor de chocolate. -- Esse é Will, ele cuidará da imagem pública. Temos já uma plano e coisas a resolver ainda hoje, já que depois de amanhã os shows de vocês já começam novamente.

 -- O que precisamos resolver é: diminuir uma imagem que estão tendo. -- Will arrumou os óculos, usava colete de lã por cima da camisa, calças cor de caqui, tudo em cores pastéis. Ele era como encarar os nerds que ficavam até tarde na aula de química depois do último tempo. -- Não que isso seja um problema, fazem o que quiserem quando quiserem, mas enquanto o que estejam fazendo for público, precisamos nos preocupar como o público reage. -- Eu olhei Vitória, que me olhava confusa. Era bom saber que não estava sozinha nessa. -- Vocês tem uma fama de serem um casal na internet, e isso pode gerar problemas. Vocês nunca falaram que são, mas também nunca negaram.

 -- O que importa é a nossa mús... -- Vitória comecou, mas foi interrompida.

 -- Mas ter essa imagem diminui oportunidades. Impede o crescimento em rede nacional e em canais abertos. Programas talvez não convidem vocês para participar porque terão medo de perder audiência por isso. -- Ele suspirou, parecendo entender o quão chato aquilo era. -- Então, teremos um Stunt para cada uma. -- Ele sorriu. -- É uma relacionamento de faz de conta. Podem escolher as pessoas que querem.

 -- Espera, o que? -- Perguntei. -- Um relacionamento falso para acabar com um suposto rumor??

 -- É idiota ter que fazer isso. -- Vitória cruzou os braços.

 -- Por incrível que pareça, Will está certo. -- Marcos suspirou. -- É um assunto delicado, nós sabemos, porém é um dos assuntos que mais gera polêmica com vocês. E isso incomoda certas pessoas e diminui nosso público.

 -- Vão ter um "namorado falso" -- Ele fez aspas no ar. -- As duas, mas só precisam agir como um casal em público. -- Will explicou e a cada palavra que saia daquela boca a ideia parecia mais louca.

  -- Agora somos como Lauren e Camila? -- olhei pra Vitória, em busca de ajuda.

 -- Viramos Harry e Louis e descobrimos agora, menina. -- Ela riu, tentando amenizar a tensão.

 -- Um relacionamento contratado é ruim, sabemos, porém se faz necessário. -- Will suspirou.

 -- Não podemos simplesmente dar uma entrevista e dizer que não somos um casal? -- Aquilo me doeu. Eu queria que fossemos um casal e a reação de Vitória ao meu lado dizia que ela sentia o mesmo.

 -- Ai que tá, porque negariam agora se sempre fugiram da pergunta? -- Ele me encarou, e infelizmente eu sabia que ele estava certo naquele ponto.

 Olhei Vitória, caçando alguma solução menos louca. Nos encaramos por longos segundos e nenhuma das duas parecia ter uma ideia melhor. Aquilo era muita novidade e informação em tão pouco tempo. Dias atrás, eu e ela passamos um final de semana aos carinhos e beijos, e agora estávamos num escritório ouvindo que acabavamos de ganhar namorados falsos. Apesar de ser uma ideia totalmente contra o que eu e Vi acreditávamos, não podiamos negar que aquilo com certeza nos ajudaria a ter mais visibilidade em redes nacionais. Lembrei de um programa de TV muito famoso, porém tendo como diretor um homem muito tradicional. Aparecer lá aumentaria nosso alcance num nível incalculável, mas pra isso, precisaríamos diminuir os boatos que eu e Vitórias éramos mais que apenas um duo. Suspirei. Éramos mais que um duo.

 -- O dono do programa S!NG disse que estava muito interessado em ter vocês como jurados na primeira edição deles aqui no Brasil, vocês sabem o quão famoso ele é fora daqui e de como isso ia subir a carreira de vocês. -- Will apresentou, sorrindo. -- Porém, se digitarmos "anavitória s" no google, como se fossemos procurar por "singular", a segunda sugestão de pesquisa é "são namoradas".  Não é a imagem que o programa quer, porque vai surgir um público interessado apenas nisso para ver o programa, e não é a audiência que o dono quer.

 Suspirei. Ele estava certo.

  -- O que sugere, então? -- Arrisquei, sabendo que não iria gostar da resposta.

 -- Não quero que arrumem namorados falsos, longe disso. -- Ele já se explicou. -- Desculpe se interpretou assim, vocês apenas precisam que o público ache isso.

 Eu ia responder, mas a porta da sala foi aberta. Diego colocou a cabeça para dentro da porta. Ele usava roupa simples, calça jeans e camisa branca. Toda a atenção se voltou a ele.

 -- Ahn, desculpa interromper, porém o almoço de vocês chegou. -- Ele disse, se referindo a comida que havíamos pedido, já que seria uma reunião longa com um ensaio em seguida. Seus olhos se direcionaram para mim, e ele sorriu. -- Oi, Ana!

 Ao meu lado, pude ouvir um suspiro irritado de Vitória e não contive o sorriso, antes que eu pudesse responder, Will pareceu ter a ideia do século.

  -- Espera, você é quem mesmo? -- ele apontou pro moreno na porta.

  -- Eu sou Diego, o segurança delas.

 -- Bingo! -- Ele sorriu e parecia realizado, se virou para mim e disse: -- O que chamaria mais atenção do que um suposto romance entre você e um segurança?

 -- O QUE!? -- o grito nem tinha sido meu, eu estava atordoada demais para responder. O grito foi de Vitória.  

Ana&VitóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora