Capítulo Vinte e Oito: Feito.

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Vitória.

Acordei sentindo Ana nos meus braços. Ela ainda estava nua e eu me permiti olhar um pouco para aquela pele morena que tinha várias marcas que eu tinha deixado com a boca. Ela dormia como um anjo, nem parecia que tinha acabado de perder a virgindade. Passei a mão nos fios negros do seu cabelo, lembrando de como ela arqueou as costas quando atingiu o ápice e me deixei dar mais um suspiro. De repente eu que nunca gostei de matemática, queria descobrir o ângulo que ela se ergueu ao gemer meu nome.

Ana sempre me disse que eu tinha um jeito bonito de ver a vida, mas tudo parecia ter mais cor quando ela estava do lado e eu podia contar para ela como o mundo era através dos meus olhos. Meu sonho mesmo era poder enxergar um pouquinho as coisas como aqueles olhos de noite enxergam. Eu tinha o ser mais precioso do universo dormindo nos meus braços. Aquela menina merecia o mundo, mas o mundo não merecia ela. Fiquei ali, namorando ela enquanto fazia carinho no rosto macio dela. Parecia tão calma. Tão serena. Tão única na galáxia toda. Ela podia chamar meus olhos de marte, dizer que viaja pra outro planeta quando tá comigo, mas é ela que me faz ser planeta, porque ela é o espaço. É a imensidão infinita de universos. É a menina com olhos de noite, de jabuticaba. É a mulher que tinha os olhos que eu queria nos meus filhos.

Suspirei apaixonadamente vendo o tempo não passar, tudo ganhava uma energia tão única estando com ela. Eu estava morrendo de saudade, da textura, do cheiro do corpo, dos fios do cabelo, tava com saudade até dela reclamando da salada no almoço e como era abominável comer alface (que é verde) com beterraba (que é roxo). Mas que ela podia comer alface com tomate e cenoura. Ri, sozinha, lembrando de tudo que faz aquela menina ser tão única no mundo. Me aconcheguei naquele corpo pequeno de novo e fechei os olhos, não demorou para mim voltar a dormir.

Eu sonhei. Mas era diferente de todos os outros, era real demais. Eu sentia a areia da praia nos meus pés, sentia a brisa do mar. A praia estava vazia, até que eu ouvi um violão sendo tocado atrás de mim, me virei e vi Ana, de canga e a parte de cima do biquini, tocando um sambinha no instrumento. Ela sorriu para mim. O cabelo estava maior, preso num rabo de cabelo e os olhos estavam atrás das lentes redondas dos óculos escuros. Seu sorriso era enorme para mim, e tudo parecia tão calmo.

Antes que eu pudesse dizer algo, ouvi risadas. Duas crianças riam muito. Olhei em volta e vi dois pequenos. Um deles tinha os cabelos loiros, cacheados, olhos negros como os de Ninha. A menina tinha meus olhos, mel esverdeado e os cabelos eram ondulados e castanhos escuros. Ambos usavam roupas mistas em preto e branco, eram uma mistura de mim e de Ana. Ele tinha a pele mais branca e ela era mais morena. Me sentei ao lado da NaClara, na areia, vendo ela olhar as crianças fugindo da água no mar e rindo. Tudo parecia real demais. O cheiro do mar, a textura da areia, o som das risadas, até a voz de Ana estava real demais.

Quando acordei, Ana estava me olhando. Os grandes olhos de infinitos me olharam e como se lessem minha alma, disse, quase sem voz:

-- Sonhou com eles também, né? -- Ela tocou meu rosto. Não precisei falar nada, nem ela. Concordei com a cabeça, sem acreditar em como ela sabia. Ela me beijou. Um beijo apaixonado, e como um contrato selado, juramos ali, a nós mesmos, que aquelas duas crianças iriam existir.  

[tá bem curtinho, eu sei, nem sei se ficou bom, mas meu humor caiu e eu não queria deixar vocês sem capitulo.]

Ana&VitóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora