Vitória.
Acordei com uma manta no meu corpo. Era 8h e alguma coisa, de acordo com o relógio da parede. Alguém tinha me arrumado no sofá, me ajeitado pra dormir. Até travesseiro tinham colocado na minha cabeça. Ana Clara era a pessoa mais misteriosa que conheço. Surgiu da cozinha, passou por mim, colocou a xícara de capuccino na mesa de centro e saiu, indo pro quarto dela.
-- Bom dia pra tu também, menina -- Murmurei e vi ela encolher os ombros. -- Venha cá, vamos tomar café juntas.
Ela parou e pareceu pensar um pouco, até voltar, sentar ao meu lado com sua xícara de café. Mal me olhava.
-- Vai, mulher, desembuche. Que que te aconteceu? -- Ela deu de ombros. -- Ah mas eu tô mole de certo né, NaClara. Vai, fale. -- Ela se encolheu. Largou a xícara do lado da minha e abraçou os joelhos. -- Não precisa me dizer o que houve, só me diga o que devo fazer pra te fazer voltar a ser meu raiozin de sol. -- Ela abaixou a cabeça. Era óbvio que era pela pergunta de ontem. Nunca vi ela tão acanhada como naquele momento. Toda encolhida, tão frágil, tão pequena. A abracei.
-- Vi... -- ela sussurrou, com a voz pressa de choro. Um nó se formou na minha garganta. -- Eu não quero responder a pergunta que me fez.
-- Tudo bem, Aninha, tu não precisa responder. -- A livrei desse peso. Mas vi seu rosto esquentar
-- Não querer responder num quer dizer que a resposta seja sim, Vitória -- seus olhos de noite encontraram os meus.
-- Na verdade, NaClara, quer dizer exatamente isso. -- Seus olhos encheram de água. Nunca vi ela tão frágil. Tão fácil de quebrar.
Então voltei para a tarde do ano passado, quando ela surgiu do quarto com violão e caderno, me mostrando a música.
"Canta comigo?", ela perguntou, se sentando ao meu lado no sofá. Eu passei o olho por toda letra.
"Cante primeiro, preciso saber a melodia, menina. Mas a letra está muito linda" ela me olhou por longos segundos, até começar os acordes do violão.
Eu a olhava com toda atenção do mundo, e ela encarava o violão, tímida. Falou toda sua poesia de um amor puro, de uma paixão de outro planeta. Falou de um amor carnal. Ana tinha o dom de poetizar o mais vulgar que existia. Ela cantou um "me prova, me enxerga, me sinta, me cheira e se deixa em mim" e parecia ser tão inocente, mas seu jeito acanhado demais provava ser mais que isso. Ana Clara Caetano Costa tinha acabado de escrever sobre sexo. Da maneira mais pura que podia.
"Me escuta ao pé do ouvido, todos teus sentidos que afetam os meus, que querem te ter". Ela escrevia com alma. Enquanto ela dizia tudo em palavras, eu sentia a pele formigar. Meu corpo estava quente, queimando por uma emoção tão viva sendo cantada pela primeira vez só pra eu ouvir ecoando na minha sala. No último refrão, cantei com ela e senti seu sorriso falhar.
Éramos mais que Anavitória. Éramos Ana&Vitória. Éramos dois corações.
Apaixonados.
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Ana&Vitória
Fiksi Penggemar"Éramos mais que Anavitória. Éramos Ana&Vitória. Éramos dois corações." 25/11/2017: #163. 05/03/2022: #13, em anavitoria. 22/03/2022: #2, em anavitoria