Capítulo Trinta e Um: Cores

2.8K 229 60
                                    

O teatro lotou com familiares e amigos dos artistas, teria apresentação de todos os tipos, de todos os temas e de todas as idades. Apresentaram comédia, tragédia, uma releitura de Romeu e Julieta onde eles não morriam no final, entre varias outras peças com referências de obras famosas. Ana se sentou no lugar reservado, ao lado de Paola, que estava encarregada de cuidar dela.

Antes da última apresentação, as cortinas foram fechadas, e todos os outros que já haviam se apresentado saíram e ocuparam os lugares reservados da frente. De trás das cortinas uma movimentação foi notada, passos, som de alguma coisa caindo e uma risada que Ana reconheceu ser de Vitória. Demorou cerca de 5 minutos até a cortina se reabrir.


Falcão estava em pé, usava um short de legging cinza e um top também cinza os cabelos presos num coque firme, as luzes todas apagadas. Um holofote se acendeu, mas a frente, indicando o microfone. Vitória caminhou a passos lentos até ele olhou o público.

-- A gente nunca sabe o que espera a gente lá fora. -- Começou, o teatro todo em silêncio. -- Vivemos num mundo de preto e branco e as veiz nóiz nem sabe. Até que chega alguém. -- Ela sorriu. -- Alguém que mostra a gente as cor do mundo todinho, mostra pra gente a graça de pintar fora das linhas, a graça de correr na chuva. -- Foi então que Ana notou que as roupas não eram cinzas escuras, ela estavam molhadas. Vitória estava com o corpo todo molhado em cima daquele palco. -- Eu vivi minha vida todinha no que meus pais planejaram para mim. Meus pais diziam: "Teresa, quando você crescer, vai se casar com um belo homem e ter vários filhos" -- Ana estava concentrada em Vitória fazendo o papel de Teresa, curiosa com o que iria vir a seguir. -- Mas eu não esperava. Eu não esperava encontrar ele.


Ela caminhou devagar para trás, saindo da luz e Theo se aproximou. Theo usava uma calça larga que ia um pouco abaixo do joelho e o peito estava nú, ele também tinha o corpo todo molhado. Ele parou em frente ao microfone.

-- A gente nunca sabe o que espera a gente lá fora. -- Ele começou, sorrindo. -- Na bagunça da vida as vezes a gente não nota que esbarra com alguém que veio pra ficar. Não devemos ser aquilo que as pessoas esperam de nós, meus pais sempre dizia: "Pedro, quando você crescer, vai virar um grande empresário e casar com uma boa mulher." -- Ele riu. -- Mas a vida é mais que isso. A vida é colorida demais para ser esse cinza. E eu aprendi isso. -- Vitória se aproximou, ao lado dele e os dois então disseram juntos:


-- A vida foi feita para ser pintada com todas as suas cores.... -- Eles sorriram, e as luzes se apagaram, Theo correu para um lado levando o microfone e Vitória foi ao centro do palco de abaixando. 

Ele voltou correndo e se posicionou atrás delas. Todo o teatro se iluminou com a luz branca do palco junto com a música que começou a tocar. "Elastic Heart" de Sia numa versão com apenas violoncelo e piano invadiu todo o lugar. Vitória se levantou junto com a entrada do piano jogando o corpo para um lado e Theo logo atrás, indo para o outro. Era um apresentação de dança contemporânea, e Ana estava concentrada demais para lembrar da conversa com a moça da cafeteria.


Os dois interagiam entre si, parecendo contar uma história de duas pessoas se descobrindo. Não precisava de palavras para passar a mensagem. Vitória ficou parada no meio do palco, observando Theo a rodear e dançar, até que ele passou o pé no chão e um pó vermelho subiu, colando no corpo molhado deles, do outro lado, ele repetiu o movimento, e o pó agora era azul. Ele passou a mão no corpo dela, misturando as cores e manchando mais ainda o corpo dela, fazendo o pó dissolver na agua.

Foi a vez dela, numa batida de pé, erguer o pó amarelo e suja-lo com a tinta que se formou na pele dele. E foi assim a dança toda, giros, saltos, o pó colorido subindo e no final da música, quando a música ficou lenta, os dois já estavam sujos de diversos tons do arco iris. Pararam, um de frente do outro, tocando os corpos com as mãos e se descobrindo, e descobrindo o outro. E quando a música acabou, Vitória saltou no colo de Theo e os dois deram um selinho, mas em seguida as luzes do teatro apagaram. Logo os dois se soltaram, rindo e pararam de mãos dadas, agradecendo quando o holofote reacendeu. A galera do teatro foi o primeiro a se levantar e aplaudir gritando coisas como: "MEU VITHEO É MUITO LINDO SIM"


Ana sorria, ao aplaudir. A mensagem da peça deles era sobre amar. Amar a si mesmo, com suas cores, amar o outro, mesmo que as cores deles sejam diferentes. Era sobre ser você mesmo. Era incrível.

Mas ela não podia negar que se sentiu incomodada.

Ana&VitóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora