-- Vitória Fernandes Falcão, eu não vou te dar banho. -- Repetiu Ana Clara, pela terceira vez.
-- Mar menina, como é que eu vou entrar no chuveiro sem conseguir me manter em pé? Magina só, o chão todo moiado, eu sem pode pisar direito, vamo, NaClara, me ajude. -- A cacheada disse, sentada na cama com os braços cruzados.
-- Mulher tu tem que dar conta de tomar um banho sozinha, como é que quer fazer show hoje a noite se nem 10 minutos em pé tu consegue? -- A morena virou o rosto, escondendo toda a vergonha de ter que dar banho nela.
-- Eu vou cantar sentada né, Aninha... -- E como um estalo, seu sorriso se acendeu. -- Vou pega é um banco e me banhar sentada mesmo, dá nada não.
Ela já saiu mancando atrás de um banquinho para se sentar durante o banho. Nisso, Ana se jogou na cama, suspirando. Tinha dormido mal, era como se seu corpo tivesse se acostumado e só aceitasse dormir ao lado de Vitória.
Ana.
Quando o chuveiro foi ligado, me peguei fechando os olhos e imaginando as gotas de água descendo pelo corpo branco dela. Esse mundo de pensamentos estranhos sobre ela me invadiam desde que nos conhecemos. Mas agora estava pior que nunca. Tudo era Vitória. Tudo era nós. Tudo era Anavitória.
Era difícil saber onde terminava eu e começava ela. Passávamos tanto tempo junto, que as manias eram quase uma só. Peguei gosto por chá, apesar de sempre preferir o café. Peguei gosto por vinho, por salada, por florzinhas que nem espécie deve ter, por cheiro de terra, por pôr-do-sol. Peguei gosto por Vitória. Peguei gosto por tudo que fazia ela ser tão ela.
Me vi então pensando nos cachos, nos lábios, nos sorrisos. No abraço casa, nos olhos cor de marte, no jeito singular. No jeito que ela sempre está em qualquer da minhas músicas, como o acorde Sol. Como o dedilhado que deixa tudo tão leve. Ela que faz minha música ser tão minha música. Ela é todas as composições vivas e sempre que paro pra pensar nisso, meu coração dispara no peito, pedindo papel e caneta, pedindo rima e violão, pedindo mais uma música pra falar do amor que tenho.
Enquanto agarrava o edredom a ouvi cantarolar no banho. Vitória não tem tempo ruim. Se chover, ela é a primeira a se molhar, se a música cair o nível, ela é a primeira a dançar, se cair, ela é a primeira a rir, se quebrar o pé no show, ela é a primeira a fazer piada sobre a expressão "quebre a perna" do teatro e dizer que levou um pouco a sério demais. Vitória é leve por ser Vitória. Por ser ela.
Imaginei as gotinhas de água caindo pelas suas costas, no cabelo preso num coque feito com anos de prática com seus cachos loiros, no vapor embaçando o vidro. No sorriso cantarolando uma música que ouviu na rádio e nem sequer sabe a letra, nem a melodia, nem a rádio. Mas diz que ouviu, de um tal de Eduardo e Luan que tocou na rádio do 96.4, que nem sequer existe, às 16h e pouco da tarde, enquanto fazia chá. Imaginei a pele branca cheia de espuma.
Imaginei os ombros, a clavícula, o pescoço. Imaginei a boca. E então meu estômago revirou e a batida do meu coração falhou. Droga, ela é a única coisa que faz minha escola de samba errar o passo. Ela é o passo em falso do meu frevo. É a falha do acorde do meu violão. É meu sorriso que desmancha. É meu peito que derrete.
Vitória morava mais em mim do que eu mesma. Já não sabia que roupa eram as minhas. Já não sabia que cheiro era meu, que travesseiro eu levei de casa, não sabia se os pares das minhas meias não eram uma mistura da dela com a minha. Ela saiu do banho. Sacudi a cabeça, me livrei dos pensamentos, e foquei nela, toda orgulhosa, saindo mancando do banho, com toalha no corpo.
Só não esperava que o passo falharia, que seu corpo cairia, que Vitória tropeçasse e seu corpo encontrasse o meu.
E, claro, Vitória ria.
[galerinha, por favor, chequem o primeiro capitulo, tem a data de postagem de todos os capitulos e o horario que serão postados]
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Ana&Vitória
Fanfic"Éramos mais que Anavitória. Éramos Ana&Vitória. Éramos dois corações." 25/11/2017: #163. 05/03/2022: #13, em anavitoria. 22/03/2022: #2, em anavitoria