Capítulo Quatorze: Alma Nua

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[outro cap sim porque pediram e bem, quem sou eu pra negar se eles tao prontinhos aqui?? alias, amanha tem dois capitulos, um no horario normal e outro a noite, ainda nao sei o horario. boa leitura!] 

Vitória.


 Suspirei profundamente vendo a garota sair do palco. Era a terceira candidata do dia, ao meu lado estava Ana, com seus óculos de grau. Usava um vestido branco longo, com a lateral aberta e todo rendado na saia. Eu usava um top, também de renda, preto e saia de um tecido muito leve longa. Estávamos no primeiro dia de audição da S!NG, nada muito interessante havia aparecido. Os boatos de Ana com Diego haviam funcionado e depois daquelas duas semanas após a reunião eu tinha visto um ponto positivo naquilo tudo: as perguntas sobre nosso suposto (talvez não tão suposto assim) relacionamento havia diminuído para zero.

 Contra todas meus surtos iniciais sobre o assunto, Ana realmente estava apenas saindo como amiga de Diego. Mas a mídia fez todo o trabalho e o plano de Will deu certo. Ainda não gostava dele, mas resolvi ignorar minha intuição. Se eu soubesse o quão forte o fato de eu ignorar iria prejudicar Ana, eu nunca teria deixado ele chegar perto dela.


 -- Ninguém muito interessante, né? -- Ana sorriu, anotando algo na folha dela.

 -- É... -- concordei, vendo um garoto entrar.


 Ele subiu no pequeno palco e pareceu tirar algo dos pés, subiu os degraus e se ajoelhou, tocando a testa no chão, como num ritual. Se levantou e veio até o microfone., descalço. Pegou um elástico preto do pulso e prendeu o cabelo, que ia até um pouco abaixo do ombro, num coque desarrumado. Os fios eram de um castanho avermelhado e eram encaracolados, enrolados, ondulados. Não dava para definir. Vestia jeans escuros e uma camiseta branca folgada demais para seu corpo magro. Seus olhos cor de cobre, de ferrugem. Olhei Ana e a vi sorrir. Sentimos a mesma coisa.

 -- Qual seu nome? -- Loren perguntou, era cantava pop e era do interior de Brasilia. S!NG sempre chamava artistas novos para serem jurados.


 -- TF. -- Ele respondeu, com a voz presa. Falava baixo e sua voz era num tom rouco diferente, nem agudo, nem grave. Tinha uma profundidade incrivel.


-- TF? -- Confirmou João, que cantava sertanejo. O menino a nossa frente assentiu.


 -- Então, TF... -- Ana começou. -- O que vai mostrar pra gente hoje?

 -- Eu vou cantar "Tô bem e tu?" do Sharlon Orearo. -- Declarou, ajustando o microfone.


 -- Então cante, menino! -- incentivei e o vi jogar a cabeça para trás, respirando fundo. Parecia estar se conectando com o lugar, já que vi seus dedos do pé apertarem o chão.

 "Tão bem sem tu

  Tão mal também
  Tô bem e tu?  
  Não mente e vem!"


TF cantava de olhos fechados, com voz em tom normal, amplificando ela dentro do próprio corpo antes do som chegar no microfone. Ele dominava bem seus tons, como se tivesse plena noção do que era capaz ou não. Ana segurou minha mão por baixo da mesa, tão encantada quanto eu. Era inevitável não sorrir ao ver aquele garoto cantando. O sistema do programa era criar equipes de cinco pessoas e então ir num sistema de turno e returno até chegar ao vencedor. Eu e Ana não tínhamos ninguém na nossa equipe, até agora.


 "Esqueça o quanto de orgulho que te fez fugir
   Pois o teu maior desejo 
  Era estar aqui
  Outra vez"

 Seus olhos se abriram, brilhavam como cobre no fogo, vivos. Sua alma agitada fazia sua voz ecoar em cada pedacinho do pequeno teatro construído para o programa. Ele segura o microfone, parecendo tímido.

 "Teu beijo nu
  Preciso, vem"

 Suas mãos tiraram o microfone do apoio e ele sorriu, parecendo estar empolgado. Seu sorriso era perfeito, dentes brancos e alinhados.

 "Sorriso lar"

 Com muita técnica, ele aproximou a boca do microfone, usando a mão para abafar. Na música então houve uma parada brusca. Um corte. Um vácuo de instrumentos. Uma pausa.

 "Que só tu tem"

 Sussurrou numa perfeição que fez como se tivesse dito aquilo no pé do meu ouvido. O lugar todo havia sido tomado pelo seu tom baixo e grave, suas poucas palavras de poesia ditas num fio de voz. Eu estava apaixonada pelo talento que via e Ana arrepiou ao meu lado. Tínhamos não um garoto cantando em nossa frente, mas sim uma alma nua.

 "Mas é claro que a vida
  Segue sem você
  Mas parece que contigo
  Tem mais tudo a ver"

 Voltou ao tom normal, junto com os instrumentos que novamente tomaram o fundo do show que ele dava ao cantar. TF era o que eu e Ana procurávamos, precisávamos. Era naquele menino que iríamos apostar todas nossas fichas. Terminou a canção, mas eu estava hipnotizada demais para prestar atenção. Ele se curvou e colocou o microfone de volta no lugar, esperando seu veredito.


-- Uau. -- Loren começou. -- Isso foi mais que uma audição, menino, você deu um show.

-- Obrigado. -- Ele disse, se curvando de leve.

 -- Eu estou impressionado com sua habilidade, rapaz, me surpreendeu mesmo. -- João o aplaudiu e TF repetiu o processo de se curvar em agradecimento.

 -- Eu não tenho palavras para definir o quanto sua voz me encantou. -- Ana disse, gesticulando com as mãos.

 -- Cê canta com alma. -- Declarei, séria, olhando ele nos olhos. -- Apresentou pra gente sua alma nua, sem cores que não fossem realmente suas. Cantou uma música que não exige agudos ou notas altas e mesmo assim a performou como ninguém mais faria. -- Elogiei. -- Anavitória te quer na equipe.


Ele sorriu, parecendo criança e posso jurar que vi ele dar um pulinho antes de se curvar pra mim. Ele havia entrada para a lista de nomes que estavam classificados, e depois veríamos quem os quer no time e, caso houvesse empate, ele escolhia o grupo que queria participar.


 Mas eu no meu coração já sabia que TF era nosso.

 Mas eu no meu coração já sabia que TF era nosso

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Ana&VitóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora