Ana&Vitória

Capítulo Quinze: Esperança

 Ana.

 -- Não inventa, Will. -- Disse Vitória.

 -- Mas seria incrível. -- Ele reforçou.

 -- Não vou fingir que estou saindo com o TF só porque você jura de pé junto que viu química e a mídia iria adorar, já não basta o furdunço de Diego com Ana?? Aliás, já conseguiu o que queria, podemos parar com essa ideia estúpida?

 Ela bufou, irritada. Vitória era fiel a seus princípios e aquilo era uma facada no peito dela. Não queria mentir pros fãs. Não queria iludir eles. Não queria fingir amar alguém. Não queria fingir ser amada. Apesar de amar o teatro, ela odiava tudo que não fosse de alma. E Will não entendia isso. TF era como par perfeito pra ela, nosso produtor já sonhava com eles cantando junto e ganhando milhões de views. Mas simplesmente não era certo pra Vitória, e nada, nem ninguém, faria aquela cabecinha aceitar algo tão absurdo como aquilo estava sendo.

 -- Saia e toma um sorvete com ele, vai, não vai matar. -- Will suspirou, parecia tentar convencer uma criança.

 -- Você não pode forçar as pessoa fazer coisas, moço, você tem que deixar elas... -- Ela gesticulou, fazendo um movimento de empurrar algo de cima a baixo. -- Tem que deixar fluir. Tem que deixar ir. Tem que deixar ser. Sozinho, sem dedo de homem nas obras de Deus.

 -- Vitória tu tá fazendo tempestade em copo d'agua, menina. -- Ele passou a mão nos cabelos.

 -- E vai me dizer que adoraria sair com alguém que sabe que só estão ali, agora, com a única finalidade de ganhar mídia naquilo. Isso deveria ser desumano. -- Ela revirou os olhos.

 -- Você leva as coisas muito a sério. -- Ele a encarou, claramente a julgando. Pude ver seus olhos revirando a lista de xingamentos várias vezes.

 -- Você que não enxerga direito nem com esses óculos. -- Vitória cruzou os braços, fazendo bico.

 -- Já chega vocês dois. -- Ri, encerrando a discussão. -- Will, desista. Ela não vai mudar de ideia e ainda está certa. Já deu dessa história de manipular a mídia para ela manipular os fãs. Os boatos mudaram, ninguém mais fala da gente.

 -- É, mas falam que terminou com Vitória. -- Ele suspirou. -- Um grande número de pessoas vem dizendo que você terminou com Vitória, ou a traiu com o Diego, ou tudo mais. Precisamos de boatos sobre ela.

 -- O problema disso tudo foi boato moço, porque não eliminamos todos eles ao invés de muda-los de acordo com o que queremos?

 -- Resolvemos isso depois, okay? -- Marcos finalmente se pronunciou. -- As meninas tem uma entrevista hoje. -- Ele olhou o relógio de pulso. -- Daqui uma hora, para ser exato. Vamos meninas, eu levo vocês.

 Assim que subimos no carro, ele começou:

 -- Olha, meninas, eu sei que a questão que o Will mexe é chata. Não é legal ter alguém mandando a gente fazer coisas que a gente não quer fazer com pessoas que nós sequer conhecemos. Não há problema em ter boatos por ai que vocês são um casal, aposto que Avril Lavigne se diverte rindo ao ver os boatos que ela morreu e foi substituída. Porém, vocês estão no início da carreira. A Vitória está mais que certa em sempre desconversar com essa pergunta. Não é uma fama ruim, aliás, eu mesmo amo todos os fãs sendo tão puros a falar do amor que sentem uma pela outra. Só... Muita gente não entende. E isso dói em mim na mesma intensidade que dói em vocês. Há 20 anos atrás eu estava com a idade de vocês, e sonhava em ser ator. -- Ele contou, olhando pra rua. -- Mas surgiu um boato que eu e meu melhor amigo éramos um casal. -- Quando paramos no sinal vermelho, ele olhou para nós, no banco de trás. -- Nós fomos expulsos do teatro.

 Eu olhei Vitória. Os olhos cor de marte tão perdidos como os meus. Fiz inúmeras perguntas mentalmente para ela e não achamos respostas. Tínhamos muita liberdade hoje, porém não era muito. Nosso amor poderia ser envenenado pelo mundo. Eu queria casar com a mulher a minha frente, acordar com aquela juba de leão comigo sempre, porém... Muita coisa ia precisar ser enfrentada. Muita luta precisaria ser travada. Muita paciência precisaria ser criada. Segurei a mão dela e ali fizemos uma promessa em silêncio: Nunca desistiremos da outra. Enquanto houver amor, nada vai me separar de Vitória.

 -- E ai, o que houve depois? -- Ela perguntou, ainda olhando pra mim.

 -- Eu virei produtor e ele empresário. -- Ele sorriu, parecendo orgulhoso.

 -- E vocês ainda são amigos? -- perguntei, ainda olhando Vitória. Queríamos saber se mesmo com todo aquela bagunça de mídia, poderíamos continuar sendo Ana&Vitória.

 -- Se somos amigos? -- Ele gargalhou, divertido. -- Somos melhores amigos. -- Ele respirou fundo e ergueu a mão esquerda para a gente ver a pequena aliança no seu dedo. -- E casados a 6 anos.

 Sorrimos, todos juntos. Aquilo fez a felicidade do meu dia. Se Marcos e seu melhor amigo hoje eram casados mesmo tendo sido expulsos do sonho deles, nada me impediria de ficar com Vitória. Ela me olhou, cheia de esperança. Toda história de mídia, stunt e esconder nosso amor tinha deixado a gente triste, mas ali estávamos, ouvindo que o amor resiste quando é pra durar.

 Ela segurou meu rosto, rindo e me beijou ali mesmo, no banco de trás do carro, com nosso produtor olhando pelo retrovisor.