Um Amanhecer (Livro I - TRILOGIA FASES DO DIA)

Capitulo 1

Despertei com os primeiros raios de sol adentrando pela janela entreaberta do meu quarto. Na noite passada, deitei e fiquei observando as estrelas, devo ter pegado no sono e me esqueci de fechá-la.
- Mais um dia! - Digo me levantando e abrindo completamente minha janela para visualizar melhor aquele lindo céu.
Trato de arrumar minha cama e ir tomar um banho. Depois de quase meia hora, volto para o quarto e me sento na cama, enrolada na toalha e fico olhando meu reflexo no espelho.
Ouço uma leve batida na porta.
-Pode entrar. - Continuo sentada na cama.
-Bom dia filha! - Minha mãe entra no quarto, terminando de colocar seus brincos de pérolas.
- Bom dia mãe! Está linda!
- Obrigada! E você não está pronta por que? - Disse ela colocando as mãos na cintura.
- Não sei o que vestir...
- Independente do que vista, tenho certeza que estará deslumbrante,  porém atrasada! - Minha mãe sorria e tocava a ponta do meu nariz com o dedo.
- Melhor eu me apressar então! - Disse já me colocando de pé e segurando a toalha.
- Bom mesmo! Bom, eu tenho que ir ou quem se atrasará sou eu! - Beijou minha testa e saiu.
Minha mãe trabalhava num ateliê de vestidos de noiva e era conhecida por suas costuras maravilhosas e detalhes feito a mão que fazia de um simples vestido, único. Ela sempre trabalhou duro para manter a casa e me criar sozinha, já que meu pai nos abandonou quando eu tinha apenas 2 anos de idade. Nunca soube o motivo que o levou a nos deixar, mas não o julgo.
Uma leve brisa soprou quarto adentro e me tirou de meus pensamentos, lembrando-me que tinha de me apressar a me vestir, já que hoje eu começaria a trabalhar na biblioteca da cidade.
Caminhei até meu guarda roupa e decidi usar algo que mostrasse minha personalidade, mas também que servisse para um local de trabalho.

Depois de fazer uma maquiagem básica, eu estava pronta. Peguei meu celular e vi que tinhas várias mensagens dos meus amigos me desejando um ótimo primeiro dia de trabalho. Corri o dedo pela tela a procura de uma mensagem em especial, mas me lembrei que essa mensagem não chegaria, já que o remetente da mesma havia me trocado a uma semana por uma bailarina e jogado fora um namoro que já durava 2 anos. Nunca fui de guardar mágoas ou ficar remoendo coisas que acabaram, então guardei o celular na bolsa, dei uma última olhada no espelho e sai em direção a porta da frente, parando antes de pegar na maçaneta, fechei os olhos e respirei fundo.
- Vai dar tudo certo Melinda! - Disse a mim mesma, abri a porta e sai.
Enquanto caminhava em direção a biblioteca, que ficava apenas duas quadras de casa, percebi que uma tempestade estava se aproximando, então era melhor eu me apressar e me preparar para o incrível dia que seria, eu, os livros e a chuva.
Acelerei o passo e assim que passei pela porta da frente da biblioteca a chuva caiu com toda força, do lado de fora mal conseguia ver um palmo da janela. Então me virei e observei atentamente cada detalhe daquele lugar maravilhoso, pode ser que para muitos não fosse algo atrativo, mais para mim era como um paraíso. Inúmeras fileiras repletas de livros, em alguns cantos era possível ver uns puffs, em outros cantos mesas suportando vasos com belas flores e era a mistura dos cheiros das flores e da páginas dos livros que me embriagava e me fazia sorri igual criança.
Fui andando e me aproximei de um mesa, onde uma mulher olhava sem piscar para a tela de um computador, quando me viu, sorriu.

-Você chegou! - Ela se colocou de pé e apertou gentilmente minha mão.
- A senhora deve ser a Rosalina Dantas? - Perguntei meio timida.
-Eu mesma! E você... - A mulher parou como se tentasse se recordar do meu nome.
-Melinda! Melinda Camargo! - Me apresentei.
- Ah claro, Melinda..  Me acompanhe menina! - Dito isso, ela subiu a escada em espiral que havia logo ao lado da recepção e eu a segui.
- Mais que chuva, não? - A maneira como ela falava parecia estar falando consigo mesma.
- Sim, mas prefiro assim.. - Respondi olhando para as prateleiras que não pareciam terminar.
Sempre fui uma completa apaixonada por livros, com eles eu podia viajar todo o mundo sem sequer sair do lugar, vivia aventuras, romances, e sempre chorava quando um personagem morria. Ler, era pra mim como parte da minha rotina, a melhor parte, e quanto mais eu lia, mais me apaixonava.
Estava tão entretida com o ambiente ao meu redor que não percebi que já tínhamos parado e que dona Rosalina falava comigo.
- Melinda, você está me ouvindo? - Ela balançava as mãos em frente à meu rosto.
-Hã?..  Me perdoe, me distrai com a beleza dessa biblioteca! O que a senhora dizia?
- Dizia que pode guardar suas coisas naquela sala, ali tem um armário que pode trancar com cadeado se quiser.. - Ela pausou e só continuou a falar quando me viu assentir - Com o tempo vai perceber que não temos muito movimento por aqui!
- Isso é horrível! Como as pessoas podem ignorar algo tão encantador como os livros? - Disse cruzando os braços sobre o peito, estava esfriando.
- Ah se todos dessem valor a eles como você dá querida..  - Dona Rosalina sorriu e pousou levemente a mão em meu ombro.
- Mais tenho certeza que ainda seremos o lugar mais visitado da cidade!
- Seu entusiasmo me alegra menina! Bom, recebemos algumas doações de livros.. Estão naquelas caixas, acha que pode organizar tudo nas prateleiras? - Seu semblante estava cansado.
- Claro! Deixe comigo! - Eu sorri animada e vi dona Rosalina descer a escada até a recepção.
Eu não faço idéia como, mais mudaria a concepção das pessoas dessa cidade em relação a biblioteca, mostraria a elas um pouco do poder que um livro tem.
Fui até a pequena sala indicada pela dona Rosalina e guardei minha bolsa no armário, voltei e olhei para todas aquelas caixas e a quantidade imensa que livros de diversos temas que havia ali.
- Bom, mãos a obra! - Disse pegando a primeira caixa para começar a organizar.