1 mês depois
Já fazia tanto tempo que eu não via minha mãe, a saudade era grande e só amenizava por conta das raras ligações que ela me fazia, nunca me dizia onde ela estava, apenas me informava que se sentia bem e feliz e isso deveria ser o bastante para mim.
Agora ali estava eu, na minha sala com diversos clientes me enviando emails e me ligando pedindo uma reunião com Fernando. Henrique já havia tirado o gesso da perna e me pedia para marcarmos o casamento, mas não queria que a cerimônia acontecesse sem a presença da minha mãe. Ela realmente me fazia muita falta.
- Terra chamando Melinda! - Fernando i na minha frente acenando as mãos e rindo.
- Ah, me desculpe eu estava distraída! - Falei sorrindo e me endireitando na cadeira.
- Percebi! - Ele falou e se pôs ao meu lado. Eu ainda não havia me acostumado com essa aproximação dele, me deixava desconfortável.
- Em que posso ajudar? - Afastei um pouco minha cadeira, voltando a aumentar o espaço entre nós.
Fernando afastou algumas coisas da beira da mesa e se sentou cruzando os braços.
- Bom, como você sabe vamos ter uma festa beneficente para arrecadar fundos para o orfanato da cidade! - Ele falou olhando diretamente pra mim.
- Sim, eu sei! - Mas não entendia onde ele queria chegar com aquela conversa.
- E eu como dono tenho quase que a obrigação de ir nessa festa, então pensei que você queria me acompanhar! - Tendo dito isso, Fernando me sorriu e me admirou com aqueles olhos castanhos.
Tive que respirar fundo para não rir da cara dele, afinal ainda era meu chefe. E me controlar para simplesmente não expulsar ele da minha sala, criticando sua ousadia em me chamar para ser sua acompanhante numa festa, na qual eu nem tinha a intenção de ir, e outra, ele era compromissado com Daniela e eu com Henrique. Ou seja, não havia motivos e razões alguma para irmos juntos.
- Vai me responder ou espera que eu leia sua mente? - Ele falou se divertindo com a situação.
- Estou pensando na maneira mais educada de te lembrar que ambos somos compromissados - falei mordendo a ponta da caneta - Isso significa que esse convite deveria ser feito para Daniela!
Fernando então revirou os olhos e bufou se afastando.
- Se eu tivesse a intenção de chamar Daniela, não teria vindo até você! - Ele parecia bravo.
Percebi que era a oportunidade perfeita para ter aquela conversa que há muito tempo Daniela, havia me pedido para ter com ele. Me levantei passando por ele e trancando a porta, me virei ficando no seu caminho.
- Mudou de idéia? - Ele sorriu descaradamente.
- Não seja grosseiro! - Respondi e apontei a cadeira na frente da minha mesa - Senta! Vamos conversar!
Fernando bem relutante, mas assentiu e foi se sentar. Voltei ao meu lugar e cruzei as mãos sobre a mesa.
- Então, sobre o que precisamos conversar? - Ele olhou a porta e me olhou - Deve ser importante, pra você precisar trancar a porta!
Ignorei os comentários dele e me concentrei para achar as palavras certas para iniciar aquela conversa.
- Bom, conversei com Daniela e ela me contou que você anda.... Estranho! - Ao ouvir isso ele se levantou, mas antes que falasse algo o encarei com a cara fechada, e logo ele se sentou calado - Já que parece não se abrir com Daniela, ela acha que vá se abrir comigo! Não sei porque!
Realmente não entendia, que tipo de ligação, ela achava que eu e Fernando tínhamos.
- Eu não estou ficando louco! - Ele esbravejou.
- Eu não disse isso! - E comecei a imaginar que Fernando poderia estar passando pela mesma situação pós traumática que eu.
- Mais Daniela falou! - Nesse momento sua expressão se amenizou e uma tristeza e digo até desespero tomou conta de sua face - Eu só precisava de alguém que acreditasse em mim, mas ninguém acredita!
- Eu acredito! - Disse colocando minha mão sobre a sua.
- Por que? - Fernando estava se acostumando com a idéia de ninguém acreditar nele que até o próprio estava deixando de acreditar.
- Acredito que estamos passando pela mesma coisa! - E vendo minha expressão assustada, Fernando se aproximou e sussurrou.
- Você também o vê? - Então tive a certeza de que ele também estava sendo assombrado pelas visões de Enzo.
Confesso, já havia alguns dias que eu não o via, mas somente a lembrança das visões me arrepiaram a espinha e eu gelei, conseguindo apenas acenar positivamente com a cabeça.
Vi Fernando respirar fundo e apertar minha mão.
- Não sabe como é bom ouvir isso é saber que eu não enlouqueci! - Ele falou depois.
- Acredite, no início também tive medo de acabar jogada no fundo de um sala qualquer de um manicômio! - Sorri lembrando de quando me ocorreu essa idéia - Mas conforme as visões iam aumentando, eu simplesmente fechava os olhos e repetia pra mim mesma que aquilo não era real.. Já fazem alguns dias que não vejo mais!
Fernando me ouvia atentamente sem nem piscar.
- Mas só deu realmente certo quando me permiti receber ajuda! E não estou falando de psicólogo, mas sim da pessoa que eu amo.. E no seu caso, seria...
- Daniela! - Ele me interrompeu completando a frase.
- Exato! - Balancei a cabeça e o vi se perder em pensamentos, que no final se resumiram num sorriso.
- Você tem razão! - Fernando disse se levantando - Tenho sido muito duro com ela, e no momento que mais preciso dela perto, estou é afastando ela!
Fernando deu a volta na mesa e me puxou pela mão para um abraço, que me deixou vermelha no momento. Ele então beijou minha cabeça com carinho e sorriu.
- Obrigado pela conversa doutora! Até a próxima sessão! - E então ele destrancou e saiu da minha sala
Ri da forma como ele me comparou com uma psicóloga, então notei que eu era realmente boa com conselhos. Poderia ser uma profissão a se pensar num futuro não muito distante.
Meu celular tocou me tirando de meus pensamentos, peguei e vi que era Henrique.
- Oi amor! - Atendi animada.
- Oi minha princesa! - Ele falou também animado - Lembra que eu disse que ia procurar uma casa para nós aqui próximo do seu emprego?
- Sim, me lembro! Encontrou algo? - Falei esperançosa. Afinal não queria ficar na casa da minha mãe, ali a saudade aumentava e me doía o coração.
- Na verdade, encontrei alguém! - Henrique falou e parecia que eu podia ver seu sorriso de lado.
- Quem? - Não conseguia pensar em ninguém no momento.
- Vou deixar você falar com ele! - Henrique então passou o telefone para outra pessoa e quando o ouvi falar meu nome, meu coração se alegrou no mesmo instante.
- Melinda! - Daniel falava meu nome o pronunciando com todo amor.
- Oi pai! Não sabe como é bom falar com o senhor! - Desde o dia do casamento dele com minha mãe, não tive a oportunidade e ver ele novamente. Andava muito ocupada.
- Sinto sua falta! Como esta minha garota? - Ele falou e eu ouvi Henrique resmungar algo e depois rir.
- Também sinto sua falta, pai! - Respondi sorrindo - Eu vou bem, cheia de trabalho e Pedro crescendo tão rápido, são tantas experiências novas a casa dia!
Ouvi Daniel rir e como era bom ouvir aquele som.
- Sempre soube que seria uma ótima mãe! - Ele falou mais logo tratou de mudar de assunto - O que vai fazer a noite?
- Bom, daqui a pouco saio do serviço e vou dar uma passada na biblioteca pra saber como vão as coisas por lá - respondi pensando no que tinha para fazer - Mas na parte da noite estarei livre, no que está pensando?
- Nada importante - Daniel falou - Apenas queria levar você, Henrique e o pequeno Pedro para jantar no meu novo restaurante?
- O que? - Quase gritei pulando na cadeira, então baixei o tom da voz - O senhor realizou seu sonho de abrir seu próprio restaurante? Que maravilha!
- Sim, finamente o sonho saiu do papel! E queria vocês como meus primeiros clientes vip!
- Vai ser uma honra, claro que vamos pai! Fico muito feliz por você!
Ficamos mais uns minutos no celular e então nos despedimos encerrando a ligação.
Que bom que Daniel está conseguindo seguir com a vida, realizando sonhos e buscando ocupar a mente. Essa noite precisamos comemorar, vou pensar em algo para lhe presentear por mais essa conquista.
Respondi mais alguns emails e enfim chegou a hora de ir embora, passei a agenda de reuniões que Fernando teria para o dia posterior e me despedi. Peguei minhas coisas e parti para a biblioteca, queria ver se havia tido algum movimento e quem sabe pegar um livro novo para ler para Pedro, ele amava me ouvir lendo para ele.
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Um Amanhecer (Livro I - TRILOGIA FASES DO DIA)
RomanceMelinda era uma garota de poucos amigos, embora levasse consigo a certeza de que tinha ao seu lado somente os verdadeiros amigos.. Sempre muito esforçada, corria atrás dos seus sonhos, jamais esquecendo de ser gentil e nunca perder a fé.. Já que ess...