SONHO DE MELINDA
Eu estava correndo debaixo de chuva, algo me perseguia, porém o medo me impedia de olhar para trás e meus pés se recusavam a parar de correr. A rua estava deserta, não havia ninguém que pudesse me ajudar.
Coloquei-me detrás de uma árvore para recuperar o fôlego, estava ensopada e minhas lágrimas se misturavam com a água da chuva que escorria e grudava no meu corpo. Após alguns segundos percebi que não ouvia passos pesados pisando as poças d'água. Será que quem me seguia agora já não me segue? Só tinha um jeito de saber, respirei fundo e tendo contado até 3, olhei para o caminho que havia percorrido e não tinha ninguém. Meu coração aos poucos foi desacelerando e minha respiração ficando menos ofegante.
- Melinda.. - Alguém chamava meu nome mais eu não conseguia ver ninguém.
- Quem está aí? - Fui andando para o meio da rua, pouco me importando que a chuva aumentara.
- Melinda.. - Parecia estar mais próximo.
- O que quer de mim? - Eu olhava ao redor a procura do dono da voz.
- Melinda! - Essa voz veio aos gritos e eu reconhecia.
- Mamãe? - Apertei os olhos e pude vê-la correndo e acenando com os braços - Mãe! - Acenei de volta e um sorriso de alívio escapou de meus lábios.
- Melinda, cuidado!
Mal tive tempo de me virar e uma caminhonete me acertou em cheio. Agora ali estava eu, deitada no meio da rua, meu corpo todo doía, havia sangue escorrendo de uma ferida na minha cabeça e tudo estava embaçado.
Ouvi a caminhonete parar, a porta se abrir e alguém descer. Olhei para onde minha mãe estava e a vi levar um tiro certeiro na testa e cair morta.
- Mãe.. - Não tinha forças para me levantar, as lágrimas caiam - Não!
Ouvi uma risada e ao olhar pra cima, a arma estava mirada para mim e por conta da forte chuva, ou da pancada na cabeça eu não conseguia enxergar o rosto do assassino de minha mãe, só pude perceber que era um homem.
- Adeus Melinda! - E assim ele atirou.Acordei assustada, estava suando e pelo estado do meu travesseiro, havia chorado muito. Sentada na beira da cama e com a feição preocupada estava minha mãe.
- Mãe! - Eu a abracei e por mim não a soltaria mais.
- Calma, estou aqui - Ela passava a mão no meu cabelo levemente - Foi só um pesadelo.
- Parecia tão real! Você... Você... Estava... Morta! - O choro saia em soluços.
- Não estou morta! Estou bem aqui! - Ao dizer isso, ela me abraçava mais forte.
Aos poucos fui me acalmando, fazia tempo que eu não tinha um pesadelo, e esse me assustou bastante. Minha mãe abriu a janela de meu quarto para que ventilasse e eu percebi que já havia amanhecido. Isso não poderia ser possível, eu havia acabado de me deitar. Aquele pesadelo horrível tomou toda minha noite de sono? Maravilha, eu deveria estar com olheiras enormes.
- Está mais calma? - Minha mãe me olhava com um olhar doce.
- Estou! - Respondi me sentando na cama.
- Que bom! Vou descer e fazer o café! - Ela caminhou até a porta, parou e me olhou.
- O que foi? - Perguntei curiosa.
- Nada! - Ela sorriu e foi fazer o café.
Me levantei, arrumei minha cama e fui até a janela observar o céu. Não parecia que tinha chovido o dia anterior, o sol raiava forte e nenhuma nuvem era encontrada.
- Bom dia Melinda! - Enzo, meu melhor amigo desde a infância passava de frente a minha casa e acenou para mim.
- Bom dia Enzo! - Acenei de volta e sorri.
Me espreguicei e fui tomar um banho. Ao entrar debaixo do chuveiro, percebi o contraste da água com a temperatura do meu corpo. Aquele pesadelo realmente tinha mexido comigo. Mas como minha mãe diz "nada como um belo banho pra lavar o corpo e renovar a alma"! Ela sempre tinha ditado pra tudo.
Ao terminar o banho, me enrolei na toalha, escolhi uma roupa e me maquiei, me observei no espelho e gostei muito do que vi.Desci e fui tomar meu café, antes de ir trabalhar.
Me sentei a mesa e percebi que ao lado da minha xícara havia uma pequena chave. Eu a peguei e fiquei olhando.
- Uma senhora passou por aqui e disse que você teria de abrir a biblioteca hoje - Minha mãe falou ao vir da cozinha com um bolo recém assado, e me ver olhando a chave. - Ela disse que tinha uns compromissos que não poderiam ser adiados.
- Tudo bem! - Guardei a chave no bolso e tomei meu café.
Minha mãe se arrumou para ir trabalhar, mas antes de sair me olhou com a mesma cara que me olhara na porta do quarto.
- O que foi mãe? - Perguntei pela segunda vez naquele dia.
- Só fiquei muito preocupada ao ver seu estado hoje cedo!
- Eu estou bem! - Me levantei e beijei o topo da cabeça dela.
Ela sorriu e saiu porta a fora.
Aproveitei que ainda tinha tempo, arrumei a mesa e lavei a pouca louça que tinha. Terminando tudo, meu celular vibrou, o tirei do bolso e havia uma mensagem de texto da Luíza, irmã do Enzo e também minha melhor amiga." Adivinha quem vai casar? Isso mesmo.. EU! E hoje vamos comemorar esse milagre! Kkk.. Te busco em casa as 19h00.. Beijos, te amo amiga! "
Puxa, isso que é um milagre! Luíza nunca havia tido um relacionamento sério, quer dizer, até conhecer o Paulo, que segundo ela era o seu par ideal. E parece que é mesmo, vão casar!
Eu respondi que estaria esperando por ela e ao guardar o celular no bolso, senti algo. Era a chave da biblioteca, o que me lembrava, eu precisava ir trabalhar.
Peguei minha bolsa e sai rumo a mais um dia de trabalho.
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Um Amanhecer (Livro I - TRILOGIA FASES DO DIA)
RomanceMelinda era uma garota de poucos amigos, embora levasse consigo a certeza de que tinha ao seu lado somente os verdadeiros amigos.. Sempre muito esforçada, corria atrás dos seus sonhos, jamais esquecendo de ser gentil e nunca perder a fé.. Já que ess...