Olhei para Henrique procurando resposta e notei que ele também parecia surpreso e não acreditava no que seus olhos viam. Percebi então que não se tratava de um simples visão, de uma loucura da minha cabeça. Ele estava realmente ali. A pergunta era: como era possível?
- Por favor não parem a festa por minha causa! - Disse ele bebendo um longo gole de seu champanhe.
Quando nos viu, largou a taça de lado e veio até nós. Eu continuava agarrada ao braço de Henrique, sentia que logo logo poderia desmaiar.
- Você deve ser Melinda? - Ele falou logo pegando minha mão e me puxando para mais perto e levando a mesma até seus lábios, depositando um leve beijo - Já deve ter ouvido falar de mim?
- O que faz aqui pai? - Henrique finalmente recuperou a voz e se colocou de pé ao meu lado, e mesmo com certa dificuldade me puxou pela cintura ao seu lado.
Precisei sentar, tudo girava ao meu redor. Já sentada o olhei novamente, parecia ainda não acreditar que o pai de Henrique estivesse ali. Então ele não tinha morrido.Nesse momento pensei em dona Rosalina que havia sido presa por ter matado Enzo, achando ter vingado a morte do filho que na verdade, estava vivo da Silva.
- É uma festa de família, não entendo porque não posso participar! - O pai de Henrique falou e me olhou assim que uma música começou a tocar, então veio até mim e me pegou pela mão - Me concede uma dança?
- Não! - Henrique respondeu por mim.
- Se eu não dançar com ela, terei de dançar com a noiva! - Ele falou lançando um olhar na direção de minha mãe.
- Eu danço! - Falei me levantando na mesma hora, não queria que ele ficasse perto dela de maneira alguma.
Juntos fomos para a pista de dança, onde alguns casais dançando abraçados. Começando a dançar e eu mantia meus olhos grudados em minha mãe que dançava com Daniel. Porém havia algo em sua expressão, que eu tinha certeza em dizer que era dor.
- Ela está realmente deslumbrante! - O pai de Henrique falou se referindo a minha mãe.
- O senhor não estava morto, sr. Bragança? - Perguntei ironicamente, mas na verdade só queria entender o que aconteceu.
- Ah, por favor - Ele falou revirando os olhos, parecia estar se divertindo - Me chame de Bruno!
- Que seja! - Foi a minha vez de revirar os olhos e o fez rir.
A música parecia não acabar nunca, meu corpo se movimentava quase que no automático, não me sentia confortável estar nos braços de Bruno. Vi Henrique nos observar de longe e sua expressão era puro ódio, de uma só vez ele virou um copo de whisky, isso não era nada bom, tiraria todo efeito dos remédios que estava tomando por causa da perna. Quando virei a cara, vi que Bruno olhava hipnotizado para minha mãe e sua feição era de tristeza.
- Que tal me contar o que aconteceu? - Falei tirando ele de transe em que estava - Afinal a gente achava que o senhor tinha sido morto!
- E estragar a festa com uma história tão chata? Não! Deixa para outra hora! - E se aproximando ele beijou minha testa e eu estremeci com seu atrevimento. Logo Daniel se aproximou com minha mãe e ele sorria, o que significava que ele não sabia nada sobre Bruno.
- Quem é seu amigo Melinda? - Ele perguntava nos olhando.
- Esse é o sr.... - O olhei e limpei a garganta - Quer dizer, esse é o Bruno, pai do Henrique! - Forcei um sorriso.
- É um prazer conhecê-lo! - Daniel estendeu a mão e eles se cumprimentaram - Essa é minha esposa...
- Melissa! - Bruno o interrompeu fazendo Daniel o olhar sem entender nada.
- Será que posso roubar a noiva um pouco? - Falei sorrindo e levando minha mãe para dar uma volta na praia.
No caminho todo ficamos andando quietas, lado a lado. Eu nem sei como estava sendo para ela, ver o homem que ela um dia amou e que um dia matou o marido dela.
- Por que ele tinha que aparecer agora? - Disse minha mãe desabando em chorar quando já estávamos longe o bastante da festa.
- Mãe! - A abracei e notei que ela tremia - Se a senhora quiser, peço que os seguranças mandem ele embora!
- Não! - Ela respondeu tão prontamente que me pareceu que ela o queria por perto - Digo, não quero criar alarde! A festa está tão bonita, tudo tão lindo.. Não quero estragar, expulsando quem quer que seja!
Ficamos ali por mais uns minutos, quando vimos Henrique se aproximar lentamente.
- Sinto muito que meu pai tenha aparecido e estragado a festa! - Ele falou olhando docemente para minha mãe, que sorriu para ele.
- Ele não estragou nada! Olha - ela indicou o local onde a festa rolava e todos nossos amigos dançavam, bebiam e se divertiam - A festa continua sem nenhum problema!
Eu sabia o que ela estava fazendo, estava simplesmente empurrando a sujeira para debaixo do tapete para resolver depois.
- É melhor eu voltar antes que alguém fique louco sem mim! - Minha falou quando viu Daniel andar pela festa procurando por ela.
Assim, ela voltou a festa e ficamos eu e Henrique ainda na praia. Nos sentamos na areia e Henrique me abraçou.
- Como você está? - Ele perguntou e percebi que eu não sabia responder aquela pergunta, já que dentro de mim havia uma confusão de sentimentos.
Então apenas me aninhei ainda mais em seu abraço e suspirei. Estávamos quase nos esquecendo da presença inesperada no casamento de minha mãe, quando Bruno se aproximou.
- Está ficando tarde - ele falou e prontamente ficamos de pé - Eu vou embora!
Nem eu e nem Henrique lhe dissemos uma palavra que fosse, ainda estávamos em choque com sua presença ali.
- Bruno! - Minha mãe o chamou e quando seus olhos se encontraram, brilharam e se encheram d'água.
- Melissa! - Ele falou o nome dele de uma forma cheia de amor.
Ela se aproximou mais e de braços cruzados o olhou tentando achar as palavras certas para falar para ele.
- Depois de tanto tempo, depois de tanta coisa.. - Uma lágrima escorreu dos olhos dela e minha vontade era correr até ela e abraçá-la, dizer que tudo ia ficar bem. Mas ela estava finalmente se abrindo, eu precisava deixar que ela passasse por aquilo sozinha - Por que aparecer agora?
- Eu apenas quis ver com meus próprios olhos que você realmente estava se casando! - Ele falou e aquilo parecia lhe esfaquear o peito.
- Melissa! - Daniel a chamava e se aproximava, quando viu minha mãe chorando ficou preocupado - O que houve?
Nesse momento um pequeno iate encostou no cais, nos fazendo olhar para ele.
Bruno pareceu se exaltar e sua respiração ficou ofegante. Num surto de adrenalina, ele estendeu a mão para minha mãe. Eu não entendia nada, mais algo me dizia para começar a me preocupar.
- Vem comigo? - Bruno falou com a mão estendida para minha mãe.
- O que? - Falei não acreditando que ele estava mesmo pensando que minha mãe fugiria com ele - Olha, não sei quem você pensa que é ou significa para minha mãe ela já...
- Eu aceito! - Minha mãe respondeu alto, nos fazendo todos ficar boquiabertos e olhar para ela incrédulos.
- Mas Melissa...? - Daniel começou a falar.
- Eu sinto muito! - Então ela pegou na mão de Bruno - Me perdoem! - Ela me olhou antes de sair correndo sorrindo ao lado de Bruno e juntos entrarem no iate e partirem.
Nesse momento eu perdi o chão, minha mãe recém casada havia acabado de fugir com seu ex amor de juventude.
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Um Amanhecer (Livro I - TRILOGIA FASES DO DIA)
RomanceMelinda era uma garota de poucos amigos, embora levasse consigo a certeza de que tinha ao seu lado somente os verdadeiros amigos.. Sempre muito esforçada, corria atrás dos seus sonhos, jamais esquecendo de ser gentil e nunca perder a fé.. Já que ess...