Capítulo 37

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Preferimos ficar na casa de minha mãe, caso precisasse voltar ao medico. Meu quarto agora parecia apertado, com a cama de casal e o berço colocados lado a lado. Pedro dormia na minha cama, ao lado de Henrique,  que depois de todo susto, dormia exausto.
Desci e resolvi tomar uma xícara quente de café, me lembro que isso parecia resolver todos meus problemas quando eu era adolescente e trabalhava como fotógrafa, que era uma paixão para mim, antes de eu conhecer os livros. Falando em livros, precisava ir até a biblioteca, pensei enquanto tomei o primeiro gole de café e fui inebriada pelo seu forte aroma. Depois que dona Rosalina deixou a biblioteca para mim, contratei duas garotas para manterem a biblioteca em ordem e funcionando. Graças a meu bom salário de secretaria de Fernando, conseguia pagar as garotas,  já que eu mesma não teria tempo de ficar lá cuidando de tudo.
Olhei para a janela da cozinha e vi meu reflexo, eu parecia exausta, meus últimos dias não tem sido fáceis. Ao olhar para o lado vi Enzo, me olhando e sorrindo, me virei com tudo e vi Daniel se aproximando.
- Tudo bem? Parece assustada! - Ele perguntou.
- Estou bem! - Falei apenas - Café? - Ofereci.
- Não, obrigado! Estou indo até a delegacia! - Ele pegou as chaves do seu carro.
- Algo errado? - Larguei minha xícara e cruzei os braços.
- Não! - Ele balançou a cabeça - A polícia só quer pegar meu relato do que ocorreu na casa da ilha!
Como que revivendo o momento, vi todo o acontecimento em minha mente e estremeci levemente.
- Tem certeza que vai tomar a culpa pela morte de Mariana? - Perguntei.
- Vocês já passaram por coisa demais! - Daniel se aproximou e beijou minha cabeça.
Depois se virou e saiu pela porta da frente. Novamente fiquei sozinha e então percebi que a morte de Enzo e todos os acontecimentos recentes estavam mexendo com meu psicológico, era melhor eu procurar ajuda, antes que isso ficasse pior, ou incontrolável.
Subi para o quarto e vendo que ainda meus homens dormiam tranquilos, resolvi tomar um banho. Caminhei até o banheiro, enchi a banheira, entrando logo depois. Encostei a cabeça e fechei os olhos, eu só queria um momento de paz, mas mesmo assim não conseguia. Havia muita preocupação e medo dentro de mim e ao abrir os olhos vi, a água havia virado sangue e Enzo estava ao meu lado acariciando meu rosto.
- Não! Me larga! Não! - Gritava.
- Meu amor, se acalma! - Henrique tentava me segurar para eu tentar parar de me debater dentro da banheira.
- Henrique? - O olhei e novamente olhei para a água, percebendo que estava normal.
Henrique me olhava preocupado, sentado na beira da banheira com a muleta ao seu lado.
- O que foi que aconteceu? - Ele me perguntava segurando minha mão.
- Eu tenho visto Enzo em todos os lugares! - Falei esfregando os olhos e me acalmando.
- Amor, é melhor você procurar passar com um psicólogo! - Ele me olhava com carinho e colocava uma mecha de cabelo que se soltou atrás de minha orelha.
- Farei isso amanhã! - Olhei pra ele e sorri para tranquilizá-lo.
- Venha deitar comigo! - Henrique falou estendendo uma toalha pra mim.
Me sequei e vesti um pijama, antes de ir para o quarto me olhei no espelho e vi que estava com a aparência péssima, tinha olheiras e minha expressão estava cansada. Decidi que amanhã seria um novo dia e que eu ia me esforçar para melhorar.
Acompanhei Henrique até o quarto, depois de ajudar ele a deitar na cama, peguei Pedro e o amamentei, que logo depois adormeceu novamente e eu o coloquei no berço, fiquei olhando para ele e lágrimas desceram pelo meu rosto.
- Melinda?  - Henrique me chamou e eu o olhei - Vem cá vem, meu amor! Deixa eu cuidar de você! - Ele abriu os braços, e chorando fui me deitar ao seu lado, afogando as lágrimas em seu peito.
- Me fala o que está sentindo? - Henrique me fazia cafuné.
- Eu me sinto.. Um caco! - Eu chegava a soluçar e Henrique não me interrompeu em momento nenhum, me deixou colocar pra fora todo mal que estava acumulado dentro de mim - Tenho tido visões de Enzo, e isso tem me assustado muito. Ando com medo de tudo, parece que tô sempre esperando algo ruim acontecer.. Se tudo está calmo me deixa ainda mais nervosa! Tenho medo de algo acontecer a você,  ou ao nosso filho e eu não conseguir fazer nada pra impedir! Eu tô tentando ser forte pelo Pedro, tão pequeno.. Eu não sei se consigo ser uma boa mãe pra ele! - E o choro aumentou.
- Meu amor - Henrique ergueu meu rosto me fazendo olhar para ele - Quando eu te conheci, pensei ser uma garota frágil e fraca, confesso! Depois com o tempo,  vi que me havia me enganado profundamente, você é guerreira, não tem medo de correr atrás dos seus sonhos e sempre está sorrindo,  pronta pra ajudar quem for! Disposta a fazer o que for possível e até impossível,  para fazer feliz quem você ama! Hoje vejo que não poderia ter escolhido esposa melhor, e sei que Pedro é muito feliz por ter você como mãe dele! Você é forte, você é maravilhosa! Só nunca perca a fé e continue sendo gentil sempre!
O olhei no olhos e o choro foi cessando, dando lugar a um sorriso meigo e um brilho no olhar.
- Que foi? - Ele me perguntou sorrindo de lado.
- Você falou igual minha avó agora! - O beijei.
- Acho que isso foi um elogio! - Ele riu e secou os vestígios de lágrima que restaram em meu rosto.
- É sim! - Ri - Não tenho como agradecer por você existir na minha vida, você é uma das razões de eu levantar e seguir com a vida a cada novo dia!
Henrique apenas se aproximou ainda mais e me beijou.
Adormecemos abraçados e tive uma noite sem sonhos. Na verdade, parece que apenas fechei os olhos e então ouvi o chorinho de Pedro e levantei para amamentá-lo novamente. Depois troquei sua frauda, mas então ele começou um choro que me partiu o coração,  e eu não sabia o que fazer para acalmá-lo.
- É cólica! - Disse minha mãe aparecendo vestindo um roupão e esfregando os olhos.
- Te acordei? Desculpa! - Falei com Pedro no colo.
- Sem problemas! Me dá ele aqui! - E assim que ela pegou Pedro, se sentou numa poltrona no canto do quarto colocando a barriguinha dele encostado na barriga dela - Quando ele sentir cólica, fazendo isso você o aquece e a dor passa! - E realmente, ele parou de chorar e sorriu de lado - Olha tá sorrindo!
- Ele tem o sorriso do pai dele! - Falei olhando os dois.
- Você não me parece bem querida! - Minha mãe falou me olhando.
- Impressão sua! - Não queria preocupá-la.
- Não adianta, uma mãe conhece quando a filha não está bem! Logo vai aprender a notar também! - Ela falou batendo levemente nas costas de Pedro.
- Só muita coisa aconteceu em tão poucos meses! - Respondi me sentando na beira da cama, então Henrique esticou o braço e colocou em minha perna,  ainda dormindo. Sorri.
- Mais tudo vai melhorar! Afinal logo logo, Henrique se recupera e teremos nosso tão esperado grande dia!
Minha mãe se levantou e colocou Pedro no berço e se virou para mim.
- Falando em grande dia - Ela estava olhando para os dedos - Precisamos conversar!

Um Amanhecer (Livro I - TRILOGIA FASES DO DIA)Onde histórias criam vida. Descubra agora