Capitulo 12

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Já havia se passado 2 semanas, desde que voltamos da casa de minha avó. Eu continuava ignorando todas as mensagens e ligações de Enzo, mesmo sabendo que estava apenas adiando algo pelo qual eu teria de enfrentar qualquer hora, mais cedo ou mais tarde.
Tenho visto Henrique todos os dias no horário do meu almoço. Acho que estamos ficando bem próximos, porém tenho sempre me afastado quando percebo que estamos próximos demais. O bom de tudo é que ele entende, compreende que o que aconteceu comigo me traria alguns traumas, mais ele me prometia, sempre que a gente se via, que ele me ajudaria a superar isso.
Hoje era minha folga e eu pretendia encontrar Luíza. Desde a noite de comemoração do seu casamento eu não tinha a visto mais, só nos falávamos por telefone.
Levantei e fui tomar um banho. Liguei o chuveiro e comecei a cantarolar enquanto me ensaboava. Cantar me fez lembrar da época de escola, quando nos reuníamos após as aulas e a paixão pela música nos mantinha cada vez mais unidos.

Lembrança de Melinda

O sinal soou anunciando o término das aulas. Não podíamos acreditar que o ano letivo havia chegado ao fim e a tão esperada formatura estava se aproximando, trazendo junto dela a nossa viagem tão sonhada.
Como de costume nos reunimos na praça que ficava de frente a escola.
- Alguém sabe onde está o cabeça oca do meu irmão? - Luíza olhava ao redor em procura de Enzo, quando avistou o mesmo se aproximando com seu violão e uns papéis na mão - Até que enfim! Onde você se meteu?
- O importante é que estou aqui! - Ele sorriu e se sentou ao meu lado, depositando um beijo no topo da minha cabeça.
- O que está segurando aí? - Perguntei apontando para as folhas em suas mãos.
- Escrevi uma música nova e gostaria muito de ouvi-la na sua voz! - Ele me entregou a letra e maravilhada lia cada estrofe.
- Por favor amiga, não nos mate de curiosidade! - Luíza batia ambas as mãos impaciente.
Enzo passou as cifras para nossos outros amigos que estavam com violão e tendo combinado o ritmo que eu deveria seguir, comecei a cantar, com Luíza como segunda voz.

E com essa lembrança me dei conta de que estava mais do que na hora de encarar Enzo de frente e expor para ele como eu me sentia.
Sai do chuveiro, me enrolei numa toalha e liguei para Luíza, a mesma atendeu no segundo toque.
- Quem é vivo sempre aparece! - Zombou ela.
- Engraçadinha! - Ri - Será que poderíamos marcar um café hoje a tarde?
- Hoje a tarde...? - Ela falou com uma voz pensativa - Dá sim, que tal as 14h00?
- Pra mim está ótimo! Naquela nova loja de bolos que abriu, o que acha?
- Combinado! Te encontro lá!
- Lu - disse antes que ela desligasse.
- Sim?
- Leve o Enzo também! - Falei relutante, porém decidida.
- Até que enfim vão poder me explicar direitinho o que houve aquele dia!
Aquilo me pegou desprevenida.
- Achei que já tivessem te contado! - Por que o Enzo escondeu dela o que ele fez?
- Mais ou menos..  Só sei que vocês saíram pra tomar um ar e um nóia tentou assaltar vocês! - Ela continuou falando, mais eu parei de ouvir nesse momento.
Estava sem palavras para a desculpa esfarrapada que ele tinha inventado a ela. Não acredito que não foi homem de assumir o que fez. Lágrimas se acumularam em meus olhos.
- Melinda?  Tá me ouvindo? - Luíza me chamou.
- Estou sim, quando nos encontrarmos te contaremos tudo! Até mais! - Desliguei sem esperar que ela dissesse algo.
Mal havia largado o celular e ele tocou, olhei para a tela e vi que era Henrique. Ele parecia saber quando eu precisava dele, ligava sempre nos momentos certos.
- Henrique! - Atendi já aos prantos.
- Melinda? Está chorando? O que aconteceu? - Pelo barulho ele estava dirigindo.
- Acabei de descobrir que Enzo não contou pra irmã o que ele fez comigo... - Eu não sabia se chorava ou se falava - Ele disse a ela que fomos assaltados!
- O QUE? - Ouvi a freada brusca que Henrique dera.
- Onde você está? - Perguntei já me acalmando e começando a me preocupar com ele. Henrique era um ótimo motorista, mais tinha medo que tomado pela raiva ele ficasse imprudente e acontecesse algo a ele.
- Indo pra sua casa! - O seu tom de voz deixava bem claro seu nível de fúria.
- Não! Eu vou sair para tomar um café com a Luíza e aproveitar para conversar com o Enzo!
- Ótimo! Eu vou junto!
- Henrique, você tem me ajudado muito - Minha voz saiu o mais doce possível - Mas essa barreira eu devo ultrapassar sozinha!
- Não vou te deixar sozinha com aquele idiota! - Eu ouvia várias buzinadas, o que significava que Henrique estava correndo.
- Ei, me ouça bem.. Pare o carro!
- O que?
- Você me ouviu, pare o carro!
- Melinda eu...
- Por favor Henrique!
Foi necessário apenas alguns segundos e ouvi o ronco do motor da caminhonete dele cessar.
- Agora feche os olhos e ouça somente a minha voz! - Esperei e ele não disse nada - Vai ter que me dizer se está de olhos fechados!
- Estou! - Ele riu, isso era um bom sinal.
- Certo! Agora respire fundo.. Com calma e pense em algo bom.
- Te deixo escolher o pensamento - Ele falou e eu imaginei aquele lindo sorriso de lado - Tem o dia que te conheci, a primeira vez que passamos o amanhecer juntos e mais tarde!
- Mais tarde? - Perguntei.
- Se escolher esse pensamento vai ter que estar livre essa noite!
- Pra que?
- Uma surpresa! Anda escolhe!
- Eu escolho... Mais tarde!
Henrique suspirou e eu tinha certeza que era de alívio.
- E agora o que faço com esse pensamento?
- Deixa ele tomar o espaço que a raiva está tomando!
Ele respirou mais algumas vezes e então riu.
- Não sei como faz isso, é a única que consegue me acalmar tão depressa!
- É um dom! - Eu ri.
- Não quer mesmo que eu vá junto? - A raiva havia passado mais a preocupação ainda estava lá.
- Não! Eu ficarei bem! - Garanti a ele.
- Qualquer coisa, só me ligar!
- Tá bem!
- E não esqueça que essa noite passo aí pra te buscar!
- Não vou esquecer!
Nos despedimos e desliguei.
Tratei de me vestir, as horas estavam passando numa velocidade incrível e logo chegaria a hora de me encontrar com Luíza e Enzo.
Me olhei no espelho e sorri.

Saí de casa e fui até o local marcado, escolhi uma mesa pedi um café e fiquei esperando que chegassem

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Saí de casa e fui até o local marcado, escolhi uma mesa pedi um café e fiquei esperando que chegassem. Meia hora se passou e Enzo chegou sozinho.
- Onde está Luíza? - Perguntei olhando para trás dele procurando algum sinal dela.
- A sogra dela a levou para tirar as medidas para o vestido de noiva - Ele se sentou próximo a mim e no mesmo instante me afastei - Ela disse que viria pra cá assim que terminasse!
- Ótimo! Assim posso perguntar que história absurda foi aquela de assalto? - Minha mão tremia então a escondi debaixo da mesa.
- Melinda, aquele dia eu estava bêbado.. Não me lembro quantos copos de cosmopolita e quantas garrafas de cerveja havia ingerido antes que vocês chegassem! - Em seu rosto ainda haviam alguns pequenos sinais do tanto que apanhou de Henrique.
- Não foi o que eu perguntei! - Eu tentava de todo jeito manter a calma.
- Foi um erro tá bom! O que eu fiz com você foi o maior erro da minha vida, e vou levar essa culpa comigo sempre! - Ele esticou a mão pra mim e eu continuei imóvel - Inventar aquela desculpa foi o modo que encontrei de não atrapalhar toda a felicidade da minha irmã!
- Não! Inventar aquela desculpa foi a maneira que encontrou de jogar a sua culpa em outra pessoa! Você foi um completo mal caráter, duas vezes na mesma noite. - Meus olhos já estavam cheios de lágrimas, mais eu me segurei para não chorar.
- Te dou toda razão se nunca mais quiser falar comigo e não quiser me perdoar...
- Olha, eu tive uma parte de culpa nisso também! - Finalmente colocaria tudo pra fora.
- Melinda você...
- Agora é a minha vez de falar! - Disse com o tom de voz autoritário - Desde o início notei seus sentimentos por mim e ao invés de ser honesta com você e dizer que o que eu sentia por você era apenas amizade, eu deixei que se aproximasse cada vez mais! Sem perceber, estava alimentando seus sentimentos por mim, e isso também não foi nada bonito! Então quero que me perdoe, por deixar você criar expectativa sobre nós dois! - Parei, respirei fundo e continuei - E eu te perdôo pelo que você fez, mais não quero mais vê-lo, não quero mais ser sua amiga, não quero mais nada que me faça estar perto de você!
Enzo apenas balançou a cabeça e enfiou a mão no bolso, tirando uma chave e colocando sobre a mesa.
- O que é isso? - Perguntei sem nada entender.
- Uma prova de que estou realmente arrependido do que fiz e pretendo ter sua confiança novamente!
- Ainda não entendi como uma chave pode provar algo!
- Passei na biblioteca hoje mais cedo, na esperança de poder te ver e conversar..  Tentar explicar o que aconteceu! Você não estava, mais outra pessoa estava! - Ele fechou a cara antes de pronunciar o nome - Henrique! Eu me escondi atrás de uma prateleira de livros e ouvi ele conversando com a senhora,  dona da biblioteca. Ela entregou essa chave pra ele e disse que seria a única oportunidade dele e que se contasse para alguém, principalmente pra você, ela iria caçá-lo até no inferno.
Engoli em seco ao ouvir aquelas palavras.
- Foi quando ele enfiou a chave no bolso, mais ela escorregou de sua mão e caiu no tapete de entrada! - Enzo continuou - Esperei até que ele tivesse ido embora e a senhora subido ao segundo andar, peguei a chave e fui embora! E agora estou entregando a você!
- O que será que ela abre? - Peguei a chave na mão e observei cada detalhe dela.
- Não faço idéia! Só sei que seu namoradinho anda de segredos com a sua chefe! Melhor ficar atenta! - Enzo simplesmente se levantou e foi embora me deixando com milhões de pensamentos e uma única chave na mão.

Um Amanhecer (Livro I - TRILOGIA FASES DO DIA)Onde histórias criam vida. Descubra agora