Eu não conseguia acreditar no que meus olhos viam e mesmo assim, minha surpresa não se comparava nem um pouco com a de Henrique, ao ver minha reação.
- Mesmo que seja uma cena forte de se ver - Henrique segurou ambas minhas mãos - Mas não compreendo sua surpresa!
- Eu o conheço! - E nesse momento Henrique paralisou.
- Você conhece ele?
Balancei a cabeça enquanto as lágrimas rolavam.
- De onde? - Henrique me olhava nos olhos.
- De fotografias! - Respondi relembrando as vezes que vi aquele mesmo rosto numas fotos.
- Como assim? Melinda, não tô entendendo!
- Ele é meu pai! - Nesse momento me soltei de Henrique e caminhei até dentro da sala, observando o homem que estava deitado numa maca, ligado à vários aparelhos, com vários tubos e fiquei ao lado dele chorando.
- Seu pai? - Henrique se colocou na minha frente, do outro lado da maca - Isso é impossível!
- Por que? - Perguntei o olhando.
- Porque esse homem é meu pai!
- Não! - Ao ouvir isso, foi como se tivesse recebido uma facada bem no meu peito - não! Por favor me diz que isso é mentira!
- Melinda, meu amor.. - Henrique rapidamente deu a volta na maca e me segurou antes que eu caísse de joelhos no chão, chorando desesperadamente.
- Quer dizer que somos irmãos? - Eu não tinha coragem nem de olhar para Henrique.
- Você tem certeza de que esse homem é o seu pai? - Ele me abraçava forte.
- Tenho! É o mesmo homem que aparece em várias fotos que encontrei na gaveta de minha mãe, e uma vez ela me contou que se tratava do meu pai!
Um minuto se passou, até que percebi que Henrique também estava chorando. Então realmente, nosso romance que mal havia começado, havia encontrado o fim. E nossa, como aquilo me doeu. Eu então resolvi me afastar, já que nada mais poderia ser feito. Delicadamente empurrei Henrique.
- Por que ele está aqui? Nesse estado? - Perguntei olhando cada aparelho médico que estava conectado nele.
- O meu.. - Henrique me olhou choroso - O nosso pai, é um procurado da polícia! Ele tem um problema é por isso, deve ser mantido sedado!
- Procurado da polícia? Ele tem um problema? Me explica com calma! - O choro se recusava a cessar, dessa vez tendo a notícia que o homem da minha vida era meu irmão.
- Ele é um psicopata! Um verdadeiro serial Killer, que sequestra crianças na saída da escola, tortura e depois mata!
Conforme ia ouvindo as atrocidades que meu pai fazia com as pobres crianças, me virei e vomitei. Era repulsivo a idéia de que o homem que sempre quis conhecer, a figura paterna protetora que eu tinha dele se desfazia, e a figura de um monstro assassino de crianças tomava o lugar.
- E qual motivo não entregaram ele para a polícia? - Havia ódio em meus olhos.
- Ele é nosso pai! - Henrique estava boquiaberto.
- E um assassino de crianças! Ele tem que pagar pelo que ele fez! - Eu estava começando a me exaltar.
- Melinda, ele sofre com isso.. É como se existisse duas pessoas dentro dele! Um bom e carinhoso e outro psicopata! - Henrique tentou se aproximar e eu recuei - Por isso o mantemos sedado!
- O que Melinda faz aqui? - Dona Rosalina estava parada a porta do quarto segurando algumas sacolas com remédios e cobertores.
- Ela merece saber! - Henrique praticamente cuspiu as palavras.
- E qual seria o motivo?
- Ele é meu pai! - Gritei em direção a ela.
A mesma deixou as sacolas caírem no chão e levou a mão a boca em choque com o que eu havia acabado de falar.
- Então foi o seu nome que ele tentou chamar ontem quando despertou da sedação! - Ela se aproximou de mim e colocou meu cabelo atrás da orelha.
- Ele chamou por mim?
- Mais ou menos, não conseguiu pronunciar todo o nome.. Eu o apaguei com mais uma dose sedativa!
- Qual a relação da senhora com ele? Digo, porque a senhora se dispôs a esconder um assassino?
Dona Rosalina trocou olhares com Henrique e respirou fundo antes de falar.
- Eu sou.. Mãe dele! - Os olhos dela estavam marejados.
- Então.. É minha avó?
- Sim, mais por favor.. Não comente disso com ninguém! - Ela se referia a ele estar escondido ali.
- Querem me tornar cúmplice de esconder um assassino de crianças?
- Melinda.. - Henrique começou.
- Se não fizer por ele, faça por você! - Dona Rosalina o interrompeu.
- Como assim? - Perguntei.
- Não importa! Só fique sabendo que se a polícia encontrar ele, mais verdades viram a tona e você não vai aguentar! - Ela estava zombando de mim?
- A senhora não sabe o que eu consigo ou não consigo aguentar! - Tendo dito isso sai porta a fora.
Eu precisava de ar, e do lado de fora da biblioteca a chuva caía forte. Quando foi que começou a chover? Pouco importa, abri a porta e sai me ensopando.
- Melinda! Espera.
Me virei e vi Henrique sair na chuva atrás de mim.
- Me deixa em paz!
- Eu não entendo! - Ele me alcançou e andou do meu lado - Me pediu pra não esconder nada de você e eu cumpri com a minha palavra, agora você vai me tratar com indiferença?
- Você queria o que? Que eu descobrisse que somos irmãos e mesmo assim continuasse nessa idéia louca de nos casarmos? - A chuva se misturava com minhas lágrimas.
- Então tudo que vivemos.. Não passou uma idéia louca? - Ele parou e eu também.
- Não! O que vivemos foi como um sonho pra mim! - Olhei nos olhos dele - Mas acabou!
- Melinda não...
- Por favor! Não torne isso mais difícil!
E simplesmente me virei e andei para casa.
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Um Amanhecer (Livro I - TRILOGIA FASES DO DIA)
RomansaMelinda era uma garota de poucos amigos, embora levasse consigo a certeza de que tinha ao seu lado somente os verdadeiros amigos.. Sempre muito esforçada, corria atrás dos seus sonhos, jamais esquecendo de ser gentil e nunca perder a fé.. Já que ess...