Capítulo 4

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Cheguei na biblioteca e a abri, aproveitei que estava sozinha e coloquei o pequeno rádio que estava sob a recepção para funcionar. Começou a tocar minha música favorita, então dançava enquanto limpava algumas das prateleiras, como o movimento por aqui era raro, a poeira se acumulava fácil.
Estava tão distraída que não percebi que havia um homem parado, encostado no batente da porta da frente.
- Pensei que silêncio era sagrado dentro das bibliotecas! - Ele disse me olhando.
Com o susto, me desequilibrei da pequena escada e cai com tudo no chão, levando algumas lavradas na cabeça, que despencaram da prateleira.
- Oi! - Eu disse me desvencilhando dos livros e ficando de pé - Em que posso ajudar?
- Parece que você precisa de ajuda. - Não estava gostando nem um pouco do tom irônico e do olhar rude que lançava sobre mim.
- Estou bem! - Tentei imitar o tom de voz, só que pareci mais uma garotinha assustada. - No que posso ser útil? - Perguntei recolhendo os livros do chão.
- Preciso falar com a Dantas! - Não sei se foi como ele chamou dona Rosalina, ou se foi por ter se aproximado de mim, o olhei nos olhos e parecia que estava olhando para um universo de estrelas. Aquele azul que chegava doer de tão bonito, o cabelo preto meio bagunçado. Ele vestia-se socialmente e isso parecia realçar sua beleza.
Ao perceber meus olhos o examinando, ele sorriu de lado.

- De onde eu venho, é falta de educação ficar encarando! - Ele falou e deu mais um passo na minha direção

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- De onde eu venho, é falta de educação ficar encarando! - Ele falou e deu mais um passo na minha direção.
- O que? - Respondi saindo do transe que aquele grosseiro causou - Eu não.. Não importa! A Dona Rosalina não está, teve um compromisso e não sei que horas volta! - tendo dito me virei e caminhei até o rádio o desligando, não queria que mais ninguém me visse dançando.
Ouvi breves passos e pude sentir um calafrio percorrer a espinha, quando me virei, dei de cara com o estranho de olhos azuis, estávamos tão perto que nossos lábios quase se roçaram.
- Bom, quando ela voltar, diga que o Henrique veio procurá-la! - E permaneceu imóvel, sem tirar os olhos de meus lábios.
Eu não era capaz de me mover. Porque não me afastava dele? Senti uma de suas mãos subir pelas minhas costas, me puxando e colando meu corpo ao dele, enquanto a outra acariciava meu rosto. Fechei os olhos e simplesmente esperei. Porém o que aconteceu, não foi o esperado. Um som alto veio dos fundos da biblioteca e quando abri os olhos vi no rosto de Henrique a mesma expressão de assombro que vi no rosto de Rosalina.
- Ouviu isso? - Me desvencilhei dele e esperei por mais algum barulho.
- Ouvi, foi uma pomba que bateu naquele vidro! - Henrique apontou para a janela próximo aos fundos e antes que eu pudesse retratar, ele se aproximou e pegou minha mãos colocando um papel dentro dela - Se quiser continuar nossa conversa mais tarde me liga!
- Impressão minha ou você anda com vários papéis com seu telefone anotado? - Ri e guardei o papel no bolso da calça.
- Nunca se sabe quando vai precisar! - Ele sorriu, piscou e saiu pela porta da frente.
- Uau, que dia! - Sequei a testa e fui me sentar na recepção.
Me entreti com um livro que encontrei sob a mesa, a história falava sobre um casal que muito se amou e morreu num acidente de carro. O amor era tão imenso que suas almas se reencarnaram em outra vida e a missão deles, era se encontrarem.
Será que isso existia? Almas gêmeas? Não tenho certeza.
A porta da frente se abriu e dona Rosalina entrou. Me levantei e a ajudei a carregar a sacola de frutas que ela trazia consigo.
- Olá minha menina! - Ela parecia exausta - Como foi tudo por aqui?
- Parado! Onde quer que eu coloque isso? - Ergui as sacolas.
- Pode deixar em cima da recepção! - Dona Rosalina se sentou e após ter deixado as sacolas na recepção, levei um copo de água para ela - Obrigada!
Meu celular vibrou e eu o retirei do bolso. Era Luíza.

" Olá amiga, posso contar com você nessa noite de comemoração né? "

Pensei em fazer uma brincadeira e responder que não iria, mais como conheço minha amiga, ela deve estar uma pilha de nervos, se eu disser algo dessa forma, é capaz dela morrer, ou pior me matar.
Então resolvi apenas confirmar.

" Claro! Conte comigo! "

- Namorado? - Dona Rosalina olhava e sorria para mim.
- Hã? - Guardei o celular no bolso.
- Tudo bem se estiver trocando mensagens com seu namorado! Já fui nova como você e sei bem como os hormônios ficam a flor da pele.
- Não! Eu não tenho namorado! - Respondi meio envergonhada - É a minha melhor amiga que vai se casar e vamos sair para comemorar! 
- Que maravilha! Dê meus parabéns a ela! - Dona Rosalina se levantou e caminhou até a recepção onde estava as sacolas e começou a averiguar tudo que havia comprado.
- Ah, antes que eu me esqueça.. - Me aproximei dela - Henrique passou por aqui procurando pela senhora.
Dona Rosalina percorreu o curto e prévio espaço entre nós com a velocidade da luz e segurou meu queixo com a intenção de olhar em meus olhos.
- O que ele falou para você? DIGA! - Ela estava exaltada.
- Nada! Só me pediu que lhe avisasse que ele veio atrás da senhora!
- Ah.. Claro! - Ela disse me soltando - Obrigada pelo recado querida!
- Não há de que! - Esfreguei o queixo onde ela havia segurado.
- Porque não aproveita que estamos sem movimento e vai se divertir com sua amiga? - Dona Rosalina falava mais parecia estar com a mente longe.
- Mais ainda são 12h00!  - Olhei para o grande relógio que ficava acima da recepção.
- Melinda, hoje é sexta! Você realmente acha que alguém deixaria de sair para vir na biblioteca?
Levantei ambas as mãos e sorria.
- Sei que você viria! - Ela riu - Mais nesse momento sua amiga precisa mais de você, do que esta biblioteca. Eu também vou para casa!
- Se precisar de mim basta me ligar que venho correndo! - Anotei meu telefone num pedaço de papel e entreguei a ela. Não pude deixar de lembrar de Henrique me dando o número dele.
- Prometo que ligo! Agora vai!
Peguei minhas coisas e fui para casa, se bem conheço a Luíza, a nossa noite será longa.

Um Amanhecer (Livro I - TRILOGIA FASES DO DIA)Onde histórias criam vida. Descubra agora