Capitulo 22

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Depois de voltar da cozinha com um copo de água com açúcar, para que eu me acalmasse, Henrique sentou do meu lado e olhando em meus olhos contou algo que me arrepiou a espinha.
- Essa caminhonete.. - Ele começou -.. Pertence ao meu pai! Ele deixou que eu a dirigisse até que comprasse o meu carro, mais eu me apeguei a caminhonete. Mesmo ela sendo parte de um crime!
- Como assim? - Eu tomei a água e deixei o copo de lado.
- Foi com essa caminhonete que meu pai assassinou o seu! - Notei que aquilo era muito doloroso para Henrique. Foi então que ele começou com uma crise de choro e eu o abracei.
- Melinda, eu sinto muito pelo seu pai! Se houvesse algo que eu pudesse fazer para trazer ele de volta, eu faria! - Henrique chegava a soluçar e tremia muito.
- Calma, fica calmo! Não foi culpa sua!! - Deitei e o puxei para perto de mim e fiquei abraçada com ele, até que adormeceu.
O estado que Henrique ficou, me preocupou muito. O modo que ele falou me deixava arrepiada, mais ao mesmo tempo, me dava pena dele.
A chuva começou a cair lá fora e ouví-la bater no teto e na janela, me acalmaram e embalaram-me até que também adormeci. Não consegui dormir por muito tempo, acordei com o estrondo de um trovão e um vento que entrava pela janela aberta, sacudindo minhas cortinas violentamente. Me levantei com cuidado, para não acordar Henrique, e fui até a janela com a intenção de fechá-la, mesmo tendo a certeza de que estava fechada quando adormeci. Bom, devo ter me enganado. Tendo fechado a janela isolei o som da chuva do lado de fora, e então percebi uma respiração rouca vindo de trás de mim, junto com gotas de água pingando no chão. Paralisei e de canto de olho vi uma lanterna próximo a cabeceira da cama. Respirei fundo, contei até 3 mentalmente e rapidamente me estiquei para pegar a lanterna e iluminei a porta. Não havia ninguém. Entretanto ao iluminar o chão, vi uma poça d'água e marcas de sapato, prova de que o que ouvi era real e se tratava de alguém. Com a lanterna em uma das mãos, peguei uma tesoura com a outra e fui ver quem tinha entrado na minha casa.
Estava no meio das escadas, quando ouvi uma apunhalada e alguém engasgando, voltei correndo para o quarto e vi Enzo parado ao lado da minha cama, todo ensanguentado. Ele ria e olhava Henrique morrer, atacado com uma facada bem na garganta.
Gritei e desci as escadas correndo, tentei abrir a porta da frente, mas estava trancada.
- Melindaaaaa! - Enzo descia as escadas com a faca nas mãos.
- Me deixa em paz! - Joguei a tesoura nele e o acertou de raspão no rosto, fazendo um corte.
- Sua vagabunda! - Ele gritou ao sentir o sangue escorrer em seu rosto. E então veio para cima de mim.
Me desviei e corri para os fundos da casa, havia um pequeno quarto, onde guardavamos a compra do mês, me escondi ali, segurando a maçaneta por dentro.
- Eu vou te encontrar! - Ouvia os passos de Enzo se aproximando e tampei a boca com uma das mãos, para que ele não ouvisse minha respiração.
Um silêncio ecoou por toda casa, fui me afastando da porta, entrando cada vez mais fundo no quarto, quando tropecei em algo e cai no chão. Ao usar a lanterna para ver no que tinha tropeçado, vi os corpos de minha mãe e da pequena Ana, todo ensanguentado e muito machucados.
Gritei e sai desesperada do meu esconderijo, dando de cara com Enzo. Ele apenas sorriu e enfiou a faca em minha barriga.

Sentei suando na cama, aquele pesadelo foi muito real. Rapidamente olhei para Henrique, ele dormia tranquilo ao meu lado. Me levantei e fui ver minha mãe e Ana, e as duas também dormiam no quarto ao lado. Mesmo assim, não me dei por satisfeita e andei até as duas e somente quando vi seus peitos subindo e descendo, meu coração se acalmou e pude soltar a respiração aliviada.
Fui até a cozinha preparar algo para comer e passei levemente a mão na barriga.
- É filho, a mamãe anda muito assustada! - Disse e fui preparar um lanche.
Me sentei a mesa e comecei a comer, pensando que era preciso eu fazer algo com todos esses pesadelos e emoções fortes que tenho tido. Aquilo não era nada bom para o bebê.
- O que faz aí sozinha? - Henrique apareceu esfregando os olhos e assustada derrubei todo suco que tinha na jarra em minha frente.
- Que susto! Não faz isso! - Me levantei e fui pegar um pano para limpar a sujeira que fiz.
- Me desculpa! - Ele se aproximou e pegou o pano de minhas mãos, limpando o suco derramado - Eu apenas acordei e não te vi, fiquei preocupado!
- Eu tive um pesadelo e não consegui mais dormir, então desci pra comer algo! - Encostei na pia.
- Está se sentindo bem? - Ao terminar de limpar tudo, Henrique veio e me abraçou pela cintura.
- Estou, quer dizer, estamos! - Sorri e passei a mão na barriga.
Henrique sorriu de lado,  se ajoelhou e beijou minha barriga.
- Vocês são as pessoas mais importantes do mundo pra mim! - Ele disse e se colocou de pé, me virei de costas e ele me abraçou beijando meu pescoço.
Eu ri e olhei pela janela em minha frente, e tinha certeza que com a claridade de um trovão, pude ver Enzo parado na frente de minha casa, todo ensopado e rindo pra mim.
- Enzo? - Falei apertando os olhos para olhar direito.
- O que disse? - Henrique me perguntou.
- Acho que vi Enzo lá fora! - Apontei para onde o tinha visto e Henrique olhou.
- Não tem ninguém lá fora! - Ele pegou em meu rosto me fazendo olhar para ele - Meu amor, Enzo não pode mais machucar ninguém, ele está preso! - Henrique me abraçou - Você está gelada! Vem, vamos nos deitar.
E então Henrique me levou para o quarto e se deitou comigo, nos cobrindo.
Mas aquela imagem de Enzo do lado de fora de casa, não saia de minha mente.

Um Amanhecer (Livro I - TRILOGIA FASES DO DIA)Onde histórias criam vida. Descubra agora