Capitulo 32

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Acordei chacoalhando, amarrada dentro do porta mala de um carro. Pelo tanto que balançava, a velocidade estava acima de 100 kilometros por hora, e estávamos passando por uma estrada esburacada.
O que Enzo não contava, era que meu celular estava guardado dentro do bojo do vestido, e tendo o GPS ligado, logo me achariam. Só espero que eu esteja viva até que alguém apareça.
Fechei os olhos e me concentrei no meu filho que crescia no meu ventre. Ele ainda precisava nascer, ainda tinha muitas quedas de bicicleta para ele levar até aprender a se erguer e tentar de novo, ainda tinha muitas descobertas para ele descobrir, ainda tinha muito que viver. Não permitiria que a oportunidade de vida, lhe fosse tirada assim. Eu faria de tudo, sou capaz de qualquer coisa pelo meu filho, até mesmo de matar.
Senti uma freada brusca, alguns gritos e passos. Respirei fundo e então abriram o porta mala. Fui puxada pelo braço e arrastada até algum lugar próximo dali, me sentaram e então me amarraram na cadeira.
Ouvi mais passos e então um silêncio. Permaneci apenas atenta ao que acontecia ao meu redor, então ouvi alguém gemer, parecia estar sentindo muita dor. E foi nesse momento que um pânico tomou conta de mim, quem mais eles tinham sequestrado? Minha mãe? Luiza? Henrique? Não! Não! Eu não suportaria perder nenhum deles.
Alguém estava vindo, parou próximo a mim e então tirou o saco da minha cabeça. Era Enzo, ele me olhava e ria. Sentado em outra cadeira na minha frente, estava um homem, ele estava bem vestido e também encapuzado.
- Calma! - Enzo disse ao ver meu olhar desesperado sobre o homem na minha frente - Não é seu namoradinho!
Respirei aliviada, mais ainda fiquei apreensiva. Quem era aquele homem?
- Antes de começarmos nosso joguinho, uma pergunta! - Enzo caminhou até uma mesa que havia ao lado e pegou um bisturi e ficou observando - Por que não me ama Melinda?
Fiquei olhando para ele, com medo do que ele poderia fazer dependendo de minha resposta.
- Ah, claro! - Ele veio até mim - Como é que você vai me responder com a boca tampada não é? - E de uma vez puxou a fita adesiva que estava em minha boca.
Fiz uma careta e Enzo parecia se divertir com cada sofrimento que ele me causava.
Olhei ao redor tentando imaginar que ligar era aquele.
- Estou esperando sua resposta! - Enzo voltou a mesa e ficou olhando diversos aparelhos cirúrgicos que tinha.
Percebi que precisava o distrair e ganhar tempo até que alguém chegasse, se é que alguém viria atrás de mim. Deus queira que sim.
- Me perdoe Enzo! - Falei numa voz chorosa, conseguindo fazer com que ele olhasse pra mim - Eu tive vergonha de me declarar!
- Não estou entendendo! - Ele então se aproximou e puxou uma cadeira se sentando perto de mim.
- A verdade é que eu sempre te amei e ainda amo! - Baixei a cabeça e deixei uma lágrima escorrer. Alguns anos no curso de teatro me ajudaram muito naquele momento - Aquele dia da comemoração do casamento da Luiza, eu estava gostando! Mais fingi estar odiando pra te incentivar a continuar!
- Está mentindo! - Enzo levantou e chutou a cadeira.
- Não! Eu sei o quanto você gosta de se sentir dominador, atacando uma submissa assustada! Apenas entrei na brincadeira - E o olhando nos olhos mordi levemente a boca.
Eu sabia o que ele queria ouvir, e que tipo de garota nojenta eu teria que fingir ser para ele vir me soltar e me deixar ir embora.
- Então porque você está com aquele idiota do Henrique? - Enzo se aproximou de mim mais uma vez.
- Para te fazer ciumes, eu fui uma boba! Me perdoa! - Ouvi uns barulhos vindo do lado de fora e comecei uma crise de choro alto para disfarçar.
- Tá, tá..  Só me poupa desse chororo todo! - Ele colocou ambas as mãos nos ouvidos!
Não demorou muito para que Henrique estourasse a porta acompanhado de vários policiais, quando ele me viu sua expressão foi de dor, mas ao olhar para Enzo logo sua expressão se transformou em ódio.
Enzo por sua vez, tirou um bisturi do bolso da calça e se colocou atrás de mim, posicionando o bisturi próximo ao meu pescoço.
- Mais um passo e ela morre! - Ele ameaçou.
- Quer mesmo que eu acredite nisso? - Henrique continuou se aproximando mesmo com os policiais parados e de arma em punho lhe pedir para obedecer às ordens de Enzo.
- Você quer que eu a mate? Parado aí! - Enzo tremia, demonstrando seu nervosismo.
- Mata! - Henrique falou e eu o olhei confusa, e então vi um atirador de sniper se posicionando no alto do galpão que estávamos, Henrique só precisava de tempo - Você não tem essa coragem, você a ama e não a machucaria!
Enzo sorriu e tirou o bisturi do meu pescoço, caminhou até o homem que estava sentado na minha frente e tirou o saco da cabeça, revelando Fernando desacordado e muito machucado.
- Então vamos colocar essa decisão nas mãos da Melinda!  - Ele olhou para mim rindo, aquele riso irônico que me deu vontade de socar sua cara se eu pudesse - Ou você morre ou ele! E aí, quem você escolhe? Será a salvadora, dando sua vida no lugar do seu chefe..  Ou..  A assassina que o condena a uma morte rápida?
Meu coração pulsava rápido, a qualquer momento ele poderia simplesmente parar. Lágrimas brotavam dos meus olhos e eu os fechei. Não iria responder aquela pergunta e não estava disposta a ver o que aconteceria.
- Um atirador de sniper?  Sério? - Eu ouvia Enzo rindo - Vocês acham mesmo que eu ficaria aqui sozinho? Há amigos meus armados escondidos em todos os cantos, aliás lugar errado para se esconder meu amigo.
Abri os olhos a tempo de ver um homem rasgar a garganta do sniper que se escondia próximo ao teto do galpão. Gritei por instinto e Enzo se virou para mim.
- Quantas mais pessoas vão ter que morrer, até que se decida? - Ele perguntou e eu o encarei furiosa.
- Só você! - Alguém falou e um tiro ecoou alto. Enzo foi atingido bem na testa e caiu morto na minha frente. Rapidamente Henrique veio me soltar, enquanto os policiais soltavam Fernando.
- Mais os amigos de Enzo....!? - Comecei a falar.
- Ele não tem nenhum amigo! - Henrique falou e eu o olhei - Ele foi pago para matar Fernando por um rival dele.. Enzo nunca foi o chefão! Ele era o empregado! E aquele cara - Henrique apontava para o homem que havia matado o sniper e que agora estava algemado sendo levado para a viatura - Estava aqui apenas para ver se o trabalho seria executado!
Não pude conter as lágrimas e abracei Henrique, permitindo que seus braços fossem meu porto seguro.
- Mais quem matou Enzo? - Falei ainda abraçada a ele.
- Uma pessoa que queria se vingar! - Henrique falou e então vi a pessoa se aproximar e fiquei boquiaberta.
- Você?

Um Amanhecer (Livro I - TRILOGIA FASES DO DIA)Onde histórias criam vida. Descubra agora